A Perturbação da Personalidade Borderline (PPB) é uma perturbação psicológica complexa e grave, caracterizada por padrões persistentes de instabilidade emocional, relacionamentos interpessoais conturbados, comportamentos marcadamente impulsivos e uma autoimagem distorcida.
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Bulimia Nervosa: enfrentar o “monstro”

A Bulimia Nervosa é uma Perturbação do Comportamento Alimentar caracterizada pelo consumo rápido e repetido de grandes quantidades de alimentos (episódios de compulsão alimentar) seguido por tentativas de compensar o excesso de alimentos ingeridos (por exemplo, ao praticar purgação, jejum ou exercício físico).

A Bulimia Nervosa caracteriza-se pela ingestão alimentar compulsiva, como por exemplo, comer num período de tempo de duas horas, uma quantidade de alimentos, sem dúvida superior àquela que a maioria das pessoas conseguiria ou necessitaria de comer, no mesmo período de tempo. Por outro lado, esta perturbação caracteriza-se também pela compensação excessiva e inapropriada, através de exercício físico, indução do vómito ou toma de laxantes, no sentido de diminuir os efeitos da ingestão desmedida de alimentos.

Indivíduos com esta perturbação tendem a ter uma sensação de descontrolo sob o acto de comer ou dificuldade (ou incapacidade) de parar, durante o acto compulsivo de ingestão alimentar. Estes comportamentos desadequados deverão verificar-se pelo menos uma vez por semana e durante um período de três meses, para que se possa fazer um diagnóstico de Bulimia Nervosa. A prevalência desta perturbação do comportamento alimentar em mulheres jovens é de cerca de 1% e apresenta um pico no final da adolescência e início da idade adulta. Nos homens pouco se sabe acerca desta patologia mas sabe-se que é muito menos comum do que nas mulheres.

O início da Bulimia Nervosa ocorre habitualmente no final da adolescência ou início da idade adulta, sendo raros os casos em que o seu início é anterior à puberdade ou após os 40 anos. Um dos fatores que podem precipitar esta situação, são os acontecimentos de vida significativos e com impacto negativo. Numa grande maioria dos casos clínicos, esta perturbação mantem-se por vários anos, num curso crónico ou intermitente, ou seja, períodos de remissão alternados com períodos de ingestão compulsiva. De referir que é frequente que os comportamentos de ingestão compulsiva comecem durante ou após uma dieta de emagrecimento.

Parece haver uma associação entre a Bulimia Nervosa e o risco de suicídio, ou seja, em indivíduos com eta perturbação, a taxa de suicídio é de aproximadamente 2%, sendo particularmente importante a avaliação e despiste de ideação suicida e de comportamentos suicidários nestes pacientes. Cerca de 10 a 15% dos casos de Bulimia Nervosa evoluem para um quadro de Anorexia Nervosa e estes indivíduos tendem a oscilar entre períodos de bulimia e anorexia, tornando por vezes o diagnóstico diferencial difícil de definir. Muitas vezes estes indivíduos passam por um diagnóstico de Perturbação da Ingestão Alimentar Compulsiva ou de Perturbação do Comportamento Alimentar sem outra Especificação.

Os indivíduos bulímicos podem apresentar grandes limitações funcionais, particularmente no que diz respeito ás relações sociais. Os fatores de risco para a Bulimia Nervosa são múltiplos, nomeadamente temperamentais, ambientais, genéticos e fisiológicos. No que diz respeito aos fatores temperamentais, destacam-se a baixa autoestima, a sintomatologia depressiva, preocupações com o peso e problemas de ansiedade. Em relação aos fatores ambientais, sabe-se que a internalização de um corpo magro ideal ou histórias de abuso físico ou sexual na infância podem aumentar o risco do desenvolvimento de Bulimia Nervosa. A obesidade infantil e a maturação pubertária precoce podem também constituir-se como fator de risco para o desenvolvimento desta perturbação, assim como a vulnerabilidade genética e a existência prévia de casos em familiares diretos.

