O Ricardo tem 13 anos e está em acompanhamento psicológico há cerca de 6 meses devido ás suas dificuldades relacionadas com um quadro de Ansiedade Generalizada, mas também por dificuldades na adaptação ao divórcio dos pais e ás consequentes alterações da sua rotina. Em consulta, o Ricardo refere não conseguir falar das suas preocupações, nem com o pai, nem com a mãe, por sentir que ambos estão instáveis e que não o iriam compreender. Por outro lado, deixa entender que não quer ser mais um problema para os pais e manifesta alguns sentimentos de culpa em relação á separação. Encontra no “espaço e no tempo” da consulta, o momento em que expressa as suas emoções, manifesta os seus medos mas também partilha as suas conquistas escolares e do vólei, que começou a praticar recentemente. Na última consulta em que esteve com a psicóloga verbalizou “com a Dra. eu estou á vontade…posso contar tudo e até dizer alguns disparates, porque a senhora é a Minha Psicóloga”. É tão bom ouvir destas coisas…
O apoio social ou suporte social integram o ambiente social e as pessoas que fazem parte da rede social real do indivíduo. O apoio social pode ser entendido como objetivo ou subjetivo, ou seja, apoio recebido e apoio percebido.
O apoio subjetivo ou percebido traduz-se na experiência pessoal de se saber que “aquelas pessoas” estão lá, se for necessário, ainda que não haja uma interação direta e objetiva. Ter a consciência de que se tem alguém a quem recorrer, se necessário, parece ser mais tranquilizante e securizante do que propriamente pedir e usufruir de ajuda efetiva. O apoio social objetivo e por isso recebido refere-se ao conjunto de interações e trocas que o indivíduo recebe daqueles por quem se considera querido, desejado, respeitado e envolvido. O sujeito vai reconhecer a disponibilidade dos que lhe são próximos, e a possibilidade de recorrer a estes e ser correspondido se o necessitar, o que lhe trás conforto e segurança.
A satisfação individual com o apoio social está muito associada à saúde e ao bem-estar físico e psicológico, bem como à satisfação com a vida e à existência de afetos positivos em relação a si mesmo e aos outros. Deste modo, a perceção do suporte social ou as expectativas de que o apoio existirá se for necessário, tem sido considerado um elemento facilitador do bem-estar pessoal e social dos indivíduos, perante desafios e dificuldades com que se vão confrontando ao longo do seu percurso de vida. É um fator mediador do impacto das situações adversas ou perturbadoras do bem-estar físico e emocional.
O suporte social pode ter uma função preventiva e/ou curativa em relação aos acontecimentos de vida negativos e à doença, e uma função estimulante e gratificante, promotora de mais felicidade e de vivências positivas. Este suporte está positivamente associado ao confronto com novas situações ou situações potencialmente stressantes, reduzindo a tensão e a sensação de falta de controlo das mesmas.
No que diz respeito às crianças e á família enquanto grupo de apoio social, parece haver um efeito protetor para a maior parte das crianças e adolescentes, quando a família lhes dá atenção adequada e apropriada durante o primeiro ano de vida, mesmo quando estes estão inseridos em ambientes de risco. Fatores como a confiança, a atenção, a empatia, a disponibilidade, o respeito e as expectativas elevadas relativamente aos resultados escolares e comportamentais, o suporte, o afeto e os bons modelos comportamentais são considerados responsáveis por este efeito protetor.
A partilha das tarefas do dia-a-dia em família pelos dois elementos do casal é encarada como benéfica para o desenvolvimento infantil, sendo a preocupação com os limites e as regras, a presença conjunta em atividades de lazer e o investimento no incentivo de responsabilidades, fatores fulcrais para o desenvolvimento do ajustamento psicológico de crianças e jovens e para o seu bom desempenho escolar.
