Parece consensual a ideia de que o exercício físico é fundamental para a manutenção do bem-estar físico e emocional dos indivíduos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que prática de atividade física, desde os primeiros anos de vida, a par com o fornecimento de atividades sedentárias estimulantes e variadas, que promovam a interação social, bem como bons hábitos de higiene do sono, podem promover nas crianças um adequado e saudável desenvolvimento psicomotor.
O bem-estar físico, psicológico, o bom desempenho escolar e o adequado desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças, relacionam-se de forma positiva com a implementação de práticas educativas que promovam o exercício físico, o sono suficiente e tranquilo, bem como o desenvolvimento de atividades com as crianças, que as estimulem, nomeadamente no que diz respeito às competências sociais. A atividade física na infância ou o movimento do corpo, tem um papel fundamental para o desenvolvimento das crianças. Ao movimentar-se a criança expressa emoções, amplia a sua postura corporal, desenvolve a linguagem corporal, e desenvolve a capacidade afetiva e intelectual.
Atualmente, as nossas crianças estão mais paradas. Deixaram de brincar na rua, de subir árvores, de correr e saltar com a liberdade de outros tempos. Novas atividades relacionadas com dispositivos eletrónicos (televisão, consolas de jogos, computadores, tablets e telemóveis) ocupam o tempo de crianças desde a mais tenra idade, com todo o prejuízo que daí advém, sempre que a sua utilização é feita sem regras antes da idade recomendada e em excesso. Estas atividades, para além de serem muito apelativas pelos temas, cores, sons e pelo facto de muitas vezes levarem à obtenção de recompensas imediatas, são muito apreciadas pelos pequenitos mas também pelos seus pais e cuidadores. Estes não só também são grandes “clientes” do que as tecnologias oferecem, como por outro lado, se sentem tranquilos e seguros por terem as suas crianças sossegadas e protegidas “debaixo de tecto”.
Não pretendo com este texto diabolizar a utilização desses meios tecnológicos, que já não são propriamente novos e que podem contribuir para momentos de lazer realmente interessantes, produtivos e divertidos. O que pretendo é alertar para o perigo da sua utilização excessiva em termos de saúde, nomeadamente quando contribuem para a redução da mobilidade e da atividade física dos seus utilizadores, principalmente os mais novos. Os efeitos nefastos, do tempo que as crianças passam sentadas e expostas a ecrãs, estão em contraponto com os benefícios do aumento dos níveis de atividade física e interação social.
Recentemente foram estabelecidas pela OMS novas diretrizes sobre a atividade física e hábitos de sono para as crianças até aos 5 anos. Estas diretrizes orientam para que as crianças que ainda não têm mobilidade, devem ficar pelo menos meia hora (dividida em vários momentos ao longo do dia), em decúbito ventral (de barriga para baixo). Do mesmo modo, os bebés não devem ficar contidos mais do que 1 hora seguida, no carrinho, espreguiçadeira ou cadeira de comer. Em relação ao sono, são recomendadas cerca de 14 a 17 horas por dia, incluindo sestas, para recém-nascidos, reduzindo para 12 a 16 horas a partir dos 4 e até aos 11 meses. As crianças até 1 ano de idade deverão ser fisicamente estimuladas com atividades, diversas vezes ao longo do dia, principalmente com brincadeiras que incluam jogos de interação realizados no chão. Em relação ao tempo de écran, este não é de todo recomendado para crianças até aos 2 anos de idade, devendo ser privilegiado uma vez mais, o tempo de interação com os pais ou outros cuidadores.
Para as crianças entre os 2 e os 4 anos, a mesma organização de saúde defende que uma hora de écran por dia é o limite recomendado, sendo que quanto menos melhor. Orienta também para a prática de atividades fisicamente estimulantes, de cerca de 3 horas diárias e para cerca de 11 a 14 horas diárias de sono, incluindo sestas. Recomenda ainda que estas crianças não devem ficar imobilizadas por mais de uma hora ou sentadas por períodos de tempo extensos. Os estudiosos destas matérias acreditam que as crianças pequenas não beneficiam da utilização de aparelhos eletrónicos de forma sedentária e que os pais e cuidadores devem substituir esse “tempo sem qualidade” por atividades promotoras de “tempo de qualidade”, como por exemplo lerem um livro ou contarem uma história.
Os bons hábitos, ou melhor, os hábitos saudáveis, devem ser implementados e estimulados, desde cedo no sentido de se inculcarem e permanecerem ao longo da vida. As tecnologias trouxeram-nos inúmeras vantagens e são promotoras de bons momentos de diversão e aprendizagem. Não devemos de modo algum assumir atitudes fundamentalistas e retroceder no tempo, impedindo as nossas crianças de terem acesso ao que os tempos modernos nos trouxeram. No entanto, convém estarmos atentos às orientações dos especialistas, que se dedicam ao estudo científico destas temáticas e que nos alertam para os malefícios dos excessos. Imponha regras e estabeleça limites. As crianças crescem e quanto mais tarde se tentarem disciplinar, mais difícil será fazê-lo. E, acima de tudo, procure dar o exemplo!