Acredito que a tarefa mais difícil de todas é a de criar um filho. As crianças representam para os seus pais e cuidadores, um desafio dos maiores do mundo e este mundo tem muitos perigos. Os pais, por norma têm uma tendência para proteger as suas crianças mas por vezes essa proteção é super!
Proteger demasiado pode ser mais prejudicial que benéfico. A preocupação excessiva dos pais e a consequente proteção aos seus filhos pode afetar de forma negativa a infância da criança mas também a sua vida adulta, na medida em que as crianças demasiado protegidas têm maior probabilidade de ser tornarem adultos inseguros. Pais superprotetores privam os filhos da possibilidade de enfrentarem riscos, tanto físicos como emocionais. Privam-nos do que pode ser mau mas também do que pode ser bom. A preocupação e o cuidado excessivo de proteção podem ser tão prejudiciais quanto a falta deles. Até em situações correntes do quotidiano, as atitudes de alguns pais podem revelar exagero no cuidado e proteção dos seus filhos. Quando por exemplo, uma criança pequena aponta para uma garrafa de água e os pais de imediato lhe dão água para beber, esta criança não precisa de se esforçar para falar para obter o que deseja. Desta forma, estes pais poderão estar a fazer com que a criança atrase o desenvolvimento da fala. Esta situação é ilustrativa do modo como os pais podem ter influência no desenvolvimento das competências da criança e também da sua conquista de autonomia.
Proteger os filhos é saudável e recomendável, sendo um dos principais papéis dos pais, sem dúvida. No entanto, a proteção excessiva pode fazer com que os pais vivam pelos filhos sempre que falam por eles, escolhem por eles, decidem por eles e resolvem os seus problemas. Estes pais estão a superproteger os seus filhos e a superproteção é uma privação da tentativa de erro mas também da tentativa de acerto. Quando os pais não permitem que as suas crianças façam tentativas várias, que errem, que caiam e que se levantem, obviamente salvaguardando a sua segurança, poderá transmitir-lhes a ideia de que não são suficientemente boas ou competentes, contribuindo ativamente para o desenvolvimento do sentimento de insegurança.
De acordo com a investigação, em contexto escolar, os filhos de pais superprotetores podem tornar-se alvos fáceis para os agressores, tornando-se maior o risco de serem vítimas de bullying. Estes pais tendem a resolver eles mesmos os conflitos dos filhos, não permitindo que estes aprendam a resolver os seus problemas. Estas crianças podem ter dificuldade em acompanhar as brincadeiras dos colegas e por isso serem alvo de piadas e humilhações. No entanto, pela dificuldade em lidarem com as diferenças e adversidades, podem tornar-se elas próprias em agressoras. Também a convivência familiar acaba por sair prejudicada pela proteção excessiva. É fundamental que os pais dêem suporte, apoio, carinho e proporcionem aos filhos as condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Porém, o controlo excessivo, a invasão do espaço das crianças e a tomada de decisão em seu lugar pode causar danos diretos, que pode levar mais tarde à distância da família, quer física, quer emocionalmente.
E como podem os pais agir de modo a evitarem a superproteção, que pode ter efeitos tão negativos? Faz parte do papel dos pais permitirem que os filhos cresçam e tenham o seu espaço. Dar esse espaço é fundamental para que a criança aprenda a arriscar, a enfrentar os seus medos, a “ir a luta”, a aprender com os erros e a superar-se. Tudo isto é essencial ao desenvolvimento da autonomia. As crianças precisam de saber que conseguem fazer coisas sozinhas, que são capazes de ultrapassar dificuldades e que nem sempre os outros vão ceder às suas vontades. Aprender a ouvir o “não” é muito importante. O equilíbrio é fundamental, Os pais devem dar sempre suporte emocional às suas crianças ao mesmo tempo que as devem estimular e incentivar para enfrentarem e resolverem elas mesmas os seus problemas, possibilitando que se sintam capazes e seguras.