Outro fator que permite potenciar o papel positivo da família, no ajustamento da criança ou do jovem, é a possibilidade de permitir a sua participação ativa em contexto familiar, criando condições para que este seja ouvido e a sua opinião possa ser levada em consideração nas tomadas de decisões importantes para a família ou na programação de atividades familiares, por exemplo de lazer. Este fator é muito importante uma vez que potencia o desenvolvimento do sentimento de pertença e de responsabilidade, aumentando também as expectativas em relação ao futuro e promovendo a persistência para a definição e alcance de metas e objetivos.
Uma família enquanto grupo protetor e apoiante, deverá ter a preocupação de comunicar de forma positiva e efetiva, fornecer apoio á criança ou adolescente, facilitar a expressão de pensamentos e sentimentos, permitir a discussão dos assuntos relevantes, minimizar os conflitos, negociar os planos da família e desenvolver a cooperação e a confiança entre pais e filhos. Pode ser necessário, em alguns casos, recorrer a um apoio familiar regular para que estas sejam ajudadas adquirir as competências necessárias para que possam a agir de forma a potenciar o adequado desenvolvimento emocional das suas crianças/jovens.
As relações interpessoais são de um modo geral exigentes e desafiantes. As relações de casal são tudo isso e muito mais, tornando-se por vezes tão difíceis que desistir parece ser a única opção. No entanto, há algumas estratégias que podem melhorar, simplificar e muitas vezes “resolver” estas relações, apesar de em alguns momentos as situações de conflito e desentendimento fazerem parecer que já nada as pode salvar.
Muitos casais enfrentam diariamente relações difíceis, conflituosas e desgastantes, em que a ideia de desistir aparece sistematicamente. Porém, mesmo quando a harmonia e a felicidade parecem já não existir, quando o amor e o companheirismo se fundem com o ressentimento, a raiva e a frustração, ainda assim pode haver uma forma de contornar e reverter este desequilíbrio, onde os sentimentos de culpa por norma assumem lugar de destaque. Para caminhar na direção da restauração de uma relação que parece já não ter “pernas para andar”, é fundamental que os dois elementos do casal assumam as suas responsabilidades no conflito. Só reconhecendo os próprios erros é que cada um pode escolher modificar comportamentos e atitudes, o que se vai refletir na dinâmica do relacionamento e permitir que ambos fiquem novamente disponíveis para a relação.
Em primeiro lugar, comecem por impedir que os ressentimentos destruam o vosso relacionamento. Ignorar a situação causadora de conflito não irá ajudará a resolve-la. Muitas vezes, quando os conflitos são muito frequentes, os casais podem ter tendência para bloquear a comunicação, para se protegerem. No entanto, dialogar sobre as dificuldades e as divergências é fundamental para manter saudável a relação e para encontrarem respostas ou soluções. Por outro lado, é importante que ambos percebam que a crítica e o “apontar o dedo” dificilmente levam á reconciliação. Ao colocarem o foco é na pessoa e não o seu comportamento, esta irá sentir-se atacada, o que pode criar automaticamente uma barreira. Procure dizer ao seu parceiro/a como se sente com determinado comportamento ou de que forma a sua atitude perante si a/o fazem sentir. “Sinto-me triste porque não tive a oportunidade de dar a minha opinião”, em vez de “tu nunca ouves a minha opinião”.
A crítica poderá sempre existir mas apenas se for construtiva. Em conjunto com o seu parceiro/a definam um período de tempo em que as críticas não são permitidas. Durante esse período, procurem estar menos defensivos/as e procurem adotar uma comunicação mais positiva. É igualmente importante que escolham ter uma comunicação baseada na honestidade, ou seja, tenham a certeza de que falam sobre as vossas preocupações, que expressam as vossas dificuldades e que expõem os vossos sentimentos de desejos, de forma assertiva, ou seja, respeitando o ponto de vista do outro. Procurem não esconder sentimentos, nem mesmo os negativos e não confundam honestidade com vulnerabilidade ou fraqueza.
