A vinculação humana

Vinculação humanaA vinculação humana pode ser entendida como uma ligação emocional recíproca e duradoura entre o bebé e a figura parental, em que cada um contribui para a qualidade da relação. É uma relação diádica na qual o nível de participação da criança vai aumentando gradualmente  embora a importância da figura parental não diminua no que diz respeito à reciprocidade desta díade.

John Bowlby, psicanalista britânico, defendeu inicialmente a ideia de que a teoria da vinculação consistia principalmente numa estratégia de sobrevivência para a protecção do bebé com origem em processos evolutivos para a promoção reprodutiva. Posteriormente distingue 4 estádios do desenvolvimento da vinculação durante o primeiro ano de vida. Antes dos 2 meses o bebé responde indiscriminadamente a qualquer pessoa e interage involuntariamente. Entre os 2 e os 3 meses o bebé sorri e foca-se na mãe mais do que nas outras pessoas. Entre os 6 e os 7 meses o bebé revela uma vinculação à mãe bem definida (locomoção e linguagem)e começa a recear os estranhos. Depois dos 8 meses, o bebé desenvolve uma relação reciproca com uma ou mais figuras e começa a inferir sobre os objectivos do outro.

Vinculação humana

Mary Ainsworth, discípula de John Bowlby, veio a dedicar-se a este tema tendo desenvolvido ela própria uma técnica de avaliação dos padrões de vinculação em bebés com cerca de 12 meses e geralmente, a mãe–  situação estranha – que consiste numa sequência de situações de reunião e separação da criança à figura de  vinculação e em que da observação do comportamento das crianças se podem distinguir 3 tipos/grupos de vinculação. Estes tipos são o grupo A, inseguro-evitante ou ansioso-evitante, caracterizado por comportamentos de evitamento em relação à figura de vinculação, o grupo B, seguro, o grupo mais comum, no qual se podem distinguir 4 sub-grupos ou padrões de comportamento, sendo os grupos B1 e B2 caracterizados por uma interacção mais distante com a figura de vinculação e os grupos B3 e B4 por uma procura activa de contacto e proximidade por parte do bebé. O grupo C, inseguro-ambivalente ou ansioso–resistente divide-se ainda em C1 cujas crianças revelam irritação na procura de contacto e C2 caracterizado pela passividade.

Vinculação humana

Devido ao facto de haver ainda bebés cujos comportamentos não se enquadravam em nenhum dos grupos referidos, foi ainda criado o grupo D, desorganizado-desorientado onde se incluem crianças com comportamentos contraditórios, movimentos assimétricos e expressões de confusão e apreensão em relação à figura parental, revelando incapacidade de manter uma estratégia de vinculação coerente.

As características atribuídas a cada grupo não são apenas exclusivas das crianças sendo que também as mães revelam um padrão comportamental específico, isto é, as mães de crianças pertencentes ao grupo de vinculação segura mostram tendencialmente maior sensibilidade e disponibilidade tanto emocional como física para responder às necessidades dos seus bebés enquanto as mães das crianças evitantes mostram normalmente menor envolvimento afectivo, menor disponibilidade, rejeição e até aversão à criança. Por sua vez as mães das crianças ansiosas revelam frequentemente dificuldade em captar os sinais e as necessidades do bebé, apresentam comportamentos inconscientes e imprevisíveis, irritação e tratamento desajeitado do bebé.

Vinculação humanaA qualidade da relação de vinculação depende não apenas das características parentais mas também do contexto familiar, do apoio social, da qualidade da relação do casal e de stressores ambientais, entre outros. Assim sendo, a vinculação passa a ser vista como um modelo ecológico baseando-se no pressuposto de que a parentalidade e a relação criança-figura de vinculação são multideterminadas e o desenvolvimento da insegurança poderá resultar da acumulação de várias vulnerabilidades.

São vários os estudos que demonstram que a qualidade de vinculação precoce pode ter implicações na vida futura da criança, sendo que a vinculação segura aumenta a probabilidade da criança vir a desenvolver relações de maior qualidade com a figura parental e com os seus pares, desenvolver características como a autonomia em relação às suas figuras de vinculação, desenvolver um autoconceito positivo, maior tolerância a situações de stresse, persistência e entusiasmo na resolução de problemas, melhores competências emocionais e de compreensão da linguagem e menor probabilidade de desenvolver problemas de comportamento durante a infância. Estas vantagens estendem-se pela adolescência pois tornar-se-ão jovens com maior facilidade em estabelecer relações de amizade e de funcionar em grupo comparativamente a jovens anteriormente classificados como evitantes ou resistentes e têm tendencialmente melhor saúde emocional e auto-estima.

Vinculação humanaPara Bowlby, os modelos internos dinâmicos tendem para a continuidade ao longo das gerações. O modo como a mãe recorda as suas relações de vinculação com as suas figuras parentais pode predizer a qualidade da relação que irá estabelecer com o seu filho, ou seja, uma mãe com uma vinculação segura à sua própria mãe pode reconhecer com maior precisão os comportamentos de vinculação do bebé, responder de forma estimulante e ajudar o bebé a estabelecer uma vinculação segura a si.  Contudo, esta concordância não é absoluta. A replicação do modelo de vinculação de geração para geração poderia também dever-se à hereditariedade mas diversos estudos efectuados nesse sentido concluem que a influência genética é pequena sendo maior a influência do contexto, isto é, das características ambientais partilhadas, podendo deste modo inferir-se que a qualidade da relação conjugal e familiar assim como o ambiente emocional, contribuem fortemente para a transmissão do padrão de vinculação entre gerações.

 

Fontes:

Soares, I., Martins, S. (2007). Vinculação na infância. In I. Soares (Ed.), Relações de vinculação ao longo do desenvolvimento: Teoria e avaliação (pp. 47-98). Braga, Portugal: Psiquilibrios.

Papalia, D. E., Olds, S. W. & Feldman, R. D., (2001). O mundo da criança Lisboa: McGrow Hill

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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