Chegou a época dos testes! Vou ter exame, ai agora…

O medo e a ansiedade são naturais ao ser humano, desempenhando um papel muito importante no comportamento e na sobrevivência. É porque temos medo que nos protegemos e nos defendemos dos perigos que percecionamos. No entanto, medo em excesso pode interferir de forma muito negativa na nossa vida, uma vez que nos pode comprometer a nossa funcionalidade.

 Em contexto escolar, a ansiedade dos alunos perante a perspetiva de um teste é um fenómeno particularmente difícil. A ansiedade gerada pela avaliação, ou seja, a ansiedade de desempenho, principalmente em contexto formal, como é o caso de testes e exames, ou até mesmo informal, como a leitura de uma poesia em família, é sempre mais ou menos perturbadora. Ser avaliado corresponde a uma situação complexa que reúne várias dimensões (cognitiva, emocional, fisiológica e comportamental). Em termos teóricos, a ansiedade de desempenho face a um teste pode assumir duas formas distintas: como traço ou como estado. Enquanto traço, a ansiedade corresponde a uma predisposição psicológica para reagir com o mesmo nível de ansiedade (alto ou baixo) a um conjunto indiscriminado de situações. Enquanto estado (ou sobrecarga) a ansiedade acontece em situações esporádicas, como um exame particularmente difícil ou para o qual o aluno não se sente devidamente preparado.

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Uma disfunção sexual no feminino

Até há algum tempo, os assuntos relacionados com disfunções sexuais eram considerados tabu e poucos ousavam expressar as suas dificuldades a esse nível ou pedir ajuda. Hoje em dia, há muita investigação acerca deste tipo de perturbações e é-lhes atribuída uma importância maior, no sentido de que a sua abordagem e intervenção, podem constituir uma melhoria significativa na qualidade de vida do indivíduo.

Dentro do quadro das disfunções sexuais podem ser descritos vários tipos de perturbação, que podem afetar tanto o homem, como a mulher. Estas incluem a disfunção erétil, a perturbação de dor genitopélvica (penetração) a perturbação do interesse sexual feminino ou masculino ou a perturbação do orgasmo feminino, entre outras. Esta é uma área da saúde mental que também pode ter na sua origem fatores orgânicos e fisiológicos, no entanto, tanto psiquiatras como psicólogos, têm atualmente ao seu dispor, formação especializada, no sentido de permitir uma avaliação e intervenção eficaz de ajuda à pessoa que de uma perturbação deste tipo padece. Quaisquer que sejam as causas e/ou consequências destas perturbações, o sofrimento emocional pode ser muito perturbador e levar a m decréscimo acentuado da felicidade e bem-estar do indivíduo.

Uma das perturbações do foro sexual muito comum é a perturbação do orgasmo feminino. Considera-se que a mulher tem uma perturbação deste tipo se em cerca de 75% a 100% das vezes em que há atividade sexual, o orgasmo é marcadamente atrasado (ou inexistente) ou a intensidade das sensações orgásticas é marcadamente reduzida. Para que seja considerado o diagnóstico, as referidas dificuldades devem persistir pelo menos há 6 meses e causar um mal-estar clinicamente significativo à mulher. Excluem-se dos critérios de diagnóstico os casos em que estas dificuldades ocorrem por dificuldades relacionais graves (ex. violência do parceiro) ou de outros fatores de stresse significativos, ou ainda efeitos de substâncias/medicamentos ou outra condição médica.

A perturbação do orgasmo feminino pode ocorrer ao longo da vida se está presente desde que a mulher se tornou sexualmente ativa, ou pode ser adquirida, se iniciou após um período de função sexual considerado normal. Pode ainda caracterizar-se como generalizada, se não se limita a certos tipos de estimulação, de situação ou de parceiro, ou situacional, quando ocorre apenas com certos tipos de estímulos, situações ou parceiros. Em termos de gravidade, a perturbação pode ir de ligeira a extrema, dependendo do nível de mal-estar e sofrimento causado pela dificuldade em experienciar o orgasmo. As mulheres apresentam uma enorme variabilidade no que diz respeito ao tipo ou intensidade da estimulação que desencadeia o orgasmo. Do mesmo modo, as descrições subjetivas do orgasmo são muito variadas, sugerindo a existência de múltiplas formas de o atingir, tanto por mulheres diferentes como pela mesma mulher mas em circunstâncias diferentes.

