Suicídio na adolescência

Comportamentos auto lesivosNa adolescência, os comportamentos auto lesivos e a ideação suicida, são dois problemas graves que têm vindo a aumentar a nível mundial (Williams & Bydalek, 2007). Em Portugal ocorrem todos os anos cerca de 600 casos de suicídio e 2400 comportamentos para-suicidas, estimando-se que seja a segunda causa de morte de jovens entre os 15 e os 24 anos, logo depois dos acidentes rodoviários.

A adolescência é  uma fase de intensas transformações, ambiguidades e conflitos, em que o jovem pode por vezes entrar por caminhos mais tortuosos e assumir comportamentos agressivos, impulsivos ou mesmo suicidas, como solução para os seus problemas. Sentindo desespero e impotência perante as dificuldades, alguns jovens parecem não encontrar outra solução para o alívio do seu sofrimento intolerável que não seja o suicídio ou o ataque ao seu próprio corpo (Borges & Werlang, 2006), o que pode sugerir que a maioria dos adolescentes que se evolvem em comportamentos auto lesivos, o fazem como forma de regulação emocional ou também de comunicação social. Os jovens mais velhos são os que se encontram em maior risco uma vez que são os que já adquiriram maior autonomia e têm menor supervisão parental.

comportamentos auto lesivos

O suicídio resulta de uma interacção complexa entre factores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais, e não apenas de uma única causa. Têm sido estudados alguns factores que podem potenciar a ocorrência de comportamentos relacionados com o suicídio e entre eles, as perturbações do humor são o factor com maior expressão para o risco de ocorrência destes comportamentos (ex. baixa autoestima, tristeza, ansiedade, dificuldade na regulação dos impulsos, sentimentos de inutilidade ou culpa). No entanto, este problema pode também advir de outro tipo de perturbações, como é o caso da esquizofrenia, bipolaridade ou abuso de substâncias ilícitas, entre outras, que podem conduzir a comportamentos de risco e comprometer a integridade física do jovem. História de abuso sexual, abuso físico ou emocional pode também aumentar o risco de comportamentos auto destrutivos. Embora a ideação suicida e as tentativas de suicídio sejam mais comuns nas raparigas, a taxa de suicídio consumado é consideravelmente mais expressiva nos jovens do género masculino. Estes apresentam uma taxa três vezes superior à do sexo feminino e habitualmente utilizam métodos mais letais e violentos.

Comportamentos auto-lesivosDevemos distinguir ideação suicida de tentativa de suicídio. A primeira corresponde ao início de um continuum que começa no planeamento e preparação do suicídio, ameaça e tentativa de consumação do mesmo, podendo chegar ao seu objectivo último que é a morte (Kachur et al., 1995). Já a tentativa de suicídio é um ato em que a pessoa coloca em perigo a sua vida, de forma voluntária, mas que não resulta em morte (WHO, 2002), sendo que o risco de a repetir nos meses seguintes é elevado. A tentativa de suicídio pode ser uma forma de chamar a atenção e pedir ajuda, porém, pode ser altamente letal, ficando a sobrevivência do jovem dependente da sorte.

O comportamento suicida apresenta-se como uma tragédia pessoal e familiar, uma vez que não provoca sofrimento e dor apenas à pessoa que o comete, mas afecta também em média, cerca de seis pessoas próximas a essa pessoa (WHO, 2002). O tema suicídio é um assunto tabu e que desperta sentimentos de preocupação e angústia, tornando difícil a abordagem ao problema talvez por estar muitas vezes associado a sentimentos de culpa e vergonha. No entanto, se for abordado de forma aberta, poderá ser atempadamente evitado e o problema que o despoletou, ser resolvido.

Comportamentos auto-destrutivosEm contraponto com os factores de risco para o suicídio e para os comportamentos auto destrutivos, encontram-se os factores protectores. Estes factores  incluem o ter confiança em si mesmo, na sua situação e nas suas realizações. Possuir boas competências relacionais e sociais, ter a capacidade de procurar ajuda perante as dificuldades, a oportunidade de procurar e aceitar conselhos e opiniões para a tomada de decisões importantes e ter abertura para a experiência e para a aquisição de novos conhecimentos. Segundo Abreu, Lima, Kohlrausch & Soares (2010) o facto de o adolescente pertencer a uma família funcional, com boas relações de apoio entre os vários elementos, poderá ser um factor de protecção contra tais pensamentos e comportamentos. Nestes casos, o jovem terá menos probabilidade de se envolver em comportamentos suicidas, apresentando características como uma boa integração social, bom relacionamento com os pares e facilidade nos relacionamentos com adultos.

Terapia Cognitivo-ComportamentalA terapia cognitivo-comportamental pode ser uma aliada importante no acompanhamento de adolescentes com ideação suicida ou comportamentos auto lesivos, através de estratégias como a identificação de distorções cognitivas e reestruturação cognitiva, programação de actividades e monitorização das mesmas, aprendizagem e treino de novas competências (ex. treino em resolução de problemas, aptidões sociais, gestão de conflitos) assim como, educação afectiva, regulação emocional e treino em relaxamento. A eficácia deste tipo de intervenção poderá ser potenciada pelo envolvimento da família. A explicação do racional e o estabelecimento dos objectivos da intervenção psicopedagógica pressupõe o fornecimento de estratégias para compreender e lidar com os comportamentos do adolescente. A mudança de significações desajustadas, de expectativas desadequadas, bem como o fortalecimento das relações, baseadas no afecto, compreensão, cumplicidade e confiança, servem de base para o sucesso e para o restabelecimento da harmonia na vida do jovem e da família.

Fique atento ao seu adolescente e peça ajuda psicológica. Não leve o seu filho ao psicólogo apenas quando acha que ele não está bem. Procure ajuda para si mesmo, para melhor lidar com as dificuldades do seu filho!

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