Rir é mesmo o melhor remédio?

Pode o nosso estado de espírito ser influenciado pela comédia e pelo riso? Acredito que sim — e talvez mais do que imaginamos. Rir não é apenas uma reação espontânea a algo engraçado; é um ato profundamente humano, com efeitos surpreendentes na mente e no corpo.

A ciência tem vindo a demonstrar que o riso ativa várias áreas cerebrais e estimula a libertação de neurotransmissores como a dopamina, a serotonina e a oxitocina — substâncias associadas ao prazer, à ligação afetiva e à redução do stress. Ou seja, o riso não é apenas uma consequência da alegria: é também uma das suas causas.

Quando rimos, aproximamo-nos dos outros. Criamos uma ponte invisível de empatia e pertença. O riso partilhado quebra barreiras, suaviza tensões e recorda-nos que, apesar de tudo, fazemos parte do mesmo lado da vida. Há quem diga que rir em grupo é um ato de sobrevivência — e talvez seja verdade. Desde os primórdios, o humor ajudou-nos a enfrentar o medo e a construir laços sociais que tornaram a existência menos pesada.

Mas ter sentido de humor é algo mais complexo do que apenas rir. Envolve interpretar o mundo de forma flexível, reconhecer o absurdo e, muitas vezes, encontrar leveza no meio do caos. O humor não ignora os problemas — apenas lhes muda o enquadramento. É a arte de ver a sombra sem deixar de reparar na luz.

Nem todos rimos das mesmas coisas, e isso é parte da sua beleza. O humor é moldado pela cultura, pela personalidade e até por traços genéticos. O que provoca gargalhadas a uns pode deixar outros indiferentes. No entanto, há algo universal no riso: o poder de libertar. Rir é, em certo sentido, uma forma de respiração emocional — um modo de aliviar a tensão e devolver equilíbrio ao corpo e à mente.

Numa época marcada por pressas, preocupações e ecrãs luminosos, rir tornou-se quase um ato de resistência. Rir de nós próprios, dos nossos erros e das contradições do quotidiano é uma maneira de não nos deixarmos esmagar pela seriedade da vida. Rir não apaga os problemas, é verdade. Mas torna-os mais suportáveis. E talvez seja precisamente isso o que precisamos: não um remédio mágico, mas um instante de leveza que nos recorde que ainda somos capazes de sentir alegria.

No fim de contas, rir não resolve tudo. Mas, convenhamos, ajuda bastante a tornar tudo um pouco mais leve…

Natal: Época de Reunião e Construção de Memórias

O Natal é, por excelência, um momento de união e celebração. Mais do que os presentes ou as luzes brilhantes, esta época destaca-se pelo que tem de mais precioso: a oportunidade de reunir a família, fortalecer laços e criar memórias que permanecem ao longo da vida.

À volta da mesa de Natal, as gerações encontram-se. É um tempo em que o presente e o passado se cruzam em histórias partilhadas, tradições mantidas e momentos únicos. Os mais velhos recordam Natais de outros tempos, recriam-se receitas, rituais e as crianças descobrem a magia desta festa. Cada prato servido, cada ornamento no pinheiro e cada canção cantada, têm o poder de unir os corações e construir uma herança emocional que atravessa gerações.

Continue a ler “Natal: Época de Reunião e Construção de Memórias”

Bem-Estar e Saúde Psicológica

Organização Mundial de Saúde (OMS) define Saúde Psicológica como um estado de bem-estar que permite que a pessoa realize as suas capacidades e o seu potencial, que lide com o stresse normal do dia-a-dia e que trabalhe produtivamente e contribua ativamente para a sua comunidade.

A Saúde Psicológica é parte integrante da Saúde do ser humano, considerando-se que não há Saúde sem Saúde Psicológica. Relaciona-se com a capacidade de utilizarmos as nossas competências e capacidades para gerir os desafios do quotidiano, nos diferentes contextos em que vivemos (ex. familiar, escolar ou profissional). A Saúde Psicológica está associada também com o modo como pensamos, sentimos, avaliamos as situações, nos relacionamos com os outros e tomamos decisões. Quando estamos psicologicamente saudáveis, sentimo-nos confiantes e capazes de lidar com a nossa vida e de nos relacionarmos com os outros.

A felicidade e o bem-estar são frequentemente utilizados como sinónimos de Saúde Psicológica. A forma como avaliamos positivamente os acontecimentos de vida, em termos de experiências agradáveis e emoções positivas (ex. amor, alegria, tranquilidade, gratidão, esperança…), vai influenciar a nossa Saúde Psicológica. Quando nos sentimos felizes e de bem com a vida e conosco mesmos, enérgicos e disponíveis para os outros, podemos dizer que temos uma boa Saúde Psicológica e que esta contribui para a nossa satisfação com a vida.

Os estilos de vida saudáveis, o autocuidado, o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida familiar e as relações positivas e de qualidade, são fatores determinantes para a nossa Saúde Psicológica. Adotar uma alimentação racional e a prática de exercício físico, pode ser o primeiro passo para nos tornarmos mais saudáveis, através do benefício que estas duas práticas têm para a saúde física e consequentemente para a Saúde Psicológica. Por outro lado, não nos podemos esquecer de nos mimar. Realizar atividades que nos dão prazer ou dedicarmos algum do nosso tempo a passatempos que nos são agradáveis, como por exemplo a leitura, a escrita, a música, passeios ao ar livre, realizar ações de voluntariado, etc., também contribui para o bem-estar pessoal.

