Muitas vezes os comportamentos das crianças conseguem deixar os pais muito zangados, à beira do desespero e com muita raiva. Perceber o que se está a sentir e porquê, é extremamente importante para o que se vai seguir: conseguir manter a calma e evitar o conflito ou entrar numa escalada de argumentos, gritos ou até de violência física. O que podem então os pais fazer para se controlarem perante os comportamentos desesperantes dos seus filhos?
A raiva é uma emoção normal que o indivíduo pode experimentar em várias situações e com diversos determinantes. Enquanto pais, a raiva pode ser sentida perante uma birra, uma teimosia, a desobediência, etc. Por vezes não é preciso que a situação seja muito grave para que a zanga se comece a apoderar de nós, que a raiva comece a crescer. Por vezes sentimo-nos como um balão que enche, enche, enche… até que rebenta e lá sai um grito ou uma reação mais violenta, que depois nos vai fazer sentir realmente mal. Confrontados com alguns comportamentos das nossas crianças, começamos a sentir rubor na face, calor, os batimentos cardíacos mais acelerados e lá estamos nós prontos a explodir. É a expressão física da raiva. Este sentimento pode também expressar-se pela forma como pensamos na situação ou no comportamento da nossa criança, que nos está a fazer “sair do sério” mas também tem uma expressão comportamental que se refere à forma como agimos quando estamos com raiva.
Não é raro que os pais tenham dificuldade em lidarem com certos comportamentos dos filhos por estarem cansados da rotina do dia-a-dia ou por se sentirem frustrados por um dia de trabalho menos produtivo. O seu humor fica alterado e a forma como vão interpretar o comportamento da criança pode ser afetada pelo mal-estar que estão a sentir devido a causas que ultrapassam a sua relação coma criança. É muito importante que consiga distinguir o sentimento de raiva, de outros sentimentos como por exemplo o cansaço ou a frustração. Identificar o que realmente está a sentir, aos primeiros sinais, irá permitir-lhe que se acalme e que consiga pensar de uma forma mais racional acerca de determinada situação. Ao acalmar-se estará a ganhar tempo para pensar como responder à situação de uma forma mais adaptativa.
Uma das estratégias para ajudar os pais a acalmarem-se perante os comportamentos difíceis dos seus filhos, como no caso de uma birra, é sair da situação. Se esta não compromete a integridade da criança ou de terceiros e se a sua segurança está salvaguardada, então saia de perto e ignore. Isso pode ser o suficiente para que a criança sinta que o seu comportamento não está a resultar e simplesmente pare. Por outro lado, ao afastar-se da situação o seu sentimento de raiva tende a diminuir e conseguirá lidar melhor com a situação sem se descontrolar. Ao começar a sentir a expressão física da raiva pode também contar até 10 antes de agir, lavar o rosto com água fria ou então optar por fazer uma respiração controlada e pausada. Deste modo irá relaxar e evitar uma escalada de emoções que não o irão ajudar a resolver a questão. Se puder, em situações que não requeiram uma intervenção e um acompanhamento mais imediato, tente falar com alguém acerca do problema que lhe põe os “nervos em franja”. Expresse o que sente e partilhe as suas angustias, irá perceber que não está sozinho mas também que há várias maneiras de se lidar com uma mesma dificuldade.
A importância de se conseguir acalmar antes de agir é enorme e pode ter um efeito realmente adaptativo. A diferença entre agir em estado de raiva e agir em estado de calma é gigante. Ao parar para se acalmar estará a ganhar tempo para pensar na melhor maneira de responder ao problema, ao passo que se agir “a quente” poderá não o fazer de uma forma razoável. Esta é a grande diferença entre reação e resposta. Reage-se num impulso e essa nossa reação pode ter consequências muito negativas, por outro lado, responder implica reflexão, distanciamento e tendencialmente conduz a resultados mais adequados.
Perante uma situação em que sente a raiva a crescer dentro de si reconheça o que a está a causar. Descreva para si mesmo o que aconteceu, explique a si próprio o problema e pense sobre o que exatamente lhe provocou esse sentimento. Por outro lado tente empatizar com os sentimentos da criança, isto é, tente colocar-se no lugar dela e entender que ela também está a ter sentimentos fortes causados pela situação em questão. Tente falar sobre o que está a acontecer, entender os motivos do comportamento da criança e explicar-lhe como esse comportamento o faz sentir. Expresse o que sente usando a primeira pessoa (ex. “Eu estou a sentir-me muito zangado porque…”) e centre-se na situação e não na criança pois o que lhe desagrada é o que ela fez e não o que ela é. Deixe isso bem claro. Por vezes interpretamos as coisas de forma errada. Dê oportunidade a que a criança se explique e saiba ouvir com respeito, sem julgamento e se possível tente não impor a sua maneira de pensar. Concentre-se apenas no momento presente e evite comentários como “És sempre a mesma coisa, só fazes asneiras…”.
Controlar a raiva ajuda na tomada de decisões mas também é bom para a saúde física. A exposição sistemática a elevados níveis de stresse causado por zangas e sentimentos de raiva, pode levar a consequências ao nível dos problemas cardíacos ou gastrointestinais, além de poder também conduzir a comportamentos de grande violência, quer para o próprio, quer para com os outros. E afinal será que as crianças têm comportamentos difíceis só para nos irritarem e desafiarem ou será porque realmente muitas das vezes, não aprenderam ainda qual a maneira correta de se comportarem?