Uma criança deprimida não é o mesmo que uma criança triste. A tristeza é um sentimento normal que surge em consequência de um acontecimento relacional, físico ou outro. A tristeza tem uma duração curta não tendo efeitos significativos na funcionalidade da criança. A depressão é outra coisa…
A tristeza decorrente de um estado depressivo é duradoura, intensa e perturbadora da funcionalidade normal da criança e do seu equilíbrio. A criança deprimida apresenta habitualmente falta de vontade para brincar, queixas frequentes de cansaço, dores de cabeça ou de barriga, irritabilidade, choro fácil, problemas de sono, problemas alimentares, dificuldades de concentração e atenção, enurese, tendência para o isolamento, baixa autoestima, entre outros sintomas como a culpa e a inferiorização, podendo em casos mais extremos conduzir ao suicídio. Estes sintomas podem passar despercebidos ou serem confundidos com birras ou timidez, no entanto, se os sintomas persistirem por mais de 2 semanas é aconselhável que a criança seja avaliada, quer em termos fisiológicos, pelo pediatra, quer em termos psicológicos e emocionais, pelo psicólogo.
Em termos de causas, a depressão infantil pode ter na sua origem situações traumáticas como o conflito na família, violência parental, psicopatia parental ou abuso de substâncias, abusos sexuais, situações de bullying, divórcio ou separação dos pais, mudança de escola ou de casa, afastamento da criança de pessoas significativas ou morte dos pais, de um amigo ou até mesmo de um animal de estimação. Todas estas situações podem causar depressão infantil ou não, dependendo da vulnerabilidade da criança, daí que sejam fatores possíveis mas não determinantes em todos os casos. Felizmente, nem todas as crianças que mudam de escola ou que vêm os seus pais separados, entram em depressão.
E o que podem os pais e outros cuidadores fazer para lidarem com a depressão infantil? O tratamento da depressão infantil, consoante a gravidade do caso, poderá necessitar de incluir o pediatra, o psiquiatra, o psicólogo e de envolver os pais e outros familiares próximos, professores ou educadores. O trabalho em equipa multidisciplinar é fundamental para o tratamento desta patologia. Nos casos moderados ou graves, o tratamento deverá prolongar-se pelo menos por 6 meses no sentido de prevenir recaídas. Habitualmente, em crianças até aos 8 anos, o tratamento da depressão é feito com recurso a um psicólogo pediátrico. Em crianças mais velhas e adolescentes, pode ser necessário o recurso a uma intervenção medicamentosa com antidepressivos, estabilizadores do humor ou antipsicóticos, dependendo assim de um acompanhamento conjunto, com o psicólogo, o psiquiatra e o pediatra. Para além das consultas com os referidos profissionais, a criança deverá ser incentivada pelos adultos com quem lida diariamente, a interagir com os seus pares, a praticar atividades físicas e a participar em atividades lúdicas ao ar livre.
Uma criança que está deprimida é uma criança que está doente e pode não ser fácil lidar com ela. Recomenda-se aos pais e outros cuidadores que se encham de paciência e boa-vontade e que ajudem a criança a ultrapassar uma fase que pode ser muito dura para ela. Deve-se respeitar os sentimentos da criança, revelando compreensão e empatia. É fundamental que se incentive a criança a desenvolver as atividades de que gosta, mas sem causar pressão para o seu desempenho. Elogiar e reforçar a criança em cada um dos seus sucessos ao invés de a corrigir em frente a outras pessoas, poderá ajudar a criança a recuperar a sua autoestima. É também muito importante que se dê muita atenção à criança e que se evite que esta se isole no quarto ou em frente à televisão ou outros meios de comunicação eletrónicos, para que se sinta acompanhada e apoiada, logo, mais segura. Deve-se ainda prestar atenção à alimentação da criança bem como à manutenção de bons hábitos de higiene do sono. Todas estas estratégias podem ser muito eficazes para que a criança ultrapasse o problema e o seu equilíbrio e funcionamento sejam restabelecidos.
Dê atenção aos sinais e não deixe de procurar a Sua Psicóloga, no caso de suspeitar que algo se passa com a sua criança.
Sugestão:
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