Para um diagnóstico de perturbação do orgasmo feminino, as dificuldades deverão ser experienciadas em todas ou quase todas as ocasiões de atividade sexual. O uso de critérios mínimos de gravidade e de duração serve para diferenciar as dificuldades que podem ser transitórias, de uma disfunção mais persistente. Em alguns casos desta perturbação, as causas são multifatoriais ou não se conseguem determinar. Se se consegue provar que a perturbação apresentada é mais bem explicada por outra perturbação do foro mental, pelo efeito de uma substância ou medicamento ou ainda por outra condição médica, então não deve ser feito o diagnóstico como perturbação do orgasmo feminino. Se estiverem presentes fatores contextuais ou interpessoais significativos, como problemas relacionais graves ou outros importantes fatores de stresse, também não será um caso deste tipo de perturbação. Se se verificar que a mulher não atinge o orgasmo devido a uma estimulação sexual inadequada, poderá haver necessidade de intervenção, contudo, não deve ser feito o diagnóstico de perturbação do orgasmo feminino.

De um modo geral, não se encontra associação entre traços de personalidade específicos ou psicopatologia e disfunção orgásmica. Comparativamente às mulheres sem disfunção sexual, as mulheres com perturbação do orgasmo feminino podem apresentar maior relutância em falar abertamente acerca destas questões. No entanto, a satisfação sexual global parece não estar totalmente relacionada com a experiencia orgástica. Muitas mulheres referem elevados níveis de satisfação sexual, apesar de raramente atingirem o orgasmo. As dificuldades a este nível, nas mulheres, estão muitas vezes relacionadas com o interesse e a excitação sexuais.

Ao avaliarem-se estes casos, devem também ser levados em consideração outros fatores que podem ser relevantes para a etiologia ou tratamento. Entre eles, os problemas sexuais do parceiro, fatores médicos relevantes, fatores relacionais como uma comunicação pobre, discrepâncias quanto ao desejo de atividade sexual, fatores de vulnerabilidade emocional como fraca imagem corporal, presença de problemas de ansiedade ou depressão, história prévia de abuso sexual e ainda fatores culturais ou religiosos. Em mulheres com perturbação do orgasmo, cada um dos referidos fatores pode contribuir de forma distinta para a apresentação dos sintomas. Em termos de prevalência, as taxas relatadas para esta perturbação vão desde os 10% aos 42%, dependendo de múltiplos fatores como a idade, a cultura a duração ou a gravidade dos sintomas. Porém, estas estimativas não levam em linha de conta a presença de mal-estar, pois apenas uma pequena proporção de mulheres que experienciam dificuldades ao nível do orgasmo, refere também mal-estar associado. Estudos apontam para que cerca de 10% das mulheres não experienciam o orgasmo ao longo da sua vida.

Quanto aos fatores de risco podemos considerar os temperamentais, ambientais e genéticos ou fisiológicos. Os primeiros prendem-se com questões relacionadas por exemplo com ansiedade ou preocupação em engravidar. Os fatores ambientais mais relevantes serão os problemas relacionais ou a saúde física ou mental. De referir ainda os fatores socioculturais como expetativas quanto aos papéis de género ou convicções religiosas. Os fatores fisiológicos são muito diversos e podem incluir condições médicas e efeitos dos medicamentos. Mulheres com lesão dos nervos pélvicos, lesão da espinal-medula ou atrofia vulvovaginal podem ter maior dificuldade ou mesmo incapacidade para experienciar o orgasmo. Por outro lado, a menopausa não está consistentemente associada a dificuldades deste tipo. A contribuição genética pode ser significativa para a variabilidade da função orgástica feminina, contudo, parece haver uma forte evidência de que os fatores psicológicos, socioculturais e fisiológicos interajam de forma complexa de modo a influenciar de forma negativa a experiencia feminina do orgasmo.