A socialização é fundamental para que nos sintamos bem e permite uma série de interações prazerosas que irão contribuir para o aumento da nossa satisfação com a vida. Relações positivas e saudáveis, ajudam por meio da partilha, da diversão e do apoio que nos podem trazer, a sentirmo-nos bem e a atribuirmos á nossa existência positividade, alegria e até um propósito. A família e os amigos têm um papel essencial na nossa Saúde Psicológica. O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional consegue-se muitas vezes, com a ajuda dos que connosco partilham histórias, experiencias e preferências.

Reveja a sua vida e faça um balanço de como a está a gerir. Procure introduzir momentos de autocuidado para que se consiga reequilibrar e recentrar. Não descure a sua Saúde Psicológica pois sem ela não poderá ser feliz!

Olá Dezembro! Olá Natal!

Mais um mês de Dezembro que inicia, trazendo consigo feriados, frio e festas, e muitas outras coisas, boas e menos boas, porém é sobre as festas, principalmente a festa do Natal, que hoje escrevo.

Escrever sobre o Natal é muito fácil para mim. Porque gosto especialmente do brilho das luzes que enfeitam as ruas, as casas e as árvores, da alegria das músicas alusivas a esta quadra, da azáfama (controlada 😊) para fazer as compras para a consoada, os presentes para a família e amigos, a nossa rede real. Gosto dos embrulhos, dos laços e das fitas. Gosto da casa enfeitada, da família reunida, de uma bonita mesa para a consoada, e da alegria e entusiasmo dos mais pequenos.

No Natal há sempre lugar para recordar com saudade os que já não estão fisicamente connosco, mas estão na nossa memória e no nosso coração. Lembrar com alegria o privilégio que foi, tê-los nas nossas vidas, e de os manter vivos nos nossos hábitos e costumes desta época festiva, através de uma receita de bacalhau da Mãe, dos Coscorões da Tia e das fantásticas Broas da Sogra…

No Natal, em família, recordamos e rimos daquele presente inusitado, de outro muito desejado, de uma receita que nos correu mal anos atrás, ou de outra que não pode nunca faltar. Rimos ainda ao recordar, aquele ano em que apareceu um Pai Natal gordinho e de fato encarnado, com uma voz igualzinha á do Tio João…

Natal é o que cada um de nós quiser e puder. Num momento em que o mundo se tornou num lugar perigoso e difícil de entender, não faltam motivos para que a magia e o brilho do Natal, sejam facilmente abafados pela tristeza e pela dor, sobrepondo-se á alegria de festejar. Porém, podemos sempre que possível, escolher desfrutar da presença dos que nos são tão queridos, e, na medida do que está ao alcance de cada um de nós, aproveitarmos para construir memórias felizes.

Respeitando todos os que por qualquer que seja o motivo, não apreciam nem festejam o Natal, desejo aos meus leitores umas Festas Felizes, e que o Ano que já está aí a espreitar, traga ao mundo a Paz, o Amor e a Compreensão, de que todos nós tanto precisamos!

Emoções, sentimentos e gestão emocional

Podemos definir emoção como uma experiência subjetiva, que envolve a pessoa na sua totalidade: mente e corpo. Do ponto de vista neurológico, a emoção é descrita como uma variação psíquica e física, que tem origem num estímulo, avaliando-o e reagindo a ele.

As emoções são um modo natural de avaliação do meio envolvente, e a sua reação é consequência de uma adaptação. As emoções podem falar por nós, na medida em que são reveladoras da forma como nos sentimos e de como encaramos a vida. São estados de curta duração e onde estão incluídas a alegria, a tristeza ou o medo, entre muitas outras. Quando falamos de raiva, nojo, alegria, tristeza, surpresa ou medo, estamos a referir-nos a emoções básicas ou primárias, pois são aquelas não necessitam de reflexão ou introspeção. São inatas e estão ligadas ao instinto e à sobrevivência, e, por isso, surgem de forma súbita e inesperada e são de fácil definição pelo facto de serem rapidamente identificadas pelo indivíduo, independentemente da cultura a que pertence. As emoções secundárias ou sociais implicam uma tomada de consciência de si. Resultam das nossas aprendizagens e fazem uso das emoções primárias. No entanto, podem variar de acordo com o contexto cultural. São exemplos de emoções secundárias a vergonha, o ciúme, a inveja, a empatia, o embaraço, o orgulho ou a culpa.

Continue a ler “Emoções, sentimentos e gestão emocional”

Parto e ansiedade

O momento do parto pode ver visto sob duas perspetivas: a positiva, associada à felicidade e entusiasmo pelo nascimento e pela realização do casal enquanto pais, e a perspetiva mais negativa, habitualmente relacionada com a ansiedade e o medo da vivência desse momento.

O parto é, à medida de cada caso, uma experiência física e emocionalmente exigente. A separação de dois (ou mais!) seres, que viveram aproximadamente 9 meses de modo interdependente em contacto íntimo e permanente, tem um impacto emocional para cada um deles. Numa perspetiva psicodinâmica, no momento do parto a mulher revive inconscientemente o trauma do seu próprio nascimento e a angústia que experienciou ao nascer, pela perda do estado intrauterino e pelo medo do desconhecido. A ansiedade causada pelo medo de cuidar o bebé, associado à sensação de perda ou “esvaziamento”, são os dois fatores cuja interação pode conduzir a um estado de confusão que pode desencadear na mulher a sensação de despersonalização ou perda de identidade.

Continue a ler “Parto e ansiedade”