Perda, luto e emoções

O luto é a reação emocional a uma perda. Quando essa perda se refere a um ente querido toma particularidades que se prendem com as características individuais do enlutado, do contexto em que aconteceu o óbito, do tipo de relação entre ambos, da fase da vida em que cada um se encontra e de mais um conjunto de fatores específicos que podem ser facilitadores ou não do decorrer do processo de luto.

O luto corresponde a um período particularmente difícil, com uma exigência elevada do ponto de vista emocional. É um período de transição onde se operam mudanças nas nossas rotinas mas também nas nossas expectativas. Cada um de nós, passa por cada processo de luto de forma única, manifestando a sua dor de diferente forma, intensidade e duração. Com o passar do tempo e por vezes com acompanhamento psicológico adequado no sentido de ajudar a compreender as diferentes fases deste processo, a pessoa enlutada poderá retomar as suas atividades, elaborar novas rotinas, desenvolvendo uma maior capacidade de adaptação á nova realidade de forma a conviver de forma saudável com as suas lembranças.

O processo de luto compreende um turbilhão de emoções, das quais a tristeza é a mais comum. Manifesta-se frequentemente pelo choro, a par de uma sensação de que nada jamais poderá devolver o sorriso ou a alegria. Também a raiva é um sentimento frequente nos enlutados. Uma sensação de frustração e injustiça, aliadas á necessidade de querer encontrar um responsável pela morte, podem desencadear um sentimento de revolta contra o mundo, contra Deus ou contra si mesmo. Outro sentimento frequente em quem atravessa um processo de luto é a saudade, expressa pelo desejo de que o ente querido volte ou de querer também morrer para o reencontrar. Este sentimento de saudade, oscila por vezes entre uma forma dolorosa e intensa e uma recordação mais leve e doce.

O sentimento de culpa ou responsabilização pode também ocorrer quando se vive uma fase de luto. Pode aparecer como um sentimento de não se ter sido suficientemente bom ou eficaz ou de desejar ter feito algo diferente, ou mesmo de pensar que podia ter evitado a morte do ente querido.  A ansiedade é também muito comum nestes processos. Pode manifestar-se através de uma sensação de insegurança, de que algo de mau vai acontecer, de sentir medo ou de culpa, por exemplo, por algo que se fez ou disse. Por vezes a ansiedade expressa-se pela irritabilidade, inquietação, dificuldades de sono, alteração dos batimentos cardíacos ou tensão muscular.

Choque e entorpecimento são bastante comuns numa fase inicial do luto. Por um lado, o choque corresponde à sensação de ficar paralisado, como se o tempo parasse. Ocorre mais frequentemente em casos em que a morte é inesperada. Por outro lado, o torpor refere-se a não sentir nada, ou sentir um vazio. A ausência de sentimentos, numa fase precoce do processo de luto também pode ser normal. No luto também é possível ter sentimentos positivos de tranquilidade. Pode ocorrer um sentimento de alívio, principalmente em casos de grande sofrimento físico ou emocional por parte do ente querido, sendo muito importante que esses sentimentos não sejam julgados. Por fim, o sentimento de solidão é também bastante comum. Sentir-se só, ainda que rodeado de outras pessoas ou mesmo desejar ficar isolado por um tempo, pode ser normal.

Cada pessoa tem seu tempo e sua forma de lidar com o luto. Sempre que o enlutado expressar os seus sentimentos, pensamentos ou preocupações, devemos procurar ouvir com atenção e sem julgamentos. Como se vê, o processo de luto encerra em si uma série de emoções distintas mas todas elas válidas. Falar sobre o assunto pode ajudar muito uma pessoa em sofrimento e se as emoções forem mais fortes e se manifestarem, como por exemplo o grito ou o choro, devemos procurar acolher e permitir que a pessoa se expresse e partilhe a sua dor, no sentido de se poder aliviar. Mais do que recear não saber o que dizer devemos estar disponíveis para ouvir, conter e mostrar que estamos ali para ajudar a lidar com um momento particularmente difícil e fazer com que a pessoa em luto se sinta apoiada, segura e acompanhada, evitando fazer comparações e respeitando o silêncio, se essa for a sua opção. Em caos em que o processo de luto assume contornos mais graves pode mesmo tornar-se patológico e necessitar não só de intervenção psicológica mas também de acompanhamento psiquiátrico.

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