
Não há nada exterior a nenhum de nós que nos possa garantir ausência de sofrimento. Ainda que muitos possamos ter todas as coisas que tipicamente utilizamos para medir o sucesso externo (ex. boa aparência, pais carinhosos, filhos incríveis, estabilidade financeira, bons amigos, uma relação conjugal satisfatória, etc.) isso pode não ser suficiente para garantir o nosso bem-estar psicológico.
Os seres humanos podem usufruir de várias formas de conforto, entusiasmo e diversão, e mesmo assim experimentar grande sofrimento emocional. Os investigadores na área da psiquiatria e psicologia estão familiarizados com as sombrias estatísticas que confirmam uma dura realidade de indivíduos com enorme dor emocional, desespero e angustia. Estudos promovidos pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), por exemplo, revelam que as taxas de prevalência de perturbação mental ao longo da vida rondam atualmente os cerca de 50%.Muitas pessoas apresentem sofrimento emocional em consequência de problemas no trabalho, nos relacionamentos, na parentalidade e com as transições naturais do curso de vida, entre outros (Kessler et al., 2005).

Infelizmente, não são apenas os adultos que sofrem por perturbações na saúde mental, também as crianças e os adolescentes revelam cada vez mais dificuldades a esse nível. Os resultados de um estudo de Blanco et al. (2008) sugeriam que quase metade da população universitária cumpria critérios para pelo menos o diagnóstico de uma perturbação mental, de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística para as Perturbações Mentais. A investigação nesta área identifica com frequência inúmeras áreas-problema e reiteram a necessidade de mais especialistas em saúde mental, integrados nas equipas de cuidados de saúde primários e em contexto hospitalar. Por outro lado, há cada vez mais um esforço para derrubar o estigma associado as estas perturbações e o incentivo á procura de ajuda especializada.

Quem não esteve já, ou não conhece alguém que esteja ou tenha estado deprimido, ansioso, dependente de substâncias ou de outros comportamentos aditivos, ansioso, autodestrutivo, alienado, preocupado, compulsivo, inseguro, com dificuldades relacionais ou a atravessar processos de luto complexos? Enfim, das mais variadas formas, a saúde mental pode facilmente ser abalada, dando origem a um grande sofrimento psicológico, que por vezes se pode até confundir com uma característica da personalidade do indivíduo, e ser por isso normalizado e desvalorizado, arrastando e agudizando uma situação que pode levar a uma patologia mais grave e/ou crónica.

Nos últimos anos, também por consequência do largo período pandémico que vivenciamos a nível mundial, e das adaptações e alterações a que o referido período nos obrigou, parece estar a haver e bem, cada vez mais uma consciência de que a saúde mental é tão importante quanto a saúde física, até mesmo porque hoje se sabe que ambas se influenciam mutuamente. Cabe-nos a nós psicólogos, mas também a todos os outros profissionais de saúde, professores, políticos e até influenciadores, alertar para os perigos da banalização da doença mental, alertando para a monitorização dos sintomas (em nós próprios e nos outros), que possam dar o sinal de alarme para a procura de ajuda especializada, no sentido da avaliação e intervenção precoce.

Trate da sua saúde mental e veja aumentar o seu bem-estar, e a sua qualidade de vida!
Fontes:
Blanco, C., Okuda, M., Wright, C., Hasin, D. S., Grant, B. F., Liu, S. M., et al. (2008). Mental health of college students and their non-college-attending peers: Results from the National Epidemiologic Study on Alcohol and Related Conditions. Archives of General Psychiatry, 65, 1429–1437.
Kessler, R. C., Berglund, P., Demler, O., Merikangas, K. R., Walters, E. E., & Jin, R. B. (2005). Lifetime prevalence and age-of-onset distributions of DSM-IV disorders in the National Comorbidity Survey replication. Archives of General Psychiatry, 62, 593–602.