O luto normal

O luto é a reação emocional a uma perda e o processo de adaptação a essa perda implica algumas emoções, cognições e comportamentos comuns à maioria dos seres humanos. Sentimentos de tristeza, descrença no sucedido ou o isolamento social, são exemplos de reações padrão da pessoa enlutada.

São várias as emoções normativas presentes num processo de luto, sendo as mais comuns a tristeza, com ou sem manifestações de choro; a raiva, por não ter podido fazer nada para evitar a perda; a culpa, na maioria das vezes irracional por não ter conseguido evitar a morte do ente querido; a ansiedade por ter medo de não conseguir sobreviver sem a pessoa que morreu ou pela tomada de consciência da sua própria finitude ao confrontar-se com a “partida” de alguém próximo; a solidão e o desamparo, principalmente em casos de viuvez após uma relação muito duradoura e feliz; a fadiga, especialmente se o período antecedente à morte de uma pessoa foi física e emocionalmente muito exigente para o enlutado; o alívio ou libertação, por ver terminar um sofrimento muito doloroso de alguém significativo e a saudade, esse termo tão português e que significa sentir dolorosamente a falta de algo ou de alguém que se perdeu.

Em termos cognitivos, a confusão e a descrença encabeçam uma lista de pensamentos comuns aos enlutados. É frequente, perante a notícia da morte de alguém, principalmente se inesperada, a pessoa ter dificuldade em acreditar que tal aconteceu e sentir alguma confusão perante esse facto. Por outro lado, acontece também com frequência a pessoa em luto preocupar-se com o seu ente querido, como se ele estivesse vivo e demorar alguns instante até se consciencializar de que este já “partiu”. Os sonhos com a pessoa morta podem também ocorrer, inicialmente de forma mais intensa e frequente, tendendo com o tempo, a tornarem-se mais esparsos e difusos. Do mesmo modo, a sensação de presença ou até mesmo as alucinações, auditivas ou visuais, podem acontecer durante um processo normal de luto. São experiências ilusórias transitórias, que quase sempre ocorrem pouco tempo após a perda e que não significam necessariamente que o indivíduo vá desenvolver posteriormente um luto patológico.

Em termos comportamentais, o processo de luto “normal” apresenta características específicas e comuns na maioria dos indivíduos enlutados. As dificuldades de sono parecem ser frequentes e podem manifestar-se pela dificuldade em adormecer mas também em manter o sono ou acordar muito cedo. Os pesadelos podem também ocorrer nesta fase, podendo por vezes ser algo perturbadores. No entanto, estas perturbações tendem a desaparecer com o passar do tempo. Também o apetite pode sofrer alterações durante o processo de luto, principalmente numa fase inicial. Geralmente a falta de apetite parece ser o mais comum, porém, há casos em que a pessoa come excessivamente numa tentativa de se autorregular ou de compensar uma falta emocional. Também o isolamento social pode ser um comportamento adotado pelos enlutados, principalmente numa fase inicial do processo de luto mas tendencialmente de curta duração. Este isolamento pode incluir não só o afastamento de amigos ou familiares mas também um certo alheamento do mundo externo, deixando a pessoa enlutada, por exemplo, de assistir aos noticiários ou ler jornais, temporariamente.

O choro e os suspiros ou a agitação psicomotora, são comportamentos comuns às pessoas em luto. Todos estes comportamentos servem o propósito de expressar emoções mas também de autorregulação. Fazem também parte do processo normativo de lidar com a perda, a visita ou a recordação de locais ou objetos que lembram a pessoa que faleceu. Algumas pessoas optam pelo evitamento destes locais ou objetos sendo essa a estratégia utilizada para lidarem com a perda. No entanto, o descarte demasiado rápido de todos os objetos e lembranças associadas com o morto pode ser um sinal de que o luto poderá evoluir para um processo patológico.

Cada pessoa tem as suas particularidades e reage emocionalmente à sua maneira. Porém, há características comuns a um processo de luto “normativo” e que corresponde grosso modo às definições anteriores. Contudo, há que ficar atento aos sinais para que o luto não leve a patologias como as perturbações de ansiedade ou depressivas. Torna-se necessário intervir nos casos em que o luto se complica, no sentido de ajudar o enlutado a ultrapassar as suas dificuldades e a integrar de forma saudável, a irreversibilidade do acontecimento. A pessoa enlutada pode ter necessidade de ser ajudada a processar a perda, as suas causas, consequências e a nova realidade.

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