A avaliação psicológica insere-se nas competências profissionais exclusivas do Psicólogo/a e só a este/a é conferida legitimidade para a realização deste trabalho, com recurso a técnicas e instrumentos específicos para o efeito e para cuja utilização está capacitado.
O processo de avaliação psicológica tem início sempre que é pedida a resposta a uma questão ou um parecer profissional sobre um determinado caso ou indivíduo. O Psicólogo/a analisa até que ponto se sente habilitado para dar resposta a esse pedido mas também deve verificar se este se encontra dentro dos critérios éticos estabelecidos pelo código deontológico, que tem por objectivo guiar este profissional de saúde mental, no sentido de práticas de excelência, garantindo que o seu exercício profissional é o máximo ético e não o mínimo aceitável (Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Diário da República, 2.ª série — N.º 78 — 20 de Abril de 2011).
Os princípios gerais da avaliação psicológica pressupõem:
- Análise do pedido, busca e avaliação de questões significativas relacionadas com o sujeito ou com o assunto/problemática em questão, síntese dos aspectos gerais da situação e acordo formal.
- Formulação de hipóteses a testar sobre o caso em termos técnicos, com base na informação recolhida.
- Planeamento e operacionalização através de meios e procedimentos de avaliação.
- Recolha de informação relevante, habitualmente por meio de entrevistas, observação, aplicação de provas, questionários, etc. em suma, os vários instrumentos e formas de recolha de dados.
- Processamento da informação, relacionando dos dados obtidos através da sua análise e extracção de conclusões.
Numa fase posterior o Psicólogo/a deverá reportar a informação obtida, tendo o máximo cuidado em integrar os vários resultados e fornecer a informação o mais clara e completa possível ao cliente (ou outros organismos relevantes). A devolução dos resultados da avaliação deverá ser feita de um modo abrangente e que permita uma compreensão do caso, revelando respeito pelo cliente e pela questão em avaliação. Esta fase deverá incluir ainda a discussão do relatório com o cliente, numa tentativa não só de esclarecimento de duvidas, mas também de analisar até que ponto as circunstâncias iniciais preocupantes, pararam, reapareceram ou se agravaram, de modo a que em conjunto, possam tomar a decisão de avançar efectivamente para uma intervenção/acompanhamento.
O processo de avaliação de crianças e adolescentes, em linhas gerais, levanta problemas de medida similares ao processo de avaliação dos adultos e que se prendem essencialmente com a pertinência das variáveis em análise, a precisão e a validade, no sentido de se ter a certeza de que se está a medir o que efectivamente se pretende. No entanto, quando a avaliação se aplica num contexto infanto-juvenil, convergem uma série de características que se distanciam da avaliação dos adultos. Por um lado, o Psicólogo/a tem que ter em consideração o facto de as crianças estarem num processo de desenvolvimento e de mudança contínua muito mais acelerado que o dos adultos. Por outro lado, as crianças e os adolescentes, estão imersos em contextos educativos, familiares e sociais, altamente determinantes da sua conduta e com grande influência no seu desenvolvimento, pelo que tais contextos não devem ser excluídos do processo de avaliação.
Por último, uma criança ou um adolescente, em consequência da sua idade, oferece uma série de dificuldades intrínsecas ao próprio processo, como por exemplo, as suas capacidades de colaboração serem limitadas em maior ou menor grau pelas características evolutivas em termos de linguagem, actividade motora, cognições, etc., o que pode prejudicar por exemplo a auto-avaliação, uma vez que pode comprometer o seu valor informativo.
Assim, os vários aspectos do desenvolvimento não ocorrem isoladamente, cada um afecta o outro. Muitas das mudanças típicas durante a infância estão relacionadas com a maturação – as diferenças individuais aumentam à medida que a criança cresce. O contexto familiar, o nível socioeconómico e o grupo étnico ou cultural são factores também a considerar. Os acontecimentos de vida não-normativos são invulgares em si mesmos e relativamente ao momento em que ocorrem, devendo por isso ser enquadrados e analisados, através de uma visão desenvolvimentista e não absoluta e igualitária, que não considera a idade do sujeito em avaliação.
Fontes: Fernández-Ballesteros et al, 2001; Papalia, D. E., Olds, S. W. & Feldman, R. D., 2001; Santacana, M. F. 1993.