Em psicologia, uma crise corresponde a um período de desequilíbrio psicológico, resultante da vivência de um acontecimento, que obriga a um grau de exigência para lidar com ele, superior àquele com o qual o indivíduo consegue responder, resultando na diminuição do seu funcionamento adaptativo.
O desequilíbrio psicológico e as reações ao stresse podem ser resultado das mais variadas situações ou acontecimentos, altamente exigentes. O evento traumático poderá ser decorrente de uma catástrofe natural, um acidente de viação, uma doença, uma agressão, uma perda pessoal ou social, enfim, um sem número de situações que se podem constituir como traumas, consoante o grau em que afetam o equilíbrio psicológico do indivíduo. O acontecimento traumático pode ocorrer diretamente com a pessoa ou pode ter o seu impacto através do relato de outra pessoa ou da visualização, por exemplo, de uma notícia nos meios de comunicação social. Por outro lado, o mesmo evento poderá afetar de forma diferente, pessoas diferentes embora todas elas envolvidas na mesma situação. Cada indivíduo possui um conjunto de recursos, internos e externos, que lhes permitem de forma individualizada, lidarem com as situações com maior ou menor grau de adequação e equilíbrio.
Parece haver um padrão de comportamento, biológica e psicologicamente determinado, de respostas sociais, identificado em indivíduos expostos direta ou indiretamente a acontecimentos de vida de alto risco. Esse padrão comportamental de resposta designa-se por reação aguda ao stresse. Esta reação inclui manifestações cognitivas, emocionais, físicas e comportamentais. As manifestações cognitivas podem abranger a negação, as dificuldades de atenção e concentração, os problemas de memória, os sentimentos de confusão, preocupação, os pensamentos intrusivos, a reduzida autoeficácia e a dificuldade nas tomadas de decisão. As manifestações emocionais podem ser caracterizadas por sentimentos de ansiedade, depressão, medo, culpa, raiva, desespero, vulnerabilidade ou até de embotamento afetivo. No que diz respeito às manifestações físicas, estas incluem a aceleração dos batimentos cardíacos, alterações da tensão arterial, falta de ar, fadiga, dificuldades de sono, dores de cabeça, dores abdominais, alterações do apetite, entre outras. Em termos de manifestações comportamentais, estas podem englobar a fuga, o seu oposto, ou seja, o enfrentamento por luta, a imobilização, a obediência, o abandono, a agitação, etc.

A reação aguda ao stresse deve ser normalizada, isto é, é importante que o indivíduo seja ajudado a tomar consciência de que aquilo que pensa, sente ou faz perante o evento traumático é normativo e por vezes adaptativo. No entanto, é igualmente importante que o indivíduo tenha a possibilidade de beneficiar de uma intervenção psicológica adequada no sentido de evitar que a situação evolua para a psicopatologia, ou seja, para uma Perturbação Stresse Pós-Traumático (PSPT).

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V), os critérios de diagnóstico para a avaliação desta perturbação incluem situações em que o indivíduo tenha sido exposto a um acontecimento traumático, quer por experiencia própria, quer por observação ou confronto com o mesmo. Este acontecimento poderá envolver ameaça de morte, morte real, ferimento grave ou ameaça à integridade física do próprio ou de outros. Também a resposta do indivíduo terá que ser de medo intenso, horror ou de sentimentos de falta de ajuda.

Nos quadros de PSPT o evento traumático é experienciado de modo persistente através de lembranças recorrentes, intrusivas e perturbadoras (pensamentos, imagens ou perceções), pesadelos recorrentes acerca do acontecimento, comportamentos do indivíduo como se o evento traumático estivesse a ocorrer no momento (ilusões ou alucinações), mal-estar psicológico intenso com a exposição a estímulos internos, que simbolizem ou se assemelhem a aspetos do evento traumático e/ou reatividade fisiológica, quando exposto a pistas internas ou externas. Os critérios de diagnóstico incluem ainda o evitamento persistente dos estímulos associados com o trauma e embotamento da reatividade geral.

Podem ainda estar presentes sintomas como esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas com o trauma, esforços para evitar atividades, lugares ou pessoas que desencadeiem lembranças acerca do trauma, incapacidade para recordar aspetos importantes relacionados com o trauma, interesse fortemente diminuído na participação em atividades significativas, sentimentos de “desligamento”, estranheza em relação aos outros, gama de afetos diminuída e/ou expectativas encurtadas em relação ao futuro. São também comuns as dificuldades de sono (adormecer e manter o sono), a irritabilidade ou acessos de cólera, dificuldades de atenção e concentração, hipervigilância e/ou resposta de alarme exagerada.

Deste modo, é extremamente importante a monitorização das reações iniciais de stresse, no sentido de prevenir a sua evolução agravamento para síndrome com significado clínico. Deverá ser avaliada a intensidade, frequência e duração das reações do indivíduo, que em condições normais, ou seja, perante um bom padrão de adaptação, estas reações aos stresse diminuem com o passar do tempo. No entanto existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento de psicopatologia, como é o caso de doença mental pré-existente, género feminino, algumas características de personalidade, fraco apoio social ou um processo de luto complicado. Constituem-se ainda como fatores de risco a falta de previsibilidade e do controlo do acontecimento, exposição a traumas de destruição massiva e exposição à contaminação toxica, por exemplo. Após o evento traumático, são considerados fatores de risco também o baixo nível de suporte socio-emocional ou a falta de informação acerca da natureza do evento.

A intervenção psicológica com indivíduos com PSPT deverá incluir, entre outras técnicas, o desenvolvimento e exploração dos fatores protetores. Assim, é muito importante estimular o indivíduo a retomar a atividade habitual do quotidiano, a manter uma atitude ativa face às consequências do acontecimento traumático e manter os contactos sociais e familiares. É também necessário orientar o indivíduo na obtenção de informação fidedigna acerca do problema, assim como de trabalhar as questões relacionadas com autoestima, autoeficácia, segurança, aceitação e esperança.