Perturbações mentais comuns: o perigo da banalização

Ansiedade

Quando falamos de Perturbações Mentais Comuns referimo-nos a duas categorias principais de diagnóstico: as perturbações de Ansiedade e as perturbações Depressivas. Designá-las como comuns prende-se com o facto de serem as perturbações do foro mental com maior expressividade na população em geral. A sua elevada prevalência apresenta um grande impacto no funcionamento dos indivíduos por elas afetados, sendo que a gravidade e duração dos sintomas é variável, indo de ligeiros a graves e de se manterem por meses ou anos, podendo em muitos casos atingir a cronicidade.

Quer as perturbações depressivas, quer as perturbações de ansiedade representam condições de saúde diagnosticáveis e diferenciam-se dos sentimentos de tristeza, tensão ou medo que qualquer pessoa pode experimentar de forma normativa, algumas vezes ao longo da vida. Destes dois tipos de perturbação, a depressão parece ser por muitos a mais temida e incapacitante ao nível da funcionalidade do indivíduo, estimando-se uma prevalência de mais de 4% ao nível da população mundial e de cerca de 8% na população portuguesa em 2014. No entanto, as perturbações de ansiedade apresentam uma maior prevalência a nível nacional (cerca de 17% em 2014). Voltando às perturbações depressivas, embora estas possam afetar indivíduos de todas as faixas etárias e de vários níveis socioeconómicos, a pobreza, o isolamento, o desemprego, uma situação de doença física, uma separação ou a morte de um ente querido, são exemplos de fatores de risco para a depressão.

AnsiedadeNa depressão, as taxas de prevalência variam de acordo com a idade e género, atingindo o seu pico na idade adulta mais avançada (acima de 7,5% nas mulheres entre os 55 e os 74 anos e acima de 5,5% nos homens da mesma faixa etária). Esta perturbação caracteriza-se essencialmente por sentimentos de tristeza, perda do interesse ou prazer por atividades anteriormente satisfatórias, sentimentos de culpa e de inferioridade, baixa autoestima, perturbações do sono ou do apetite, fadiga e dificuldades ao nível da concentração e da memória. Em casos de maior gravidade a depressão pode conduzir a ideação suicida ou mesmo ao suicídio. A depressão também pode afetar as crianças e os adolescentes mas habitualmente é menos frequente do que nos grupos etários mais velhos e apresenta-se de forma distinta, como por exemplo através de alterações do comportamento, dificuldades de sono, problemas alimentares ou défice de atenção e concentração.

Saúde pública

No nosso país, o registo de doentes com perturbações mentais nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) mostra um padrão invariável para as várias perturbações estudadas mas com tendência para aumentar a sua proporção. A facilidade de acesso aos cuidados de saúde não especializados a par com a maior necessidade de procura de ajuda para problemas relacionados principalmente com ansiedade e depressão, podem ajudar a justificar essa tendência. As perturbações mentais ocupam hoje em dia um lugar de amplo destaque, principalmente pelo contributo dos anos vividos com incapacidade, que demonstram claramente o seu estatuto de doenças crónicas e a sobrecarga que lhes está associada. Os dados presentes no relatório da Direção Geral de Saúde (2014) complementam e corroboram os números da prevalência das doenças mentais em Portugal e justificam de forma evidente a necessidade de tornar a Saúde Mental numa prioridade absoluta do ponto de vista da melhoria e da eficácia da prestação de cuidados e da prossecução da implementação do Plano Nacional de Saúde Mental.

Ansiedade e depressão

O assunto é sério, mas parece haver por parte de quem governa a saúde pública uma  banalização deste tipo de perturbações, justificada pelo estilo de vida das sociedades modernas, o  que aponta para a ineficácia dos serviços públicos de saúde. A contratação de Psicólogos para o Serviço Nacional de Saúde, seria o primeiro passo para um trabalho de prevenção deste tipo de patologias, mas as promessas são muitas e o processo é lento ou inexistente… A saúde mental continua a ser o “parente pobre” para o qual é destinada apenas uma pequena fatia do orçamento destinado à saúde em geral. A prevenção não é feita e as estratégias de remediação dos problemas e de complemento ao tratamento  farmacológico são quase inexistentes e inacessíveis à maior parte da população, por falta de meios técnicos e de recursos humanos. O impacto da doença mental, quer pelo absentismo no trabalho por baixas psiquiátricas, quer a nível orçamental, por exemplo pela comparticipação de medicamentos, é grande, mas parece não ser grande o suficiente para que se tomem medidas mais musculadas, com vista ao bem-estar dos indivíduos, ao aumento da sua produtividade e à saúde do “bolso” do país.

Fonte:

https://www.dgs.pt/estatisticas-de-saude/estatisticas-de-saude/publicacoes/portugal-saude-mental-em-numeros-2014-pdf.aspx

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