Fonte: DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.

Demências: Alzheimer

A demência pode definir-se como a perda de funções mnésicas, deterioração do nível de funcionamento adaptativo e pela presença de, pelo menos, um outro sinal de um défice cognitivo major. As mudanças características da demência ocorrem a nível cognitivo, funcional e comportamental.

A origem da demência pode ser de causas múltiplas e diversificadas, podendo estar relacionada com doenças psiquiátricas (ex. depressão, esquizofrenia), com intoxicações causadas por químicos ou metais, com doenças inflamatórias dos vasos sanguíneos, como lesões cerebrais (ex. tumores, esclerose múltipla) ou ainda com défices vitamínicos (ex. vitamina B12 ou ácido fólico). Podemos distinguir dois tipos de demências: as subcorticais e as corticais. As demências subcorticais estão associados a disfunções da estrutura da matéria cinzenta subcortical e das projeções do lobo frontal. Estas afetam entre outros, os processos cognitivos (lentificação), revelando-se por défices ao nível da atenção e da memória, com dificuldade na recordação de informação aprendida, apesar da preservação do reconhecimento. As funções executivas ficam afetadas desde a fase inicial, existindo dificuldade na resolução de problemas, diminuição da fluência da linguagem, humor depressivo, apatia, falta de energia e défices ao nível do sistema motor (ex. tremores, alteração da postura, da marcha e da coordenação). Duas perturbações representativas deste tipo de demência são a doença de Pakinson e a doença de Huntigton.

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Será que o meu filho já tem idade para ir ao psicólogo?

Psicólogo infantilSou questionada algumas vezes sobre a partir de que idade, pode uma criança beneficiar de acompanhamento psicológico. Pais e cuidadores preocupam-se frequentemente com o bem-estar das suas crianças mas têm ainda alguma relutância em procurar o psicólogo. Será que há mesmo uma idade pré-definida para que se possa beneficiar do acompanhamento psicológico?

A razão mais frequente para se evitar procurar a ajuda do psicólogo prende-se com questões sociais, pois por vezes há ainda o mito de que o psicólogo serve para ajudar apenas “os malucos”, no entanto, essa tendência está a diminuir uma vez que as pessoas estão cada vez mais informadas. Porém, reconhecer que se precisa de ajuda pode significar para os pais alguma incapacidade no desempenho do seu nobre papel. Por outro lado, os pais por vezes tendem a pensar que os problemas se resolvem por si só. E não estão completamente enganados. Alguns comportamentos típicos das crianças e que deixam os pais com os “nervos em franja” têm a ver com a imaturidade do bebé e de facto, numa perspetiva desenvolvimentista, resolvem-se simplesmente com o passar do tempo. Porém, há outros comportamentos ou situações que podem ser indicadores de algum tipo de perturbação, que pode ser séria, ou que não sendo propriamente muito grave, pode ter um impacto muito negativo na vida criança e da família e que pode ser resolvida com uma intervenção breve e precoce. Continue a ler “Será que o meu filho já tem idade para ir ao psicólogo?”

