Perturbações alimentares na infância

Alimentação das criançasNa primeira infância, as perturbações alimentares são situações clínicas relativamente comuns. No entanto, este tipo de problemas provoca aos pais e cuidadores uma grande preocupação, ao mesmo tempo que dificultam a sua relação com a criança.

As perturbações alimentares da primeira infância podem ser identificadas num contínuo, que vai desde as ligeiras flutuações do apetite devidas a causas menos relevantes, como por exemplo a reação à entrada para a cresce ou o nascimento de um irmão, até situações graves de recusa alimentar que podem colocar em risco a própria vida da criança. A estas perturbações alimentares pode estar associado o aparecimento de outros comportamentos fora do comum. Segundo do Manual de Diagnóstico das Perturbações Mentais (DSM-5), as perturbações alimentares definem-se como situações em que se observa uma alteração na ingestão de alimentos, quer em termos quantitativos, quer em termos qualitativos. São exemplos a ruminação ou mericismo (regurgitação repetida de alimentos), a pica (ingestão persistente de substâncias não alimentares), e a perturbação alimentar da primeira infância, que corresponde a uma falha persistente de ingestão adequada de alimentos, com acentuada falta de aumento ou mesmo perda de peso, sem causa orgânica conhecida e com a duração de mais de um mês.

Perturbações do comportamento alimentarO processo de diversificação alimentar que implica lidar com alimentos de texturas, sabores e consistências muito diferentes, requer uma adaptação aos paladares e um esforço de mastigação, que em algumas crianças poderá favorecer a ocorrência deste tipo de perturbação. Por outro lado, o desenvolvimento psicossocial da criança que implica a obtenção gradual de autonomia, com a respetiva vontade de decidir o que quer comer e quando o quer fazer, deve também ser levado em consideração. À medida que o bebé cresce, a mudança, mais ou menos brusca, de uma alimentação baseada num único alimento (leite materno ou de substituição) para uma alimentação mais diversificada, ocorre numa fase de desenvolvimento rápido. Essa mudança é habitualmente bem-sucedida, no entanto, constitui uma grande preocupação para algumas mães.

Perturbações alimentaresA transição do aleitamento para uma alimentação variada depende de fatores como as decisões da mãe, a preferência inata da criança por determinados sabores ou texturas e a predisposição da criança para associar o paladar dos alimentos ao ambiente socio-afetivo em que ela os experimenta. Tendencialmente, as crianças comem o que gostam, o que lhes sabe bem e rejeitam o que não apreciam. Deste modo, as suas preferências são de extrema importância para aquilo que vai ser o seu comportamento alimentar. As preferências das crianças são em parte aprendidas através das experiências repetidas com alguns alimentos, por associação e por condicionamento ao contexto socio-emocional e às consequências fisiológicas da ingestão dos mesmos.

Perturbação alimentar

Ao experimentar um alimento pela primeira vez, a criança tende a rejeitar por ser diferente mas habitualmente essa questão é ultrapassada, após a criança voltar a experimentar por várias vezes (8 a 10 vezes) o mesmo alimento. Há que não desistir à primeira e tentar mudar a forma como apresenta cada alimento à sua criança. O contexto socio-emocional é de extrema importância para a adesão da criança aos alimentos. Quando um alimento é apresentado à criança numa situação eu que a sua interação com o adulto é positiva, a probabilidade de ela o aceitar é maior. Pelo contrário, se a criança experimenta um alimento numa situação de stresse, a tendência é de o rejeitar. As crianças mais pequenas também aprendem a gostar de determinados alimentos, por observação do comportamento de outras crianças e também assim, diversificam a sua alimentação.

