Falar do “Ninho Vazio”…

Síndrome de “ninho vazio” é a denominação dada a um conjunto de sentimentos e emoções que os pais habitualmente experienciam, aquando da saída dos seus filhos da casa da família. Esta síndrome não é uma patologia, no entanto pode ser vivida de forma mais ou menos intensa e ser algo perturbadora.

Independentemente de se ter apenas um filho ou vários, vê-los sair de casa para estudar, trabalhar, casar ou o que quer que seja, desencadeia nos pais sentimentos por vezes muito contraditórios. A ambivalência de sentimentos como orgulho de os ver crescer e atingir autonomia e independência, e a sensação de vazio que causa a sua ausência, podem afetar tanto o pai como a mãe. No entanto, a mãe é tipicamente a que mais se manifesta… Muitos pais têm extrema dificuldade em conceber as suas vidas longe dos filhos, vivendo esta fase com muita angústia e sofrimento.

 Este é um período em que podem surgir sintomas comuns de tristeza, inutilidade ou até mesmo de abandono. Por vezes pode mesmo aparecer uma depressão reativa à situação, o que não significa que ocorra logo imediatamente após a saída dos filhos, podendo surgir ao final de algum tempo, dificultando que a pessoa relacione os acontecimentos entre si. Noutros casos, embora talvez menos comuns, esta fase pode ser libertadora, quando o filho é percecionado como um “fardo” ou se por alguma razão a sua relação com os pais é desajustada.

Quando os filhos deixam a casa dos pais, estes terão que se adaptar à sua ausência o que pode não ser fácil. No caso de famílias monoparentais, o pai ou a mãe terão que aprender a viver sozinhos, o que pode constituir-se como um enorme desafio, dependendo dos seus recursos internos e da sua rede de suporte socio emocional. Por outro lado, os casais que até então estavam focados no filho ou filhos, no apoio e orientação dos mesmos e numa vivência a três ou mais, têm que reaprender a ficar em alguns casos sós, um com o outro.

Assim, alguns casais podem ter dificuldade em voltarem a ter atividades só a dois, por falta de hábito. A retoma destas atividades pode não surgir de forma espontânea e implica por vezes uma mudança no estilo de vida, tendo como objetivo a procura dos seus próprios interesses, ao mesmo tempo que desfrutam da satisfação de verem os seus filhos adultos a realizarem-se, tanto em termos académicos como profissionais ou mesmo familiares, com a construção do seu próprio núcleo familiar.

 Ultrapassar a síndrome do “ninho vazio” é sem dúvida mais difícil, quando os filhos não se conseguem realizar e mantêm necessidades de apoio material ou financeiro, podendo culminar numa situação geralmente causadora de grande stresse, que é o retorno dos filhos à casa dos pais, por insucesso na aquisição da sua independência. Os efeitos do ”ninho vazio” sobre a relação do casal parecem depender da sua qualidade e duração. Numa relação estável e satisfatória, a saída de casa dos filhos adultos pode ser o prenúncio de uma segunda lua-de-mel. A satisfação conjugal poderá ser potenciada com esta mudança, na medida em que a mãe e o pai passam a ter tempo adicional para passarem um com o outro, reduzindo o seu papel de pais, agora menos intenso, dedicando-se mais à conjugalidade. Quando pelo contrário, existem problemas entre o casal anteriores à saída de casa dos seus filhos, então poderá ser mais difícil encarar esta fase, por falta de entendimento ou empatia de parte a parte, e dificuldade para lidarem com as emoções negativas que possam surgir em consequência da ausência dos filhos.

O “ninho vazio” não significa o fim da parentalidade mas sim a transição para um novo estágio, que pode ser tão ou mais satisfatório que o anterior, que é a descoberta do relacionamento entre pais e filhos adultos. Após os anos vividos no exercício da parentalidade e das funções de educar e acompanhar o crescimento dos filhos terem terminado, e dos filhos terem deixado a casa dos pais, estes são e serão sempre os seus pais. O papel de pais de meia-idade com filhos adultos jovens, levanta novas questões e exige novas atitudes e comportamentos por parte de ambas as gerações. Os pais de meia-idade geralmente dão mais ajuda e apoio aos seus filhos adultos jovens, do que aquele que recebem destes, quando estes estabelecem carreiras e constituem famílias. Estes pais dão mais ajuda aos filhos que mais necessitam, normalmente àqueles que são solteiros ou que são pais solteiros.

Alguns pais têm dificuldades em tratar os filhos como adultos, e, muitos adultos jovens têm dificuldades em aceitar a contínua preocupação dos seus pais para com eles. Num ambiente familiar estável de apoio e afeto, estas dificuldades podem ser facilmente geridas através da expressão emocional. A maioria dos adultos jovens e dos seus pais de meia-idade aprecia a companhia uns dos outros e consegue manter uma relação harmoniosa. Estima-se que muitas famílias intergeracionais sejam fortemente integradas e unidas, geográfica e emocionalmente, mantendo contacto frequente com ajuda e apoio mútuos. Outras são sociáveis, mas com menos afinidade emocional ou comprometimento. Algumas famílias mantêm relacionamentos obrigatórios, com muita interação mas pouca ligação emocional, outras são desligadas, tanto emocional como geograficamente e outras ainda são representadas por relações familiares íntimas, mas distantes, ou seja, passam pouco tempo juntos, mas conservam sentimentos afetuosos muito fortes que podem preservar uma relação de contacto e de partilha.

Quando o “ninho não se esvazia” no tempo esperado ou quando inesperadamente se enche novamente, também pode gerar situações complicadas. Desde a década de 80 do século XX, na maioria dos países ocidentais, cada vez mais os filhos adultos adiam a saída da casa dos pais, ao mesmo tempo que também se verifica muito frequentemente o retorno de filhos adultos á casa da família. Um grande número de adultos jovens, especialmente homens, volta para a casa dos seus pais, em alguns casos mais de uma vez, e noutros casos com suas próprias famílias. O prolongamento da função parental, pode conduzir ao conflito intergeracional se for contraditória às expectativas normativas dos pais.

A autonomia de um filho adulto é também um sinal de sucesso dos pais. Como prevê o modelo que cada vez mais se verifica, e que é a saída tardia de casa dos pais ou o seu retorno a ela, pode gerar muito stresse familiar. Pais e filhos adultos tendem a ter um melhor relacionamento quando os filhos trabalham e vivem por sua conta. Quando filhos adultos vivem com os pais, as relações tendem a ser mais tranquilas quando os pais percebem que o filho adulto procura a sua própria autonomia. Voltar a partilhar a residência com filhos adultos, pode ser vista como uma expressão de solidariedade familiar, uma extensão da expectativa normativa de assistência dos pais aos filhos adultos jovens ou também como a possibilidade dos pais obterem algum apoio, numa fase em que estão mais envelhecidos e podem ter maiores limitações.

Fontes:

Aquilino, W S., & Supple, K. R. (1991). Parent-child relations and parent’s satisfaction with living arrangements when adult children live at home. Journal of Marriage and the Family, 53, 13–27.

Mouw T. Sequences of early adult transitions: A look at variability and consequences. In: Settersten RA, Furstenberg FF Jr, Rumbaut RG, editors. On the frontier of adulthood: Theory, research, and public policy. Chicago: University of Chicago Press; 2005. pp. 256 – 291.

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