
O estabelecimento regras e limites e o cumprimento dos mesmos, é fundamental para um bom desenvolvimento infantil, uma vez que facilita a aquisição de competências relacionais. Respeitar limites, ensina a criança a compreender a importância das regras sociais e potencia a sua autorregulação, promovendo o seu adequado relacionamento com os vários elementos dos contextos em que a criança está inserida.
São os adultos, na sua relação com as crianças, que lhes ensinam o que são e quais são, os limites de cada interação. Através da observação e imitação dos comportamentos dos adultos, as crianças aprendem com as reações e respostas dos mesmos perante os seus comportamentos e atitudes. No exercício da parentalidade, os pais devem ensinar mais do que punir, ou seja, em vez de agredir, ameaçar ou castigar a criança perante um comportamento desadequado, os pais devem chamar a atenção para o que está errado, no momento certo e logo que possível ensinar qual seria o comportamento adequado para a aquela situação. Assim, a criança tem a oportunidade de compreender o que fez mal e de aprender como fazer de forma correta, ou seja, de acordo com o que é esperado pelas normas da convivência familiar, cultural ou social.

Impor limites nem sempre é fácil e conseguir que a criança os respeite pode revelar-se uma tarefa complicada, no entanto, há algumas estratégias que podem ajudar. Em família e de acordo com o que são as “regras da casa”, distribua tarefas adequadas à faixa etária em que a criança se encontra e às suas capacidades, deixando bem claro que todos os elementos da família têm tarefas a cumprir e que isto é de grande importância para o equilíbrio e o bom funcionamento das rotinas diárias. Sempre que a criança cumpra com a tarefa que lhe foi atribuída, elogie o seu trabalho. Se a criança não conseguiu cumprir de acordo com o que era esperado, volte a ensinar como fazer e elogie o seu esforço. Não deixe nunca de reforçar os esforços da criança para obter um determinado objetivo, ainda que ela não o consiga alcançar. Ao ver reconhecido o seu esforço, a criança tende a não desistir e a empenhar-se mais na próxima oportunidade, ao mesmo tempo que preserva a sua autoestima.

Estabelecer e fazer cumprir regras e limites exige explicar, negociar e ser tolerante. Sempre que pedir à sua criança para executar uma tarefa, deve explicar-lhe a importância da mesma. Se a criança não quiser fazer a tarefa no momento em que lha pede, pode negociar com ela um outro momento alternativo, ou dar-lhe um prazo razoável (ex. deixar que termine uma atividade, dar um prazo de tempo para que a criança cumpra o que lhe pede). Findo esse prazo ou atividade, verifique se a criança cumpriu. Se sim, elogie, mas se não cumpriu, explique-lhe que o seu comportamento não foi adequado e estabeleça uma regra como por exemplo, só poderá ir brincar depois de cumprir ou terminar a tarefa em causa. É claro que por vezes a criança pode reclamar, teimar, no fundo tentar quebra a regra, no entanto, se ela já tiver idade para poder pensar sobre a situação e as respetivas consequências, pode questioná-la sobre as mesmas. Deixar que a criança pense sobre o que vai acontecer se ela não cumprir com o que lhe está a ser pedido, pode ajuda-la a perceber quais as consequências mas também a perceber como vai lidar com elas, e assim decidir cumprir.

Quando as crianças ainda são pequenas (menos de 10 ou 12 anos), pode haver a necessidade de agir se a situação oferecer algum tipo de perigo. A criança pode não ter ainda a capacidade de avaliar as consequências dos seus atos e colocar-se numa situação de risco, pelo que o adulto deve agir de forma rápida, independentemente da opinião da criança. Por vezes, alguns pais optam por não estabelecer regras nem limites, receando que a criança os considere maus ou que pense que o fazem por não gostar dela. Porém, devem pensar sempre que é por meio de limites que lhes ensinamos os bons comportamentos, comportamentos estes que as tornam mias integradas, aceites e felizes, nos diversos contextos das suas vidas. Estabelecer limites não é agredir nem humilhar mas sim disciplinar, educando e ensinando às crianças como se comportar em sociedade. Alguns pais têm sentimentos de culpa quando tentam impor limites aos seus filhos. Um dos motivos é o facto de passarem pouco tempo com eles, o que leva a que sejam mais permissivos face às atitudes mais desadequadas das crianças. Nestes casos, os pais devem reservar um momento do dia ou da semana para conversar com a criança e perceber o motivo dos seus comportamentos, pois estes podem significar chamadas de atenção.

Na escola, é comum crianças imitarem comportamentos mais desajustados por receio de não serem integrados no grupo de pares ou nas suas brincadeiras. Contudo, estes comportamentos podem trazer-lhe mais prejuízo do que benefício. Assim, é importante explicar à criança que compreende que ela se comportou de determinada forma para agradar e ser aceite, mas mostre-lhe que há outras crianças ou outros grupos que a aceitam tal como é, estimulando-a a procurar outros colegas com comportamentos mais adequados. Mesmo que a criança se tenha portado mal, não deixe de a ouvir e de lhe mostrar caminhos alternativos. Por vezes, caímos na tentação de usar a “chantagem emocional” para fazer com que as nossas crianças cumpram com os comportamentos desejados. Isto pode fazer com elas fiquem tristes por nos fazerem sentir mal, ou frustradas por não podermos fazer o que elas querem, o que pode em alguns casos, desencadear sentimentos de raiva pelo adulto. A chantagem emocional não é uma regra nem um limite, é apenas uma forma de causar mal-entendidos, neste caso entre adulto e criança, devendo ao máximo ser evitada. Ao invés, procure explicar de forma clara e simples que está a estabelecer uma regra porque o seu cumprimento é muito importante.

A consistência é a chave para o sucesso no cumprimento de regras e limites. A criança tem que saber exatamente quais as consequências do seu incumprimento, e, estas devem sempre ser aplicadas de forma consistente e coerente. Se os comportamentos desadequados forem “punidos”, com o tempo a criança vai compreender que estes têm consequências, e irá pensar e avaliar as repercussões desses mesmos comportamentos. Se umas vezes houverem consequências e outras vezes não, a criança vai ficar na expectativa de poder não ter consequências, e tendencialmente os comportamentos desadequados vão-se repetir e o adulto perder credibilidade e autoridade. Outro ponto de extrema importância, é que o adulto deve deixar bem claro que o que está errado e do que não gosta é do comportamento e não da criança. O afeto nunca deverá ser posto em causa. O que está em causa é o comportamento em si e não o amor que tem pela criança.

As crianças, cada uma a seu ritmo, demoram tempo para aprender novos comportamentos. É fundamental que os adultos tenham muita paciência! Numa fase inicial pode ser bastante difícil e desafiador mas com o tempo, a relação tornar-se-á mais fácil e a criança irá sentir-se mais preparada para lidar com as regras e os limites. Seja firme nas suas decisões, sem deixar de dar atenção e amor à sua criança, compreendendo que com o tempo as suas atitudes irão mudar e o vosso relacionamento sairá beneficiado. É importante que a criança saiba que, se alguma coisa correr mal, terá sempre o apoio do adulto e que não será criticado pelas suas dificuldades. Isso vai promover a sua autoconfiança e segurança, fundamentais para um saudável desenvolvimento. Procure sempre lembrar-se que se a criança não corresponde àquilo que lhe é pedido, poderá ser porque ainda não possui os recursos necessários nem desenvolveu ainda as competências básicas para o conseguir, e isso deve ser respeitado.

Se para si, estabelecer e fazer cumprir regras e limites é tarefa desafiante e difícil, procure ajuda. A Sua Psicóloga poderá ajudar!