
Parece haver evidência científica de que o suicídio na adolescência tem vindo a aumentar nos últimos anos, sendo esta a segunda causa de morte entre os jovens nos países ocidentais a seguir aos acidentes rodoviários. Quer o acto suicida, quer a ideação suicida, são sinais de psicopatologia grave e não devem ser desvalorizados.
Os pensamentos de morte constituem-se como um fator de risco para o suicídio, no entanto, nem sempre existe ideação suicida anterior ao acto de suicídio. O suicídio pode ocorrer num ato impulsivo sem que tenha havido um planeamento anterior. Por outro lado, os comportamentos de risco como por exemplo o conduzir embriagado, podem estar associados á ideação suicida. A dolorosa luta interna entre a vontade de morrer e o desejo de permanecer vivo causa um imenso sofrimento psicológico ao individuo, que num impulso poderá deitar tudo a perder. As tentativas de suicídio na adolescência têm maior prevalência em jovens entre os 14 e os 17 anos (Novick, Cibula & Sutphen, 2003) e os rapazes parecem ser os mais vulneráveis. Felizmente, em cada 10 a 20 tentativas de suicídio, apenas uma acaba em morte, no entanto, os danos que causam no jovem e na sua família, podem ser muito perturbadores.

O ato de procurar morrer é contra natura e antagónico ao instinto de sobrevivência que caracteriza o ser humano. A tentativa de suicídio espelha sem dúvida um grande sofrimento emocional e pode constituir-se como um pedido de ajuda. Porém, se consumada, a morte acontece antes que alguém tenha a oportunidade de perceber as dificuldades do jovem e o poder ajudar. O adolescente que tenta o suicídio como forma de chamar a atenção pode ser facilmente confundido com alguém com uma personalidade manipuladora mas isso pode não ser a realidade. O jovem pode ter vivido um acontecimento altamente perturbador ou pode apenas sentir-se só, desesperado e incompetente para lidar com os seus problemas, por diversas ordens de razão.

É extremamente importante a identificação dos fatores de risco para o suicídio entre os jovens. Assim, deverão ser avaliadas variáveis biológicas, genéticas, ambientais, sociais e culturais. Parece haver uma elevada prevalência de perturbações mentais entre os jovens que cometeram ou tentaram o suicídio, como por exemplo a depressão. Por outro lado, há uma associação entre o suporte social e a ideação suicida em jovens. A falta de apoio emocional ou instrumental e a falta de relações pessoais satisfatórias podem também constituir-se como fatores de risco para o suicídio. O consumo abusivo de substâncias psicoativas, como álcool ou drogas, pode potenciar comportamentos disruptivos, que podem levar ao suicídio. É de referir também uma componente genética, embora não específica. Adolescentes com história familiar de suicídio poderão estar mais vulneráveis ao mesmo comportamento. Existem outros fatores de risco familiares mas não genéticos e que têm a ver com a instabilidade familiar e com relações familiares caracterizadas pela agressividade, negligência ou abuso (físico ou sexual). O comportamento suicida pode ainda ser transmitido por modelagem, o que coloca o jovem em maior risco de o cometer. Por fim, o fator mais preditivo do suicídio é o facto de o adolescente já ter feito uma tentativa prévia ou de já ter feito auto lesões.

A impulsividade e a raiva são sentimentos frequentemente presentes nos casos do suicídio nos jovens. A imaturidade e a dificuldade típica de se autorregularem, a par da dificuldade de reflexão pode levar a um ato extremo, se associados a um ou mais dos fatores de risco anteriormente descritos. Algum tempo antes de tentar o suicídio, parece haver um aumento da angústia e tensão e, na maioria das vezes, o adolescente procura manifestar a intenção de se matar a alguém. É neste caso muito importante uma abordagem ao assunto de forma séria no sentido de compreender o jovem no seu todo e de o “conter” na expressão das suas emoções. O suicídio é ainda nos dias de hoje, para muitos, um tema tabu. Por essa razão, evita-se falar sobre o assunto pela angustia e desconforto que o mesmo causa. No entanto, a discussão do tema abertamente tenderá a “normalizar” o assunto e torna-lo um problema a ser resolvido e não camuflado ou escondido.