A criança deprimida não está só triste, está doente…

DepressãoUma criança deprimida não é o mesmo que uma criança triste. A tristeza é um sentimento normal que surge em consequência de um acontecimento relacional, físico ou outro. A tristeza tem uma duração curta não tendo efeitos significativos na funcionalidade da criança. A depressão é outra coisa…

A tristeza decorrente de um estado depressivo é duradoura, intensa e perturbadora da funcionalidade normal da criança e do seu equilíbrio. A criança deprimida apresenta habitualmente falta de vontade para brincar, queixas frequentes de cansaço, dores de cabeça ou de barriga, irritabilidade, choro fácil, problemas de sono, problemas alimentares, dificuldades de concentração e atenção, enurese, tendência para o isolamento, baixa autoestima, entre outros sintomas como a culpa e a inferiorização, podendo em casos mais extremos conduzir ao suicídio. Estes sintomas podem passar despercebidos ou serem confundidos com birras ou timidez, no entanto, se os sintomas persistirem por mais de 2 semanas é aconselhável que a criança seja avaliada, quer em termos fisiológicos, pelo pediatra, quer em termos psicológicos e emocionais, pelo psicólogo. Continue a ler “A criança deprimida não está só triste, está doente…”

Desenvolvimento psicomotor: entre o “normal” e o “anormal”

Desenvolvimento psicomotor

A normalidade do desenvolvimento psicomotor é definida pelos limites da idade em que a criança faz as suas diversas aquisições e pela qualidade das mesmas.

Podemos considerar normal ou normativo um desenvolvimento psicomotor em que a criança adquire as suas competências dentro da idade determinada, mas também pela adequação da sua funcionalidade. Porém, a definição de normalidade ou de anomalia não é determinante, isto é, não há um limite ou uma fronteira bem definida da idade normativa de aquisição dessas mesmas competências. O que é normal ou não, situa-se num contínuo, e, se corresponde àquilo que acontece habitualmente, no que diz respeito ao neurodesenvolvimento não é diferente. Assim, como exemplo, em termos de aquisições e de competências, a aquisição da marcha ocorre em média por volta dos 15 meses, sendo também normal que aconteça entre os 9 e os 18. Deste modo, e uma vez que esta definição se baseia em observações nas quais se verifica que os bebés começam a andar até aos 18 meses, passando este limite, habitualmente observam-se outras alterações do desenvolvimento psicomotor, como por exemplo o atraso do desenvolvimento da fala. Continue a ler “Desenvolvimento psicomotor: entre o “normal” e o “anormal””

Intervenção no luto

Luto e psicologiaO luto éuma reação à perda de um ente querido ou de algo mais abstrato em seu lugar, como por exemplo, o trabalho, um relacionamento, a pátria ou até mesmo uma ideologia.

O modelo dual de intervenção no luto proposto por Stroebe & Schut (1999) tenta compreender as reações dos indivíduos às perdas, sugerindo um modelo de compreensão do processo de se lidar com a perda e de adaptação ao luto. Neste modelo os autores propõem a coexistência de três dimensões ou componentes: (a) orientação para a perda, (b) orientação para o restabelecimento e (c) oscilação. Este processo de adaptação ao luto defende a existência de uma dinâmica de oscilação do indivíduo enlutado entre o confronto orientado para a perda e o confronto orientado para o restabelecimento.

Intervenção psicológica no lutoNo conforto orientado para a perda o enlutado disponibiliza-se para elaborar a perda, vivenciar a dor, a ausência, os medos, traduzindo-se numa abertura para trabalhar estes aspetos. O confronto orientado para o restabelecimento diz respeito ao investimento na vida e na realidade que o rodeia, traduzindo-se na reorganização da vida. Este processo dinâmico é fundamental para uma adaptação satisfatória, funcionando como um mecanismo regulatório que integra e organiza internamente, quer o confronto orientado para a perda, quer o confronto orientado para o restabelecimento.

Psicologia no apoio ao lutoConsiderar em simultâneo as duas dimensões é muito difícil, mas como é necessário atender a ambas, a oscilação é um processo indispensável e, muito possivelmente, um dos melhores informativos do desenvolvimento da experiência do luto. O valor que os autores atribuem ao processo de oscilação, tratando-se de um processo de ‘coping’ (lidar com), que regula os esforços de adaptação do indivíduo, em paralelo com a proposta de que um ‘coping’ adaptativo seria constituído tanto por stressores de perda como de restabelecimento, que se traduz numa oscilação enquanto indicador do processo.

