Saber envelhecer e aprender a envelhecer

VelhiceO processo de envelhecimento e a heterogeneidade da velhice constituem-se como um dos temas mais desafiadores da Psicologia enquanto ciência do comportamento e dos fenómenos mentais, particularmente após a segunda metade do século XX, principalmente devido ao envelhecimento da população no mundo ocidental.

Costuma-se dizer que temos duas opções na vida: envelhecer ou morrer. De um modo geral, o envelhecimento não é visto com bons olhos. As rugas, os cabelos brancos, as falhas de memória, as limitações físicas, enfim, características do processo de envelhecimento que de um modo geral  não são desejadas e nem sempre são bem aceites pelos indivíduos. No entanto, a melhor opção parece ser mesmo envelhecer, até porque, em circunstâncias normais, não podemos escolher morrer. E se assim é, nada como fazê-lo da melhor forma. O processo de envelhecimento pode ser um feliz processo de independência, integração e auto-desenvolvimento. Se virmos bem, é apenas mais uma fase num percurso de vida, que por vezes nem começa da melhor maneira mas que pode ter na velhice um período de paz, harmonia e bem-estar.

VelhiceQuantos de nós experienciámos uma infância difícil por motivos sociais ou de saúde, por exemplo, ou uma adolescência marcada por uma perda significativa, conturbada, rebelde ou algo perdida e que fez dessa fase da vida, um momento de sofrimento e dor? O facto de se ser jovem não é sinónimo de se ser feliz assim como o facto de estarmos a envelhecer não ter que ser uma tragédia. Envelhecer corresponde a mais uma fase no percurso de vida, que pode ser vivida de uma forma agradável, tranquila e em que podemos por vezes desenvolver competências e fazer aprendizagens, apenas por satisfação pessoal, sem o peso da obrigação. As inúmeras actividades que deixámos de realizar por falta de tempo ou de oportunidade ao longo da idade adulta, podemos finalmente numa fase mais adiantada da vida, escolher concretizá-las. Podemos aprender coisas novas só porque sim e porque nos dá prazer. Ao fazê-lo conhecemos mais pessoas, fazemos mais amigos e temos mais companhia. Podemos aproveitar a disponibilidade de tempo de uma fase mais tardia da vida para fomentar as nossas relações sociais e assim diminuir o isolamento e a solidão que tanto afecta alguns idosos.

RnvelhecerE podemos ensinar. Tudo aquilo que intencionalmente ou não a vida nos ensinou, chega a uma certa altura em que podemos passar essas aprendizagens e experiências a outros, que possam beneficiar desses conhecimentos. E lá está, também assim podemos alargar a nossa rede. Podemos envelhecer, colaborando com os mais novos e dando um apoio muito eficaz e que serve a dois propósitos: ocupar o tempo que os mais velhos podem ter a mais e poupar o tempo que os mais novos geralmente têm a menos. É claro que há situações em que os mais velhos podem ter dificuldades a vários níveis e que não é muito o que podem fazer para terem uma velhice mais feliz. No entanto, se conseguirem adoptar uma visão positivista, uma visão de copo meio cheio, podem sempre focar-se naquilo que ainda são capazes de fazer e naquilo que ainda podem dar de si mesmos, ao invés de se focarem nas capacidades perdidas e entrarem numa espiral descendente de angustia e tristeza.

EnvelhecimentoParece-me importante referir a importância da liberdade. Para um envelhecimento feliz e activo é também necessário que sejam respeitados os tempos e ritmos de cada um. Todos nós somos diferentes, temos as nossas características muito particulares, que com o envelhecimento por vezes se acentuam. Tentar andar a um ritmo muito diferente daquele que é o nosso ritmo, assumir responsabilidades que nos sobrecarreguem e que se tornem focos de ansiedade, permitir que a nosso apoio se torne numa obrigação, a qual nos limita e faz sofrer, não é de todo aconselhável. A velhice é uma fase da vida que deve ser vivida com tranquilidade e com respeito. Assim, se por um lado mantermo-nos activos é fundamental para sermos saudáveis, por outro lado, o merecido descanso também deve ser respeitado. Como em tudo na vida, deverá ser encontrado um equilíbrio entre as nossas exigências fisiológicas e emocionais e as nossas exigências sociais ou familiares. Os mais velhos devem ter a liberdade de escolher o que fazer, como fazer e quando fazer, obviamente sempre que estejam em condições cognitivas e físicas para o fazerem, no sentido de preservarem a sua independência e verem respeitados os seus direitos fundamentais.

VelhicePor uma questão de personalidade, nem todas as pessoas conseguem aceitar o envelhecimento da mesma maneira. Se algumas pessoas têm até orgulho em exibir as suas rugas e os seus cabelos cinzentos, outras há que entram numa luta desenfreada para os esconderem,  numa tentativa de prolongar a sua juventude e atrasar os sinais da velhice. Para muitas pessoas o processo de envelhecimento é muito doloroso, necessitando de apoio psicológico, no sentido da aceitação de uma inevitabilidade comum a todos. Do mesmo modo, se para umas pessoas é fácil tomarem a decisão de ocuparem o seu tempo a aprender piano ou a ter aulas de jardinagem, para outras, a tomada de decisão sobre o que fazer com o seu tempo, torna-se tarefa muito difícil. Também essas pessoas podem beneficiar de acompanhamento psicológico, com vista a estruturarem o seu dia-a-dia de uma forma adequada e satisfatória de modo a prevenirem por exemplo, problemas depressivos ou demenciais decorrentes do possível isolamento e inactividade cognitiva.

EnvelhecerNo processo de envelhecimento, nomeadamente na situação pós-reforma, em que as mudanças podem ser a vários níveis (ex. desempenho, saúde, funcionalidade, rotinas, relacionamentos, emoções…), e o seu impacto pode ser muito significativo no bem-estar do indivíduo, a intervenção psicológica deve abranger todas as áreas do funcionamento da pessoa. Na sua relação terapêutica com o psicólogo, o indivíduo pode encontrar um tempo e um espaço para colocar suas dúvidas, anseios ou angústias, sentindo-se acolhido, aceite e respeitado na sua dignidade. Através da intervenção psicológica, o sujeito pode modificar crenças e comportamentos de modo a torná-los mais adaptativos. Pode ainda aprender e treinar estratégias para lidar com os sinais e sintomas mais perturbadores do processo de envelhecimento, aumentando a sua funcionalidade e a sua satisfação com a vida. Pretende-se que com a intervenção psicológica o indivíduo caminhe na direcção da autoaceitação, aumento da autoestima, promoção da autonomia e da resolução de problemas que possam ter impacto negativo na sua vivência.

 

 

O acompanhamento psicológico durante o processo de envelhecimento  deve ser entendido como a possibilidade de aquisição de ferramentas que irão contribuir para a promoção do bem-estar, saúde e qualidade de vida do indivíduo!

 

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