
A perturbação disfórica pré-menstrual, habitualmente conhecida como síndrome pré-menstrual ou até depressão pré-menstrual (DPM), é um problema que afeta um número significativo de mulheres em idade fértil e que pode ter um impacto muito significativo na sua funcionalidade e no seu bem-estar.
A perturbação disfórica pré-menstrual manifesta-se na maioria dos ciclos menstruais, com alguns sintomas que ocorrem na semana final antes do início da menstruação, começando a melhorar poucos dias depois do início da menstruação e tornando-se mínimos ou ausentes na semana pós-menstrual. Esses sintomas podem incluir instabilidade emocional, mudanças súbitas de humor, irritabilidade ou raiva que podem potenciar conflitos relacionais, sentimentos de desesperança, ansiedade, tensão muscular, diminuição do interesse por atividades habituais, dificuldades de atenção ou concentração, falta de energia, cansaço, dificuldades de sono, alterações do apetite (ex. avidez por um alimento específico ou, pelo contrário, náuseas) ou ainda dificuldades de autorregulação e de autocontrolo. Os sintomas podem também ser físicos, como dor ou inchaço dos seios, dores articulares, inchaço abdominal ou aumento do peso.

Para que possa ser diagnosticada uma perturbação disfórica pré-menstrual, a mulher tem que ter apresentado pelo menos 5 destes sintomas na maioria dos ciclos menstruais do ano precedente, e, os mesmos estarem diretamente associados a um sofrimento clinicamente significativo ou interferirem na sua atividade diária, como por exemplo o trabalho ou a escola, bem como com as suas relações sociais. O isolamento e a diminuição da produtividade ou do desempenho, são habitualmente critérios de diagnóstico desta perturbação, sempre que não estejam associados a outra patologia pré-existente (ex. depressão ou ansiedade). A intensidade e/ou expressividade dos sintomas pode estar intimamente relacionada com características do grupo social e cultural da mulher afetada, com perspetivas familiares ou com fatores mais específicos, como crenças religiosas, tolerância social e questões de papel do género feminino.

Em geral, os sintomas atingem seu auge perto do momento do início da menstruação. Embora seja comum persistirem até aos primeiros dias da menstruação, a mulher deve apresentar um período livre de sintomas na fase folicular após iniciar o período menstrual. Os sintomas, tanto os relacionados com o humor como os fisiológicos, são de gravidade (mas não duração) comparável à de outras perturbações do foro psicológico, como o episódio depressivo major ou a perturbação de ansiedade generalizada. Para a confirmação de um diagnóstico provisório de perturbação disfórica pré-menstrual, é necessária a avaliação prospetiva diária dos sintomas por pelo menos dois ciclos sintomáticos.

Estima-se que esta perturbação tenha uma prevalência entre os 2 e os 6% aproximadamente, sendo maior o número de mulheres que apresentam todos os sintomas descritos mas que conseguem manter a sua funcionalidade, do que aquelas cujos sintomas satisfazem os critérios atuais com prejuízo funcional e sem a concomitância de sintomas de outra perturbação mental. O início da perturbação disfórica pré-menstrual pode ocorrer a qualquer momento após a menarca. A incidência de casos novos durante um período de acompanhamento de 40 meses é de cerca de 2,5%. Há relatos de que muitas mulheres, quando se aproximam da menopausa, referem uma pioria dos sintomas. No entanto, por regra estes sintomas terminam após a menopausa, podendo contudo a reposição hormonal cíclica, desencadear nova manifestação dos mesmos.

No que diz respeito aos fatores de risco que podem predispor a esta perturbação, podemos referir o stresse, a existência de história de trauma interpessoal, as mudanças sazonais ou até mesmo aspetos socioculturais do comportamento sexual feminino em geral e o papel do género feminino em particular. De referir inda fatores genéticos como a hereditariedade. Parece haver também evidência de que o uso de contracetivos orais pode diminuir a incidência desta perturbação comparativamente às mulheres que não os utilizam. Também a cultura pode ter uma “palavra a dizer” no que se refere a esta perturbação. Parece haver evidência de que a frequência, a intensidade e a expressividade dos sintomas assim como os padrões para a busca de ajuda, podem ser significativamente influenciados por fatores culturais, ainda que tenham sido observados casos desta perturbação tanto em mulheres nos Estados Unidos, como na Europa, na índia ou na Ásia.

Fonte: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – Quinta Edição (DSM-V). American Psychiatric Association.