Por vezes, as discussões acontecem. Embora não seja desejável, por vezes pode haver tendência para perder o foco do problema e orientar a discussão para o ataque pessoal. Se acontecer, procurem a monitorização e o auto questionamento. “Onde é que esta minha atitude me vai levar?”, “Preciso mesmo de dizer-lhe isto?”. Evite revelar indiferença ou desprezo pelo outro, pois não vai contribuir em nada para a relação e pode ainda aumentar o desconforto. Procure pensar nas qualidades do seu parceiro/a e expresse sentimentos positivos sempre que possível. Faça um esforço para perceber o ponto de vista do outro, colocar-se “nos seus sapatos” e, mais uma vez, ser assertivo/a na comunicação.
As relações com os outros, principalmente as relações românticas, precisam que se lhes dedique tempo. Com a correria do quotidiano e as rotinas por vezes difíceis de conciliar, corremos o risco de nos esquecemos de ser simpáticos e amáveis com o parceiro/a. Pequenos gestos como, “Como correu o teu dia?” ou “O que te apetece fazer este fim-de-semana”, ou ainda “Precisas de ajuda para…?”, podem fazer a diferença. Conversar, revelar empatia pelo outro, validar a sua opinião e compreender as suas emoções, faz com que ele/a sinta que estamos ao seu lado, cúmplices e disponíveis, pode ajudar a manter o vínculo e dar significado ao casal.
Por fim, é importante que tenha a capacidade de perdoar. Perdoar não significa tolerar comportamentos ou atitudes prejudiciais ou desrespeitosas, no entanto, nas devidas situações, poderá permitir a continuidade da relação. Para seguirem o mesmo caminho, navegarem no mesmo barco, é muito importante aceitar algumas fraquezas do outro, reforçar as qualidades e procurar sempre o caminho da compreensão, tendo em vista a recuperação da harmonia e da felicidade que um dia vos juntou.
A Bulimia Nervosa é uma Perturbação do Comportamento Alimentar caracterizada pelo consumo rápido e repetido de grandes quantidades de alimentos (episódios de compulsão alimentar) seguido por tentativas de compensar o excesso de alimentos ingeridos (por exemplo, ao praticar purgação, jejum ou exercício físico).
A Bulimia Nervosa caracteriza-se pela ingestão alimentar compulsiva, como por exemplo, comer num período de tempo de duas horas, uma quantidade de alimentos, sem dúvida superior àquela que a maioria das pessoas conseguiria ou necessitaria de comer, no mesmo período de tempo. Por outro lado, esta perturbação caracteriza-se também pela compensação excessiva e inapropriada, através de exercício físico, indução do vómito ou toma de laxantes, no sentido de diminuir os efeitos da ingestão desmedida de alimentos.
Indivíduos com esta perturbação tendem a ter uma sensação de descontrolo sob o acto de comer ou dificuldade (ou incapacidade) de parar, durante o acto compulsivo de ingestão alimentar. Estes comportamentos desadequados deverão verificar-se pelo menos uma vez por semana e durante um período de três meses, para que se possa fazer um diagnóstico de Bulimia Nervosa. A prevalência desta perturbação do comportamento alimentar em mulheres jovens é de cerca de 1% e apresenta um pico no final da adolescência e início da idade adulta. Nos homens pouco se sabe acerca desta patologia mas sabe-se que é muito menos comum do que nas mulheres.
O início da Bulimia Nervosa ocorre habitualmente no final da adolescência ou início da idade adulta, sendo raros os casos em que o seu início é anterior à puberdade ou após os 40 anos. Um dos fatores que podem precipitar esta situação, são os acontecimentos de vida significativos e com impacto negativo. Numa grande maioria dos casos clínicos, esta perturbação mantem-se por vários anos, num curso crónico ou intermitente, ou seja, períodos de remissão alternados com períodos de ingestão compulsiva. De referir que é frequente que os comportamentos de ingestão compulsiva comecem durante ou após uma dieta de emagrecimento.