LUTOA tomada de decisão por parte do enlutado, está sempre presente na medida em que pode optar pela atenção dada ao stresse gerado pela perda ou pela supressão da dor e centrar-se na adaptação a uma realidade externa alterada. Partindo deste modelo, o psicoterapeuta assume o papel de facilitador, sensibilizando os seus clientes na tomada de decisão inerente a este processo ativo, ajudando-os a discriminar as implicações que advêm de cada uma das suas decisões, que podem ser tomadas de uma forma consciente ou inconsciente.

A elaboração do luto continua a ser necessária e o tipo de vinculação à pessoa falecida constitui um fator altamente determinante nas intervenções com enlutados. O indivíduo enlutado deve tornar-se capaz de aceitar a realidade da perda e reorganizar a sua vida sem o objeto perdido. Vários autores defendem que, quanto mais complicado for o processo de luto, maiores serão as hipóteses de que a psicoterapia contribua para resultados satisfatórios.

Apoio psicológico no lutoAssim, as intervenções com pessoas enlutadas devem ser principalmente dirigidas para pacientes com riscos sociodemográficos e circunstanciais, sejam elas pessoas sem apoio familiar, social e financeiro, que vivam sós ou cujo luto seja consequência de mortes violentas, traumáticas ou em massa. Parece também relevante dar especial atenção a situações de mães e esposas, sobretudo se a relação com o falecido tiver características de dependência. Indivíduos que apresentem ideação suicida devem ser considerados prioridade, assim como os que manifestaram transtornos psiquiátricos prévios à perda. Sujeitos que tenham sido vítimas de abuso ou negligência parental na infância podem igualmente obter grandes benefícios com a psicoterapia.

Processos de luto

“Para além da felicidade e do rir, também a tristeza e o chorar, são elementos intrínsecos ao facto de estar vivo, bem como na elaboração das perdas significativas”.

 

 

Bibliografia

Barbosa, A., (2013). Olhares sobre o Luto. Lisboa: AIDMFL.

Parkes, C.M. (2006). Love and loss: The roots of grief and its complications. London: Routledge.

Stroebe, M. S., & Schut, H. (1999). The dual process model of coping with bereavement: Rationale and description. Death Studies, 23, 197-224.

 

Psicologia do trabalho e desenvolvimento de carreira

Psicologia do trabalhoA psicologia do desenvolvimento e gestão de carreira no contexto das organizações tem como foco o estudo da relação entre o individuo e a organização onde trabalha, no sentido de sustentar o desenvolvimento das pessoas, encontrar respostas às necessidades das organizações e procurar um compromisso entre a estratégia organizacional e as aspirações de cada trabalhador.

A psicologia do desenvolvimento e gestão de carreiras tem como propósito o apoio à resolução de problemas que possam derivar da relação entre o indivíduo e a organização. Esta área da psicologia teve o seu início nos anos 60 do séc. XX, abarcando dois domínios: o domínio interdisciplinar no estudo do individuo e domínio multidisciplinar na compreensão da organização. Com o advento desta área da psicologia, o trabalhador passou a ser visto como colaborador e foi dado relevo à sua relação com a organização. Desde então nota-se uma tendência para o fim do conceito de “emprego para a vida” e a ascensão na empresa por anos de trabalho leal e dedicado. O conceito tradicional de carreira como aumento do salário ou promoção automática torna-se também menos comum.

Psicologia das organizaçõesNo passado não eram valorizados nem a motivação nem o auto-desenvolvimento do trabalhador. Atualmente parece haver a responsabilidade do empregado aprender a gerir a sua carreira, e da empresa, em promover programas de desenvolvimento de carreira, visando a sobrevivência e satisfação de ambos, ou seja, passou a haver uma responsabilidade partilhada. Promove-se também hoje em dia, a construção de uma teia de relações e responsabilidade crescente, que se tem vindo a estabelecer entre o individuo em busca de percursos de desenvolvimento de satisfação pessoal e a organização, que reúne as condições necessárias para mobilizar essa procura.

