
Chegados a Dezembro deste atípico ano de 2020, aproxima-se uma quadra natalícia igualmente atípica e certamente repleta de emoções. A primavera “despertou” com a chegada de um vírus que nos virou do avesso. O verão foi vivido pela maioria de nós, a medo e o Natal avizinha-se para muitos, como mais um desafio a enfrentar.
Cada pessoa, à sua maneira, se adaptou à situação pandémica em que vivemos. Uns com menor dificuldade, por questões que se prendem com o temperamento, a existência de bons recursos internos, o apoio familiar e/ou social, a boa saúde física e mental, as razoáveis condições de habitabilidade, etc. Outros com maiores dificuldades e a verem no seu dia-a-dia, os problemas a chegarem sem os conseguirem controlar e resolver, acrescentando à dramática situação de saúde pública, a sua saúde física, psicológica e emocional debilitadas. Será certamente menos penoso vivenciar esta época, se tivermos maior flexibilidade psicológica e de adaptação à adversidade e se soubermos utilizar estratégias adaptativas para lidar com a ansiedade e o medo, com a incerteza e com todas as limitações que nos têm vindo a ser impostas.

Por outro lado, também ajuda, se estivermos inseridos num contexto familiar e social apoiante e participativo e que, embora com o distanciamento físico recomendado, tenhamos alguém com quem partilhar as nossas dúvidas, as nossas angústias, as diversas tarefas, e porque não os nossos sucessos, enfim, a nossa vida. Aos que gozam de boa saúde, quer física, quer mental, estará a ser menos difícil viver esta situação, apesar de haverem com certeza momentos em que muita coisa se põe em causa. Também ter algum desafogo financeiro, ter a possibilidade de se manter a atividade profissional, e, consequentemente a remuneração necessária para fazer face às despesas habituais, contribui para que se consiga manter alguma tranquilidade. E depois, ficar em confinamento numa casa com boas condições de habitabilidade, como espaço, conforto e até algum espaço exterior privado, é efetivamente mais fácil do que permanecer num T1 sem varanda, durante os longos períodos de confinamento e recolher obrigatório.

E é neste contexto que chega a quadra natalícia, tão esperada e desejada por muitos mas que este ano poderá ter que ser adaptada às exigências impostas pela situação de pandemia. As famílias mais numerosas, poderão ver a sua ceia de Natal mais reduzida em número de convivas, quer pela consciência individual de que há efetivamente um perigo de contágio do vírus em ambiente familiar, e queremos preservar os “nossos”, quer por imposições legais que impeçam a circulação inter concelhos. A vivencia dos afetos, numa quadra tipicamente emotiva e de partilha, será experienciada de outra forma, fisicamente mais distante, adaptada áquilo que é possível, mas nem por isso menos calorosa. É agora que podemos “exercitar as palavras” e fazer delas um veículo dos nossos sentimentos em relação aos outros.

Ser amável e disponível para ouvir o outro, é uma forma de proporcionar emoções positivas a quem se gosta. A utilização das redes sociais e dos meios de comunicação eletrónicos, nunca foi tão pertinente. Enviar mensagens de esperança, de amor, de amizade, de preocupação com o outro, são formas de estar perto do seu coração, mesmo que seja longa a distância física. A correspondência de Natal pode ser um hábito a retomar. Quem não gostará de receber por correio, materializado num postal ou numa carta, a expressão das emoções de um amigo ou de um familiar? E quantos de nós temos por vezes tanta dificuldade em expressar oralmente os nossos sentimentos? Escrever pode ser um ótimo exercício de autoconhecimento, uma vez que obriga a uma reflexão, a uma “viagem” pelo interior de nós próprios e que pode resultar numa bonita mensagem de amor, de amizade, de companheirismo, de afeto, para alguém a quem queremos bem.

Mais do que sentir revolta e lutar internamente contra as contrariedades e inevitabilidades causadas pela situação de pandemia, que tal se aceitarmos que este é um ano atípico, um Natal atípico, que obriga á alteração de alguns hábitos e tradições, com a esperança de que durante o próximo ano, com a colaboração de todos nós e a notória evolução da ciência, se possam finalmente retomar as nossas vidas, as nossas relações e a nossa felicidade enquanto indivíduos e enquanto humanidade.

Feliz Natal!