Em termos de prevenção, destaca-se a manutenção de hábitos de vida saudáveis e a identificação precoce de qualquer sinal de perturbação alimentar. Nos casos em que a perturbação se começa a manifestar mais precocemente, o acompanhamento pediátrico regular, pode permitir a identificação de distúrbios alimentares logo que estes se manifestem. A manutenção de uma boa autoestima e o desenvolvimento de uma adequada perceção da autoimagem, mediada e modelada pelos pais e adultos significativos, desempenham um importante papel na prevenção das perturbações alimentares.

Em termos de tratamento, a Bulimia Nervosa pode necessitar de uma intervenção farmacológica (e. g. antidepressivos), combinada com acompanhamento nutricional e psicológico. O envolvimento da família e dos amigos nestes casos é fundamental para o sucesso da intervenção. Em casos de extrema gravidade pode ser necessário o internamento hospitalar.

As Perturbações do Comportamento Alimentar, nas quais a Bulimia Nervosa se inclui, podem ser muito graves e disfuncionais, no entanto, com o apoio certo e no momento certo, tudo se pode controlar, ultrapassar e resolver. Não deixe de pedir ajuda!
Fonte:
DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.
Perturbação Dissociativa da Personalidade

A Perturbação Dissociativa da Identidade (PDP) surge recentemente na literatura e envolve uma controvérsia associada principalmente à dificuldade na definição do termo dissociação. Entre outras formas, a dissociação pode ser descrita como uma falha na integração de dois ou mais diferentes sistemas de ideias e funções que constituem a personalidade.
O fenómeno dissociativo movimenta-se num espectro que vai desde a dissociação não patológica (ex. sonhar acordado ou estar intensamente focado numa tarefa) até à Perturbação Dissociativa da Personalidade, esta sim uma patologia do foro mental, habitualmente associada a experiências traumáticas. O processo dissociativo implica a alteração de um estado de consciência que não é organicamente induzida. Ou seja, envolve uma alteração temporária ou a separação de processos mentais que em situação normal estariam integrados. Segundo Bultler (2004), a natureza dos processos dissociativos normativos cinge-se a uma intensa concentração e envolvimento cognitivo em alguns aspetos da consciência, em detrimento de outros componentes. O grau de dissociação oscila num continuum desde os processos normativos e transitórios, decorrentes do dia-a-dia, até aos processos de dissociação patológicos, classificados como crónicos e severos.
Continue a ler “Perturbação Dissociativa da Personalidade”Prevenção do abuso sexual infantil

Na Europa, uma em cada cinco crianças é vítima de violência ou de abuso sexual. Considera-se abuso sexual, todo e qualquer contacto ou interação com uma criança para estímulo sexual ou gratificação por parte de adulto ou de outra criança. Este tipo de abuso inclui contacto físico inapropriado, violação ou assédio.
Todas as crianças têm o direito de estar seguras e de serem protegidas de toda e qualquer forma de violência. Todos nós, pais, professores, profissionais de saúde, entre outros, temos a obrigação de estar atentos não só aos sinais de alarme, como trabalhar na prevenção da violência sexual contra as crianças. O Conselho da Europa editou um livro com esse propósito, ao qual chamou “Kiko e a Mão” e que foi disponibilizado pelo Serviço Nacional de Saúde, para explicar aos mais novos a regra de que nem todas as partes do seu corpo podem ser tocadas pelos outros. E um guia simples para ajudar os pais a explicarem aos seus filhos que partes do corpo não devem ser tocadas por outras pessoas, mas também ensina como reagir se isso acontecer e onde procurar ajuda. O livro explica de forma simples que uma criança não se deve deixar tocar nas partes do corpo que habitualmente estão cobertas pela roupa interior, assim como também não o deve fazer aos outros.

