A dor é uma experiência universal que atravessa fronteiras culturais, sociais e temporais. No entanto, nem toda a dor é igual. Podemos distinguir, de forma geral, entre dor física e dor psicológica, duas manifestações distintas que, embora diferentes na sua natureza, estão profundamente interligadas. Entender esta dualidade é essencial para uma abordagem mais humana e eficaz do sofrimento humano.
A dor física é geralmente associada a um estímulo nocivo, como uma lesão, uma inflamação, uma doença. É, por assim dizer, uma resposta biológica do corpo, um sinal de alarme do sistema nervoso que visa proteger-nos de maiores danos. A dor física pode ser aguda, como no caso de uma queimadura, ou crónica, como a dor associada à fibromialgia ou à artrite. Esta última, quando persistente, pode ter efeitos devastadores não só no corpo, mas também na mente.

Por outro lado, a dor psicológica ou dor emocional, embora possa não deixar marcas visíveis, pode ser tão ou mais incapacitante. Pode estar relacionada com perdas, traumas, stresse, ansiedade, depressão ou solidão. Muitas vezes, esta dor é silenciosa, não encontra expressão fácil e pode ser incompreendida ou subvalorizada pelos outros, ou até mesmo pelo próprio. No entanto, estudos demonstram que a dor emocional ativa regiões cerebrais semelhantes às da dor física, como o córtex cingulado anterior e a ínsula, o que sugere uma sobreposição neurológica significativa (Eisenberger et al., 2003).

Além disso, a dor física e a dor psicológica não existem em compartimentos isolados. Pelo contrário, uma pode intensificar a outra. Por exemplo, indivíduos com dor crónica têm uma maior propensão para desenvolver estados depressivos, e pessoas com perturbações emocionais podem somatizar e manifestar sintomas físicos reais, como dores de cabeça, musculares ou problemas gastrointestinais (Gatchel et al., 2007). Esta interação é particularmente evidente nas chamadas “dores psicossomáticas”, onde não se encontra uma causa orgânica clara, mas o sofrimento é real.

A abordagem terapêutica da dor deve, portanto, ser holística. O tratamento medicamentoso, embora necessário em muitos casos, raramente é suficiente por si só. Intervenções psicológicas, como a terapia cognitivo-comportamental, a meditação, ou o mindfulness, têm demonstrado eficácia tanto na dor física como na dor emocional (Morley et al., 1999). O reconhecimento da dor subjetiva do outro — seja ela visível ou não — é um dos maiores gestos de empatia que podemos oferecer. Compreender a dor em todas as suas formas é um desafio ético, clínico e humano. Não se trata apenas de eliminar o sofrimento, mas de reconhecer a sua existência, legitimá-lo e ajudar a encontrar caminhos de alívio e sentido. Afinal, a dor pode ser inevitável, mas o sofrimento pode ser, em muitos casos, aliviado com compreensão e cuidado.

Referências bibliográficas:
- Eisenberger, N. I., Lieberman, M. D., & Williams, K. D. (2003). Does rejection hurt? An fMRI study of social exclusion. Science, 302(5643), 290–292.
- Gatchel, R. J., Peng, Y. B., Peters, M. L., Fuchs, P. N., & Turk, D. C. (2007). The biopsychosocial approach to chronic pain: Scientific advances and future directions. Psychological Bulletin, 133(4), 581–624.
- Morley, S., Eccleston, C., & Williams, A. (1999). Systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials of cognitive behaviour therapy and behaviour therapy for chronic pain in adults, excluding headache. Pain, 80(1-2), 1–13.