Desenvolvimento de carreiraO mundo do trabalho modelou o conceito de carreira na medida em que após a revolução industrial e das mudanças socioeconómicas daí decorrentes, as profissões diversificaram-se e foi necessário ajudar as pessoas e encontrarem o emprego certo. Anteriormente o modelo vigente era centrado exclusivamente nos objetivos da organização e era orientado para a determinação de regras rígidas voltadas para a realização de tarefas e a incrementação do rendimento, ignorando as relações sociais e as necessidades das pessoas, sendo o conceito de carreira baseado somente na progressão hierárquica.

A Psicologia vocacional, que visa a adequação do individuo ao trabalho, ou seja, colocar o homem certo no lugar certo, passou a ser integrada desde cedo na vida dos jovens estudantes. Em termos de emprego e carreira, passou a olhar-se para as características individuais e não apenas para o coletivo. Passou a haver uma nova forma de o individuo assumir responsabilidades e tarefas consistentes com as suas características pessoais assim como a oportunidade de promoção para aqueles que revelem potencial adequado, avaliado com base na sua formação e experiencia de trabalho. A carreira é própria do individuo, das posições que vai ocupando ao longo da vida, dos papéis que vai desempenhando enquanto trabalhador e no acumular de experiencias, o que também inclui aspirações, expectativas, necessidades e sentimentos.

Carreira e profissãoA importância crescente do indivíduo decorre da importância estratégica da gestão dos recursos humanos. São vários os elementos para promoção de sistemas de desenvolvimento e gestão de carreiras flexíveis que promovam satisfação e sucesso para o colaborador e para a organização, nomeadamente a criação e desenvolvimento de mecanismos de detenção de informação, o reconhecimento, a integração dos colaboradores na cultura da organização e o desenvolvimento de sistemas de recompensa pelo seu desempenho e desenvolvimento, entre outras.

Os modelos mais recentes referem abordagens centradas no individuo/situação. A recolha de informação que permitam melhores decisões e o apoio dos familiares e amigos, por parte do trabalhador e a disponibilização de recursos e de apoio por parte da empresa, conduzem a um modelo de obrigações reciprocas. O reconhecimento mutuo e a renegociação são o ponto de equilíbrio entre aquilo que o individuo pode oferecer e aquilo que a organização espera dele.

O Desenvolvimento e gestão de carreiras é um processo de interações contínuas na ajuda de resolução de problemas, que enquadra os processos de tomada de decisão de forma sistemática e realista e que permite conjugar necessidades individuais com necessidades da organização. Em termos de técnicas de intervenção destacam-se o desenvolvimento do auto-conhecimento e das variáveis situacionais, a ajuda na aplicação de estratégias de carreira e as ações de informação retroativa num sistema bidirecional de estabelecer planos de carreira de acordo com a estratégia previamente definida.

Psicologia dos recursos humanosA avaliação psicológica individual deverá permitir capitalizar o que de melhor o individuo tem para dar à organização ao mesmo tempo que a psicologia da construção da vida deverá promover a adequação da pessoa aos novos contextos em que o trabalho e emprego se desenvolvem. A carreira do individuo desenvolve-se através do modo como ele perceciona a realidade e a ela se adapta, sem renegar a sua personalidade e as linhas estruturantes da sua história pessoal. Os paradigmas atuais devem considerar as diferenças individuais em oposição à uniformização que conduziu nos tempos modernos, à mecanização dos comportamentos. No futuro, espera-se uma teoria psicológica que vise a promoção do sucesso e que procure a construção como fonte de satisfação. Outro desafio que se apresenta é o apoiar e escutar o individuo, bem como a organização, de forma harmoniosa,  enquanto agentes ativos do constante processo de integração, neste novo mundo em que a informação está ao alcance de um clique.

