A Misofonia refere-se a uma condição em que há uma forte aversão a certos sons específicos, em resposta aos quais o indivíduo relata experiências emocionais muito intensas de repulsa.
A Misofonia é a hipersensibilidade que alguns indivíduos têm a sons específicos do quotidiano, sons esses que podem levar a reações extremas e desadequadas, que incluem a raiva, a irritabilidade ou o pânico. Esta perturbação é também conhecida como Síndrome de Sensibilidade Seletiva do Som (SSSS ou S4). Os sintomas da Misofonia podem ter início em qualquer idade a partir do final da infância e início da adolescência. Por norma a reação aversiva é desencadeada por um som específico, ao qual há tendência para se irem acrescentando outros sons. Exemplos destes sons são a respiração, a mastigação ou a deglutição de outrem, o clique de uma caneta ou o pingar de uma torneira. Ao ser exposto a determinado som, o indivíduo reage de forma exacerbada, sente extrema irritabilidade e pode mesmo ter reações violentas.
A pessoa que sofre de Misofonia sente-se frequentemente irritada por sons que outra pessoa sem este problema nem repara, percebe ou valoriza. A maioria dos estímulos/sons “agressores” são descritos por pessoas sem esta perturbação, como inofensivos, não perturbadores e fazem parte do quotidiano de todos nós. Para os indivíduos que sofrem de Misofonia é frequente a dificuldade em controlarem as suas reações de aversão, no entanto, conseguem reconhecer que a hipersensibilidade a este tipo de sons é irracional.
Os sintomas são variáveis de indivíduo para indivíduo e podem incluir a taquicardia, sudação excessiva, calor intenso, necessidade de se afastar fisicamente da origem do som, ou, pelo contrário, de reagir de forma violenta. Para além dos ruídos corporais já referidos, outros sons ou comportamentos como bater na mesa, falar com alimentos dentro da boca, arrotar, fazer barulho com os talheres, bocejar, ressonar, assobiar, fungar, tossir, limpar a garganta, soluçar, voz grave, voz nasalada, voz suave sussurrante, barulho de saltos no piso superior, esfregar mãos ou pés, estalar de dedos, roer as unhas, são exemplos de estímulos que podem desencadear a tal reação exacerbada de hipersensibilidade.
A Misofonia não está ainda incluída nos sistemas oficiais de diagnóstico, como o Manual Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5) ou a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), o que pode dificultar o seu diagnóstico. Por outo lado, o não diagnóstico e a falta de intervenção podem causar sérios problemas na qualidade de vida dos indivíduos, podendo levar ao isolamento social e a dificuldades nas relações interpessoais. Há uma certa tendência para a incompreensão e falta de empatia para com estes sujeitos, sendo por vezes vistos como “esquisitos”, intolerantes ou mesmo agressivos, essencialmente por desconhecimento e falta de informação acerca da perturbação, cujas primeiras referências parecem datar de 2010.
Esta condição foi descrita pela primeira vez por dois audiologistas e tornou-se foco de interesse no campo da Psiquiatria. Alguns relatos sugerem que os sintomas misofónicos podem estar associados a outras condições, como Síndrome de Tourette, Perturbação Obsessivo-Compulsiva e Perturbação de Ansiedade Generalizada. Assim sendo, existe uma grande necessidade de se fazerem mais estudos sobre esta problemática, no sentido de se facilitar o diagnóstico e definir uma intervenção eficaz. Crê-se que a Psicoterapia pode ajudar na redução dos sintomas, na compreensão do problema e no controlo das reações provocadas.
De referir ainda a diferença entre Misofonia e Hiperacusia, que consiste em perceber os sons de uma forma anormal, muito elevados e acompanhado de dor física. Nesta perturbação a hipersensibilidade auditiva está relacionada com a perda de audição, uma vez que o indivíduo com Hiperacusia sente desconforto quando determinado som atinge os 90 decibéis (ou até menos), enquanto um indivíduo sem este problema auditivo consegue suportar até 120 decibéis.
Fontes:
Cavanna, A. E. (2014). What is misophonia and how can we treat it? Expert Rev Neurother.14 (4):357-59.
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S030698771730213X?via%3Dihub
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0924933814776084
Gracinda e a Psicologia 