Parece haver uma associação entre a Bulimia Nervosa e o risco de suicídio, ou seja, em indivíduos com eta perturbação, a taxa de suicídio é de aproximadamente 2%, sendo particularmente importante a avaliação e despiste de ideação suicida e de comportamentos suicidários nestes pacientes. Cerca de 10 a 15% dos casos de Bulimia Nervosa evoluem para um quadro de Anorexia Nervosa e estes indivíduos tendem a oscilar entre períodos de bulimia e anorexia, tornando por vezes o diagnóstico diferencial difícil de definir. Muitas vezes estes indivíduos passam por um diagnóstico de Perturbação da Ingestão Alimentar Compulsiva ou de Perturbação do Comportamento Alimentar sem outra Especificação.
Os indivíduos bulímicos podem apresentar grandes limitações funcionais, particularmente no que diz respeito ás relações sociais. Os fatores de risco para a Bulimia Nervosa são múltiplos, nomeadamente temperamentais, ambientais, genéticos e fisiológicos. No que diz respeito aos fatores temperamentais, destacam-se a baixa autoestima, a sintomatologia depressiva, preocupações com o peso e problemas de ansiedade. Em relação aos fatores ambientais, sabe-se que a internalização de um corpo magro ideal ou histórias de abuso físico ou sexual na infância podem aumentar o risco do desenvolvimento de Bulimia Nervosa. A obesidade infantil e a maturação pubertária precoce podem também constituir-se como fator de risco para o desenvolvimento desta perturbação, assim como a vulnerabilidade genética e a existência prévia de casos em familiares diretos.
Em termos de prevenção, destaca-se a manutenção de hábitos de vida saudáveis e a identificação precoce de qualquer sinal de perturbação alimentar. Nos casos em que a perturbação se começa a manifestar mais precocemente, o acompanhamento pediátrico regular, pode permitir a identificação de distúrbios alimentares logo que estes se manifestem. A manutenção de uma boa autoestima e o desenvolvimento de uma adequada perceção da autoimagem, mediada e modelada pelos pais e adultos significativos, desempenham um importante papel na prevenção das perturbações alimentares.
Em termos de tratamento, a Bulimia Nervosa pode necessitar de uma intervenção farmacológica (e. g. antidepressivos), combinada com acompanhamento nutricional e psicológico. O envolvimento da família e dos amigos nestes casos é fundamental para o sucesso da intervenção. Em casos de extrema gravidade pode ser necessário o internamento hospitalar.
As Perturbações do Comportamento Alimentar, nas quais a Bulimia Nervosa se inclui, podem ser muito graves e disfuncionais, no entanto, com o apoio certo e no momento certo, tudo se pode controlar, ultrapassar e resolver. Não deixe de pedir ajuda!
Fonte:
DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.
Algumas crianças lidam desde cedo com medos e inseguranças que podem ser motivados por diversas ordens de razão. Estes medos podem fazer com que a criança deixe de querer “arriscar” ou quando o faz, seja acompanhado por muita ansiedade, comprometendo o seu desempenho e reforçando as suas inseguranças.
Para ajudar a criança que tem medo de falhar, é muito importante, em primeiro lugar que reconheça a situação. Devemos revelar que percebemos o que se está a passar e procurar que a criança fale sobre o assunto, ou seja, que expresse a sua preocupação. Exemplos como “vejo que estás preocupado com a apresentação do teu trabalho de amanhã na escola. Vamos conversar um pouco sobre isso? Este poderá ser o ponto de partida para ajudar a criança insegura com o seu desempenho numa atividade escolar. Validar os sentimentos da criança e refletir sobre o assunto, pode também ser bastante eficaz, para que ela se consiga acalmar. “Estás muito ansioso por causa do teu trabalho, eu compreendo, por vezes é difícil ter tantas coisas na cabeça e essa matéria é realmente complexa”. Será igualmente útil ajudar a criança a processar o medo. “O que achas que pode acontecer se te enganares numa data ou num nome, quando apresentares o trabalho de História amanhã? Qual é a pior coisa que pode acontecer? E então?“.