A entrevista motivacional é considerada por si só, não apenas como uma trivial entrevista de recolha de informação mas principalmente como um modelo de intervenção terapêutica. Baseada em constructos da psicologia social experimental como, por exemplo, a atribuição causal, a dissonância cognitiva e a auto-eficácia, esta entrevista tem características muito específicas e uma eficácia cientificamente comprovada.
Trata-se de um conjunto de estratégias relacionais que em contexto de intervenção terapêutica, tem revelado ser promotora de comportamentos orientados para a saúde. A entrevista motivacional tem sido descrita como um modelo de intervenção constituído por duas fases: a primeira fase enfatiza a promoção da motivação intrínseca e a segunda fase, baseia-se no compromisso para a mudança. Pretende-se através deste modelo que o sujeito possa entender a importância da mudança para a sua vida e para o seu bem-estar.
Os princípios desta intervenção são a reflexão empática, o desenvolvimento de discrepância, a “dança” com a resistência e a promoção da auto-eficácia. A entrevista motivacional integra os princípios da terapia centrada no cliente com outras estratégias de intervenção mais directivas (e. g. modelos cognitivo-comportamentais), utilizadas em função da fase de mudança em que o indivíduo se encontra. Orientada para a mudança, a entrevista motivacional confere maior ênfase à resolução das discrepâncias e à promoção da motivação para a mudança. A ambivalência constitui-se como um conceito central neste modelo, sendo entendida como a relutância para mudar, apresentada pelo indivíduo. Esta ambivalência é vista como uma experiência humana normativa e não como uma patologia ou como uma atitude desafiante ou defensiva por parte do cliente face ao apoio do psicólogo. É fundamental trabalhar a ambivalência no sentido de se conseguir a mudança desejada. O conceito de resistência, na entrevista motivacional, é entendido como um processo interpessoal e relacional que emerge no contexto da relação terapêutica e que implica objectivamente uma atitude proactiva por parte do psicólogo, no sentido de resolver o impasse.
Por vezes o indivíduo mostra dificuldades em aderir ao plano de mudança, e expressa-as pela ambivalência. Verbalizações como “Tentei começar a ir ao ginásio esta semana mas senti-me muito cansada para o fazer” ou “Fazer caminhadas não é do meu agrado, tem que me arranjar outra alternativa”, podem ilustrar as dificuldades do sujeito em aderir ao plano de mudança de comportamentos, e consequentemente, dificultadores do cumprimento dos objectivos terapêuticos. Assim, e na perspectiva da entrevista motivacional, qualquer intervenção que vise a implementação da prática de exercício físico, por exemplo, só poderá resultar se houver um investimento terapêutico no sentido de ultrapassar essa ambivalência. Este modelo atribui também especial importância ao conceito de auto-eficácia, imprescindível para a motivação intrínseca e principal preditor do sucesso da intervenção.
O psicólogo, ao adoptar este método, assume um posicionamento empático, igualitário e procura ajudar o cliente a lidar com a ambivalência e a ultrapassá-la. Assume-se que a mudança do comportamento é potenciada pela motivação intrínseca do sujeito e não pela transmissão de informação ou pela persuasão associadas à autoridade epistemológica do psicólogo. Substituir um estilo directivo por um estilo orientador requer uma mudança de atitude por parte do terapeuta acerca de quem é o responsável pela resolução do problema em questão e sobre o modo como o tempo da consulta é utilizado. O estilo de intervenção orientador utilizado na entrevista motivacional implica substituir a possível tentação para dar respostas ao sujeito, pela utilização das ferramentas relacionais, ou seja, fornecer informação, questionar e escutar activamente o que o que o cliente verbaliza.
A entrevista motivacional tem-se revelado eficaz na prevenção e tratamento de problemas de peso, de perturbações alimentares, em casos de consumo excessivo de álcool ou de abuso de substâncias ilícitas, entre outras problemáticas, assim como na promoção de comportamentos saudáveis relacionados com dietas e exercício físico.
Sugestão: Vansteenkiste M, Sheldon KM. There’s nothing more practical than a good theory: integrating motivational interviewing and self-determination theory. Br J Clin Psychol. 2006 Mar;45(Pt 1):63-82.