A adolescência é uma etapa do desenvolvimento tipicamente atribulada, em que os jovens precisam de lidar com as rápidas mudanças a nível físico, e com um mundo interior repleto de emoções intensas. Os adolescentes tendem por vezes a isolar-se e a evitar a comunicação com os adultos. Como podemos então nós, os adultos, lidar com as dificuldades na comunicação com os adolescentes?
Em primeiro lugar, podemos evitar colocar demasiadas questões aos adolescentes. Por vezes, na ânsia de saber o que lhes vai no pensamento, e com a melhor das intenções, temos tendência a questiona-los muito. O resultado é que quando fazemos muitas perguntas para tentarmos “absorver” o seu mundo interno, podemos fazer com que o adolescente não se sinta compreendido e se resguarde nas respostas. Nem sempre os adolescentes têm resposta para as perguntas dos adultos, uma vez que nem eles próprios por vezes têm essas respostas para si mesmos. Assim, devemos perguntar menos mas disponibilizarmo-nos para os escutar, deixar fluir a conversa, evitando uma atitude crítica e julgadora. Mostrar compreensão e promover momentos onde haja espaço para revelações e partilha.
Qualquer partilha ou emoção expressa pelo adolescente não deve ser desvalorizada. Quando um jovem partilha abertamente um acontecimento ou um sentimento, é fundamental que seja ouvido sem que seja desvalorizado ou criticado. Ainda que que para os adultos possa parecer uma situação irrelevante e sem impacto real na vida do adolescente, se ele está a falar sobre o assunto é porque para ele é efetivamente importante. Recorde-se que quando um adolescente sente que o que partilha é desvalorizado, opta por começar a virar-se para si mesmo e isolar-se.
Na adolescência, cada conquista tem uma enorme importância. O bom desempenho desportivo, escolar ou académico ou um sucesso em algo em que está envolvido deve sempre ser notado e valorizado pelos adultos de referência. Dar-lhe atenção pelos seus sucessos, revela o nosso interesse e a nossa disponibilidade para a relação.
Estabelecer uma ponte de cumplicidade pode ser uma excelente estratégia para fortalecer a relação do adulto com os adolescentes. Estes gostam de se sentir compreendidos e de sentir que existe sintonia entre o que eles estão a vivenciar e o adulto. Assim, devemos procurar estabelecer uma ponte de cumplicidade, falando-lhes sobre nos mesmos, sobre as nossas experiências, emoções e até sobre as nossas próprias memórias da adolescência. Nesta partilha, haverá mais espaço para que o adolescente se sinta livre para falar sobre si mesmo.
Por fim, é extremamente importante que consigamos respeitar o espaço físico e emocional de cada jovem. Ser adolescente implica uma descoberta interna e externa e, neste processo, há diversas fases em que um adolescente precisa de se resguardar. Nestas fases, é importante mostrarmos que somos capazes de respeitar o espaço que ele necessita, ainda que também seja importante mostrarmos-lhe que, seja o que for, que possa estar a sentir e experienciar estamos sempre disponíveis para ele.
Se nos conseguirmos consciencializar de que a adolescência pode ser uma fase difícil e levarmos em consideração as “dicas” que aqui ficam, naturalmente o adolescente vai deixar de sentir uma distância entre ele e o adulto, o que fará com que a comunicação flua de forma cada vez mais natural e aberta, sem os condicionamentos típicos da comunicação entre adultos e adolescentes.
Não deixe de comunicar com o seu filho/a adolescente. Apenas aprenda a compreender e respeitar o seu espaço, tempo e as suas emoções e sejam uma família feliz!
Gracinda e a Psicologia 