Sugestão:

http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v17n4/v17n4a02.pdf

 

Esquemas mentais, memória e formação de impressões

Esquemas mentaisFormar uma impressão significa organizar a informação disponível acerca de uma pessoa de modo a podermos integrá-la numa categoria significativa para nós.

Tendo como base a psicologia cognitiva, a abordagem da formação de impressões que tem como base a memória, tem o objectivo de analisar os processos cognitivos relacionados com aquisição, armazenamento e recuperação de informação. Assim sendo, é através dos esquemas mentais, isto é, estruturas cognitivas formadas por categorias, conceitos e conhecimentos anteriores, que são utilizados de modo a dar coerência e sentido à nova informação de modo a categorizar e até avaliar uma pessoa quando num primeiro contacto formamos uma impressão.

Esquemas mentais e memóriasOs esquemas mentais influenciam a codificação da informação nova, a memória de conhecimentos anteriores e permitem-nos inferir sobre informação ausente assim como prever acontecimentos futuros. Interpretamos o comportamento da outra pessoa baseando-nos na nossa memória, isto é, nos nossos conhecimentos e informações anteriores como por exemplo os traços de comportamento e os estereótipos, tornando-se  os processos de memória fundamentais para a formação de impressões.

Fonte:

Vala, J., & Monteiro, M. B. (Eds.). (2001 Psicologia Social (6ª ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

 

 

Porque cortas os teus braços?

DepressãoA adolescência é uma fase do desenvolvimento humano marcada pela mudança, vulnerabilidade, ambivalência e por vezes incompreensão, angústia e rebeldia. Crescer é difícil e nesta fase os jovens têm por vezes dificuldades de expressão emocional, de estabelecerem relacionamentos positivos e de lidarem com algumas questões próprias desta etapa da vida, que marca a transição entre a infância e a idade adulta.

Por vezes, os adolescentes utilizam estratégias não adaptativas e traumáticas que incluem cortar-se, queimar-se ou morder-se, entre outras, numa tentativa de se libertarem da tristeza, dor emocional, desespero, desesperança, culpa, ansiedade ou raiva que sentem, depois de já terem utilizado todas as estratégias que conhecem, para comunicar o seu estado emocional. Os comportamentos auto lesivos são fenómenos multicausais, resultado de complexas interacções entre factores genéticos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Por essa razão não são actos que possam ser olhados isoladamente, sem que seja enquadrada a realidade da vida do jovem, no que diz respeito aos vários contextos em que se insere.

PsicopatologiaÉ relativamente frequente, os pais destes jovens não terem conhecimento do que se está a passar com os seus filhos. Alguma dificuldade na comunicação, que caracteriza a relação pais-filhos adolescentes, pode explicar este desconhecimento. Mesmo quando estão a par desta realidade, alguns pais têm dificuldade em nomear e lidar com os comportamentos auto lesivos dos filhos, ou porque lhes provocam um bloqueio emocional ou como mecanismo de defesa, acabam por desvalorizar ou ignorar. Há muitas vezes um desencontro entre as narrativas dos adolescentes em relação aos comportamentos de auto lesão e as dos seus pais, o que por um lado traduz um choque por terem tomado conhecimento do problema mas por outro lado, porque o procuram esconder.

Depressão

O conflito familiar, as discussões repetidas e mantidas entre o casal, a violência física e/ou psicológica, as dificuldades na comunicação entre os vários elementos da família, a separação/divórcio marcada pelo litígio, o sentimento de abandono, o conflito entre os pares, o bullying ou as zangas e desencontros na vida amorosa, constituem-se entre muitos outros, como determinantes para os comportamentos auto lesivos. Num relato marcado pela emoção, J. P., uma jovem de 16 anos dizia: “O meu irmão parece que não liga, nada o perturba mas eu, não suporto a forma como o meu pai fala com a minha mãe. Ele grita com ela a toda a hora e desvaloriza-a constantemente por ser mulher. Eu evito chorar para que ela não sofra ainda mais mas depois, não aguento a dor no peito que me sufoca, fecho-me na casa de banho e faço cortes nos braços para abafar essa dor. Nada é pior do que a tristeza que sinto no meu peito”. Quando a dor emocional se torna insuportável, por vezes os adolescentes sentem a necessidade de sentir dor física, como única forma de alívio. O que fazer, como ajudar?