Perturbação alimentarA família tem um papel fundamental nos hábitos alimentares das crianças. As refeições em família constituem um contexto que oferece à criança a oportunidade de se alimentar com os pais, irmãos e outros familiares, que servem como modelos mas também os reforçam, elogiam e encorajam a experimentar alimentos novos. Uma boa interação familiar ajuda no processo de mudança alimentar da criança pequena. Muitas vezes os pais tendem a utilizar determinados alimentos (ex. doces) como recompensa, e por outro lado têm também a tendência de coagir a criança a ingerir outros alimentos de que esta parece não gostar. Nestas situações, as crianças aprendem a gostar menos dos alimentos consumidos por coação, mesmo quando existe uma recompensa, resultando numa resposta de oposição, podendo a criança passar até a detestar o dito alimento. Tanto a recompensa quanto a coação são estratégias utilizadas pelos pais como formas de alimentação instrumental. Esta característica instrumental dada aos alimentos, como por exemplo, “tens que comer a sopa para poderes comer a sobremesa”, é uma estratégia que pode influenciar sistematicamente no desenvolvimento de preferências alimentares e o próprio comportamento alimentar infantil.

Perturbação alimentarOs pais e cuidadores, com as suas estratégias alimentares, podem influenciar o desenvolvimento da perceção de fome e de saciedade na criança. Se os pais oferecem alimentos sem necessidade nutricional, a criança pode desenvolver uma alimentação desapropriada. Quando a criança diz que já não quer comer mais e os pais insistem, a mensagem que passa para a criança é que a sua sensação interna de saciedade não é relevante para a quantidade de comida que precisa de comer. Pais que pressionam externamente o comportamento alimentar da criança podem impedir o desenvolvimento de um autocontrolo adequado, podendo levar a que a criança venha a depender da sugestão externa para iniciar, manter e acabar a sua refeição.

Alimentação infantilO conhecimento dos pais acerca da nutrição, a sua influência na seleção dos alimentos e na estruturação das refeições e as suas próprias práticas alimentares da família, influenciam o desenvolvimento de hábitos de vida mais ou menos saudáveis na criança. Algumas regras podem contribuir para o desenvolvimento e manutenção de boas práticas alimentares. Incentivar os pais a manterem um tom emocional neutro durante as refeições e que estas ocorram em horários regulares e locais apropriados, pode ser um primeiro passo para que tudo corra bem. Ao mesmo tempo, limitar a duração das refeições a cerca de 25 a 30 minutos, limitar a ingestão de líquidos e responder aos sinais de fome e saciedade da criança não a forçando a comer, pode ser também uma boa ajuda.

FamíliaOs sintomas ligeiros de perturbação alimentar na criança não são preocupantes e podem resolver-se apenas com psicoeducação parental. Tranquilizá-los acerca da saúde da criança, falar nas variações próprias do desenvolvimento, incentivá-los a resolver os problemas em conjunto e explorar as suas preocupações, pode ser suficiente. Os casos de perturbação moderada exigem um tratamento específico e um acompanhamento e observações frequentes da criança. Sugerir aos pais aprática dos bons hábitos alimentares anteriormente descritos, pode ser uma boa ajuda. No entanto, a incapacidade de implementar essas sugestões pode ser indicador de disfunção familiar ou de psicopatologia, tornando-se necessária a orientação para um psicólogo. Nos casos mais graves, quando interferem claramente com a saúde da criança, com o funcionamento familiar e há sinais de a criança não estar a conseguir manter um ritmo de crescimento normal, o caso é de maior alarme. Se ocorreu perda de peso ou a família manifesta um grande mal-estar ou conflito tendo como causa a recusa alimentar total da criança, as grandes batalhas às refeições ou uma grande restrição de alimentos, será necessária a intervenção conjunta de uma equipa multidisciplinar, constituída por pedopsiquiatra, psicólogo e técnico de serviço social, em articulação com outros técnicos de saúde como o enfermeiro e o nutricionista.

Fique atento aos sinais, se sentir que não está a conseguir lidar com a situação, peça ajuda à sua Psicóloga!

Sugestão:

 http://repositorio.chporto.pt/bitstream/10400.16/659/1/Problemas%20alimentares.pdf

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