Métodos de investigação científica: entrevista semiestruturada e focus group

Diariamente o ser humano experimenta, observa e questiona factos do mundo real para encontrar soluções para problemas que surgem da sua constante interação com o meio e com os outros. O mesmo acontece no domínio da investigação científica, onde o experimentar, o observar e o questionar são contidos em paradigmas que orientam uma busca sistemática para um novo conhecimento ou problemática.

Em contexto de investigação científica, um paradigma pode ser definido por um conjunto de conceitos, valores, perceções e práticas, reconhecidas e partilhadas por uma comunidade científica, onde a representação da realidade é organizada a partir de um determinado pensamento (Kuhn, 1972; cit. in Pinto, B., 2004). Dentro de um paradigma, a teoria, os métodos e as técnicas assumem uma grande importância. Neste enquadramento a teoria pode fornecer regras capazes de explicar acontecimentos, os métodos serem vistos como conjuntos de operações que podem conduzir ao alcance dos objetivos e por fim as técnicas serem definidas como procedimentos operatórios rigorosos e bem explicados com um carácter transmissível e suscetível de aplicações, nas mesmas condições, adaptando-se ao tipo de problema e aos fenómenos em causa.

Numa perspetiva tradicional, tanto a Psicologia como todas as outras Ciências Sociais dirigiram o seu foco ao desenvolvimento de métodos quantitativos e padronizados. Assim, foi construído um plano de medição rigoroso, onde as causas e os efeitos podem ser nitidamente isolados, a operacionalização de relações teóricas ganha importância e o simples ato de medir e quantificar os fenómenos torna-se indispensável na investigação quantitativa (Flick, 2005). A interpretação de dados quantitativos é feita com a análise estatística, onde se estabelecem as relações de causa-efeito e a previsão dos seus fenómenos. O método quantitativo defende a generalização dos resultados a partir da amostra de uma população alvo, tendo como finalidade a formulação de leis gerais.Por outro lado, o paradigma qualitativo fundamenta-se na realidade e é importante para o estudo das relações sociais. Não se deve esquecer que a complexidade do contexto social onde o ser humano está inserido, é cada vez maior no que diz respeito às constantes mudanças do ambiente, dos estilos de vida e da evolução cultural. É neste contexto que a investigação qualitativa afirma a sua importância no estudo destes fenómenos através do seu caráter exploratório, expansionista, indutivo, descritivo e orientado para o processo e interesse de compreender a subjetividade do comportamento humano.

Neste contexto o investigador pode ser ele próprio um instrumento de recolha de dados (Carmo et.al.1998). O estudo e a compreensão de determinados fenómenos poderão ser feitos recorrendo a métodos quantitativos ou métodos qualitativos, de acordo com o que se pretende estudar. Vários autores defendem a utilidade do conceito de triangulação metodológica ou seja a combinação de ambos os métodos para o estudo dos mesmos fenómenos com o objetivo de tornar o plano de investigação mais firme e produzir resultados mais fiáveis e sem enviesamentos. Assim sendo, uma investigação científica com caráter quantitativo poderá ser complementada com diversas técnicas de natureza qualitativa como por exemplo a entrevista.

A entrevista faz parte dos métodos qualitativos e continua a ser uma boa técnica de recolha de informação. Segundo uma definição tradicional a entrevista é uma conversa com um objetivo, que ocorre entre duas ou mais pessoas. Ela pode funcionar como um instrumento complementar de pesquisa ou pode ser um instrumento principal na análise e compreensão do comportamento humano e dos processos cognitivos subjacentes. De entre as principais vantagens da entrevista aponta-se para a flexibilidade que permite ao entrevistador acomodar as particularidades do seu entrevistado, possibilita a extração de diversos dados e a clarificação de ideias. Como principais limitações destaca-se a forma lenta de recolher dados e a dificuldade de quantificação dos mesmos.

Segundo a tipologia da condução da entrevista distinguem-se três tipos: a estruturada, a semiestruturada e a não estruturada, todas elas com características diferenciadas. Optando por um dos 3 tipos de entrevista, a semiestruturada apresenta como vantagem o facto de não exigir uma ordem rígida na colocação das questões, ao mesmo tempo que permite um maior grau de flexibilidade na exploração da informação pertinente. A utilização de um guião de entrevista auxiliará a orientação do entrevistador durante a recolha de dados

As entrevistas coletivas são uma outra modalidade de recolha de dados de natureza qualitativa recorrendo à técnica focus group, onde a discussão de um determinado tema é dirigido a um grupo de pessoas. Esta abordagem tem como objetivo a criação de um contexto favorável onde cada participante possa expor a sua opinião ou discutir a opinião dos outros acerca de um tema que é definido pelo entrevistador/moderador. A interação em focus group permite abordar o tema de várias formas, tenta explorar a compreensão subjetiva de cada participante num curto espaço de tempo e visa obter informação com carater individual, social ou familiar acerca de sistemas de representação, de valores ou normas veiculadas por um individuo. Entre as maiores vantagens deste tipo de entrevista estão a poupança de recursos como tempo, dinheiro e a possibilidade de aumentar a amostra, caso seja necessário até se atingir a saturação de dados. Como limitações podem-se apontar a dificuldade em reunir os participantes num só local e à mesma hora, ter em conta que a recolha de dados não é feita num ambiente natural e o entrevistador ter que possuir uma sólida formação na condução da entrevista. Não sendo possível conhecer se a interação em grupo mostra ou não a atitude individual de cada sujeito, poderá levar a um maior grau de dificuldade na análise dos dados que deverá ser realizada em função do contexto.

Fontes:

Carmo, H., & Ferreira, M. (1998). Metodologia da investigação. Guia para autoaprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta.

Flick, U. (2005). Métodos qualitativos na Investigação Científica. Lisboa Ed. Monitor.

Pinto, B. E. (2004). A pesquisa qualitativa em psicologia clínica. Psicologia. USP, São Paulo, p.71-80.

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