SuicídioA prevenção é a palavra-chave. Alertar a comunidade escolar para este tipo de problemas e desenvolver programas de prevenção bem estruturados, pode ser um bom princípio. Estes programas deverão contemplar variáveis como a detecção precoce e tratamento dos problemas mentais, assim como a redução do estigma a eles associado. A restrição do acesso a armas ou medicamentos e o controlo do consumo de bebidas alcoólicas é certamente um caminho para prevenção. É também necessária a formação dos profissionais dos meios de comunicação para os perigos do efeito de contágio. A criação de linhas telefónicas de apoio, maior acessibilidade aos serviços de saúde e a formação dos pares para a identificação dos sinais de alerta, têm também o seu papel na prevenção destas práticas auto destrutivas.

Fatores protetores suicídioPara além disso, a promoção e a manutenção de relações próximas saudáveis pode aumentar a resiliência individual e actuar como um factor de protecção. Jovens pertencentes a famílias com elevado grau de coesão, com capacidade de envolvimento mútuo, interesses comuns e suporte emocional têm menor risco de vir a adoptar este tipo de comportamentos auto destrutivos. Escolhas saudáveis de estilo de vida que promovam o bem-estar físico e mental (exercício físico regular, hábitos de higiene de sono, alimentação adequada, não utilização de álcool e drogas). A par destes hábitos saudáveis, a manutenção de relacionamentos saudáveis, a integração social, e uma gestão eficaz do stress, são também factores protectores para comportamentos auto lesivos. O sentimento de pertença a uma família, a uma escola, a um grupo, a uma instituição ou a uma comunidade, pode também proteger os adolescentes desta problemática.

SuicídioEm casos extremos, em que os comportamentos auto lesivos entram numa escalada que pode levar a tentativas de suicídio, pode ser necessário o internamento do jovem em contexto hospitalar. Pode ser necessária a intervenção psiquiátrica com prescrição de fármacos no sentido de estabilizar o jovem. Posteriormente, após uma avaliação cuidada, a intervenção psicológica individual, familiar ou uma abordagem mista, poderá ser o indicado. A maioria dos comportamentos auto lesivos acontecem em casa e muitas vezes estão relacionados com acontecimentos do meio intrafamiliar. Assim, o envolvimento familiar é essencial, no sentido de falarem sobre o problema, de o compreenderem e de saírem eventualmente da negação ou de ultrapassarem o choque inicial da tomada de conhecimento. A saúde mental deve ser uma prioridade e os adolescentes não são excepção. Muitos dos problemas emocionais e psicológicos têm inicio nesta fase da vida. As perturbações de ansiedade e depressão, por exemplo, são bastante prevalentes nesta faixa etária.

Comportamentos autolesivosO não tratamento destas patologias pode levar tanto à sua cronicidade, como a evoluir para outras situações que podem levar a desfechos trágicos. Sabe-se hoje que os comportamentos auto lesivos são um forte preditor para as tentativas de suicídio. É fundamental que os pais e cuidadores se mantenham atentos aos comportamentos dos seus jovens e que estabeleçam e mantenham com eles, relações de afecto e proximidade. Ensinar aos jovens estratégias de resolução de problemas, de comunicação assertiva e facilitar-lhes a expressão emocional, assim como desmistificar crenças erróneas e fantasias, por vezes tão frequentes nesta idade, pode fazer a diferença entre a vida, e a morte.

Se o seu caminho está difícil de trilhar sozinho, procure ajuda. É também para isso, que serve um Psicólogo.