A adolescência é uma construção cultural do século XIX. Antigamente as crianças eram vistas e tratadas como adultos em miniatura, não lhes sendo dada a atenção a que hoje em dia estão sujeitos. A vida era dividida em etapas que correspondiam a actividades e funções, não havendo uma diferenciação entre a infância e a adolescência.
A partir do século XVIII surge essa diferenciação, embora ainda houvesse alguma confusão entre os conceitos. No século XIX descobre-se a infância e no século XX define-se e privilegia-se a adolescência, que passa a ter novos valores e definições. No século XX, a adolescência vai-se expandindo e vai empurrando a infância para trás e o início da idade adulta e da maturidade, para a frente. É difícil determinar com exactidão a sua idade de início e a idade de término, no entanto, actualmente aponta-se para um espaço de tempo entre aproximadamente os 10 e os 25 anos. Pois é, parece que a adolescência começa realmente cada vez mais cedo e acaba cada vez mais tarde. O desenvolvimento fisiológico dá-se mais cedo com o aparecimento dos primeiros sinais pubertários mas o desenvolvimento cerebral e a sua maturação, dá-se bastante mais tarde, apenas por volta dos 24 anos. Assim, e com as devidas diferenças interpessoais, os jovens de hoje em dia, são adolescentes durante mais tempo.
Se anteriormente a adolescência era maioritariamente vivida num contexto familiar tradicional (mãe, pai e irmãos), hoje em dia a pluralidade de tipos de famílias e as relações que se estabelecem com os diferentes constituintes dessas mesmas famílias (padrasto, madrasta, irmãos só de um lado, de ambos os lados ou até mesmo irmãos emprestados), exerce também grande influência na vivência da adolescência. Os jovens de hoje, não vivem confinados a um contexto familiar típico mas sim a uma multiplicidade de contextos, lares e relações. Os adolescentes vivem o momento intensamente e o seu futuro, de acordo com os diversos paradigmas da sociedade actual, é cada vez mais incerto. A ideia de uma relação para a vida, de uma profissão para a vida ou de um emprego para a vida, cai cada vez mais em desuso e há a necessidade de uma adaptação constante à vida.
À semelhança do conceito de adolescência, de família ou até mesmo de sociedade, o conceito de comunicação também sofreu grandes alterações, principalmente com o advento da Internet. A linguagem é uma especificidade biológica da espécie humana que foi transformada pelo aparecimento das tecnologias e pela emergência de uma nova cultura tecnossocial. Os adolescentes de hoje, nativo-digitais, têm uma facilidade de se adaptarem e de desenvolverem competências de utilização de todo o tipo de tecnologias (computadores, tablets, smartphones e os seus jogos, aplicações, programas…) de um modo com que os adultos não conseguem competir. Essa desenvoltura e facilidade com que lidam com a tecnologia e a Internet pode por vezes colocar em causa a autoridade parental. Por um lado porque sentem que dominam esse mundo muito melhor do que os mais velhos, por outro lado porque as tentações e a curiosidade que esses meios suscitam, podem tornar mais difícil o controlo parental e o estabelecimento de limites e regras.
Os números dizem que na sociedade ocidental, 100% dos jovens até aos 24 anos são utilizadores regulares da Internet, sendo que destes, muitos são utilizadores abusivos e alguns são utilizadores dependentes. Tanto os utilizadores abusivos como os dependentes deverão ser alvo de intervenção. Os primeiros, no sentido de aprenderem a controlar a utilização da Internet e conseguirem prevenir a dependência, os últimos, no sentido de tratarem a dependência e reestabelecerem algumas relações e actividades que já foram perdidas. A intolerância e os sinais de abstinência são os sintomas mais significativos nos casos de dependência da utilização da Internet. Por vezes, os jovens dependentes sofrem em comorbilidade, de perturbações de ansiedade e/ou depressão.
Se a utilização abusiva da Internet favorece a relação conflitual entre pais e filhos, esta conflitualidade também promove a fuga para as tecnologias. Outro factor que pode influenciar de forma negativa a utilização abusiva ou a dependência da Internet é a dificuldade de autorregulação emocional. Ter a capacidade de identificar, compreender e regular as emoções, é por vezes difícil e muitos adolescentes têm fortes dificuldades nesse campo, não tendo a capacidade de utilizar outro tipo de estratégias mais adaptativas. Muitos jovens face a acontecimentos de vida significativos negativos (insucesso escolar, separação dos pais, morte de um familiar próximo…), podem ter a tendência em se refugiarem na Internet e em tudo aquilo que ela lhes permite. Então e o que fazer? O mundo mudou, as pessoas também, a forma de comunicar nem se fala, e como podemos prevenir que um adolescente chegue a um extremo de dependência?
Parece ser consensual que o estilo parental utilizado pode ter uma grande influência no comportamento da criança/adolescente. Se um estilo disciplinador muito autoritário e castrador pode comprometer a comunicação entre pais e filhos, com enormes repercussões ao nível emocional, um estilo demasiado permissivo ou negligente também não faz um melhor trabalho. Um bom desenvolvimento juvenil advém principalmente de uma parentalidade construtiva. Disciplinar sem autoritarismo, com monitorização mas sem controlo excessivo e com um envolvimento afectivo caloroso entre pais e filhos, são factores protectores e promotores de um desenvolvimento infantojuvenil harmonioso.
Os pais, por norma, não fazem melhor pelos seus filhos porque não sabem ou não podem. Os filhos, por sua vez, muitas vezes desafiam e têm comportamentos desadequados porque ainda não aprenderam a fazer de outra maneira, de uma maneira mais adaptativa. Mas tudo se pode aprender e sempre se pode melhorar. Tanto as crianças podem aprender e desenvolver capacidades de autorregulação, de comunicação assertiva e a desenvolver estratégias comportamentais eficazes, como os pais, podem aprender a entender os filhos, as mudanças e as novas formas de comunicação. Podem treinar competências parentais e aprender e treinar algumas estratégias para melhor comunicarem com os filhos, seja qual for a idade e fase de desenvolvimento em que estes se encontrem.
Se se revê em algumas destas dificuldades, não receie e procure ajuda. Note que a prevenção e a intervenção precoce são sempre preferíveis a estratégias remediativas.
Sugestão:
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