A Regra “aqui ninguém toca” inclui 5 princípios importantes. Em primeiro lugar o princípio de que as crianças são donas do seu próprio corpo e que ninguém lhe deve tocar sem a sua autorização. É importante que se fale de forma aberta e direta com as crianças ainda pequenas sobre a sexualidade e as zonas íntimas do corpo, utilizando os nomes corretos para os órgãos genitais, bem como para outras estruturas anatómicas do corpo humano. Desta forma ajudamos as crianças a compreenderem o que é e o que não é permitido. As crianças têm o direito de recusar que os outros as beijem ou toquem, mesmo que sejam pessoas próximas e de quem gostam. É fundamental ensinar a dizer “não”, de forma assertiva, a contactos físicos inapropriados, assim como ensina-las a fugir de situações perigosas e a contar o que se passou a um adulto da sua confiança (pais, professores, etc…). É muito importante deixar bem claro às crianças que elas devem insistir em falar com alguém de confiança até que acreditem nelas e o assunto seja levado a sério.

O segundo princípio refere-se aos contactos físicos, que são denominados de bons e maus. As crianças por vezes não conseguem diferenciar o que é um contacto físico aceitável e um contacto físico inaceitável. Devemos ensinar aos mais pequenos que não devem aceitar que os outros lhes vejam ou toquem nas partes íntimas do seu corpo ou que lhes peçam para ver ou tocar nas suas partes íntimas. A Regra “aqui ninguém toca” ajuda as crianças a aprenderem de forma simples e clara que as partes do corpo cobertas pela roupa interior são aquelas que mais devem proteger, tornando-se fácil a memorização. O terceiro princípio é o dos segredos: bons e maus. O segredo é a estratégia utilizada pela maioria dos agressores para evitarem que as crianças contem o que se passou, por isso é muito importante que estas aprendam a diferenças entre bons segredos e maus segredos. Os maus segredos são todos aqueles que causam medo, tristeza e ansiedade e como não são bons, não devem ser guardados. As crianças devem ser incentivadas a partilhar com outro adulto, sempre que um segredo lhe cause desconforto. O quarto princípio da regra “aqui ninguém toca” tem a ver com a prevenção e proteção por parte dos adultos. As crianças sujeitas a abusos sexuais, ou outros, sentem frequentemente culpa, medo e vergonha. Cabe aos adultos evitarem criar tabus sobre a sexualidade e garantirem que as crianças sabem a quem pedir ajuda sempre que estejam preocupadas, ansiosas ou tristes. É comum algumas crianças sentirem que alguma coisa está mal, mas terem dificuldade em expressar as suas emoções. Assim, recomenda-se que os adultos se mantenham atentos principalmente a mudanças no comportamento ou no humor das suas crianças, pois as suas angústias podem refletir-se no modo como se expressam e comportam, podendo nem sempre ser muito óbvias as dificuldades pelas quais estão a passar.

Por fim mas não menos importante, o princípio de informar e divulgar. As crianças devem saber identificar quais os adultos em quem podem confiar e devem ser encorajadas a selecionar uma ou mais pessoas próximas que estejam dispostos a ouvir e ajudar. Recomenda-se que destas pessoas, apenas um elemento deve viver com a criança e o outro (ou outros) não deve fazer parte do núcleo familiar. As crianças devem saber como procurar ajuda junto aos “eleitos”. Infelizmente, na maioria dos casos de abuso o agressor é conhecido da criança, o que torna a situação particularmente difícil e confusa. Entender que aquela pessoa que conhece e de quem espera proteção possa ser o seu agressor, pode gerar na criança sentimentos ambíguos. A criança deve ser incentivada a contar sempre às suas figuras de confiança, quando alguém lhes oferece presentes, lhes pede para passarem tempo juntos a sós ou lhes pede para guardar segredos. As crianças devem ainda ser ensinadas a nunca entrar no carro de um desconhecido, assim como nunca aceitar presentes nem convites. Os pais devem ainda ensinar ás suas crianças que existem profissionais, como os professores, auxiliares de ação educativa, polícias, psicólogos escolares, entre outros, aos quais podem sempre recorrer em situações de perigo.

O livro: https://biblioteca.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2017/05/crescer_Kiko-e-a-ma%CC%83o.pdf
Para mais informação sobre este tema poderá consultar: www.coe.int/oneinfive
