Chamamos comportamentos autolesivos a todos os comportamentos diretos que causem lesões físicas ligeiras a moderadas, feitas sem intenção suicida consciente, e que acontecem na ausência de um estado de psicose ou de incapacidade intelectual organicamente determinada.
A adolescência é caracterizada por ser uma fase de inúmeros desafios. Desde a adaptação a um novo corpo e uma nova aparência, ás espectativas de novas experiências e relacionamentos, o adolescente vive esta fase da sua vida numa ambiguidade, entre o medo e o desejo de crescer. Muitas vezes, esta etapa do desenvolvimento humano trás consigo angustia e sofrimento emocional. As variações do humor e os sentimentos características desta fase de descoberta mas também de dúvida e insegurança, podem conduzir os jovens a momentos de rigidez do pensamento e de razão absoluta, intercalados com outros de insegurança e infelicidade extrema.
A auto mutilação ou os comportamentos autolesivos podem ser um sinal de sofrimento emocional do jovem ou mesmo da criança. A investigação nesta área, identificou já vários fatores de risco para os comportamentos de auto lesão na adolescência. Um deles é o género, ou seja, jovens do sexo feminino apresentam uma maior prevalência para estes comportamentos. Se ao género feminino juntarmos história de abuso físico ou emocional, nomeadamente abuso sexual na infância, o risco parece aumentar consideravelmente. A baixa autoestima e autoconceito podem também constituir-se como fatores de risco com impacto significativo. Por outro lado, a sintomatologia depressiva e a dor emocional a ela associada, assim como as perturbações de ansiedade e a dificuldade no controlo dos impulsos, são elementos fortemente potenciadores dos comportamentos autolesivos.
Os fatores precipitantes ou de predisposição para a auto lesão como um ato deliberado, parecem ser decorrentes da acumulação de tensão, irritabilidade, hostilidade, impulsividade ou traumas, pois são vários os relatos de jovens que referem sentir alívio após infligirem a si mesmos a lesão. É comum estes adolescentes referirem que antes de se auto mutilarem sentem medo e elevada tensão, e, que durante o ato em que fazem cortes ou outras lesões na pele, são acometidos por emoções avassaladoras. Porém, a sua maioria diz não sentir a dor física no momento da auto lesão, mas sim uma sensação de alívio face à dor emocional que a precede.
De certa forma pode dizer-se que o comportamento autolesivo se constitui como um mecanismo de coping para permitir ao jovem lidar com as emoções negativas, embora obviamente não seja de todo adequado. O comportamento autolesivo é de elevado risco, pois está fortemente associado ao risco de suicídio. Vários autores referem que uma maior frequência destes comportamentos poderá mesmo preceder a tentativa de suicídio, uma vez que o jovem utiliza de forma errada os seus impulsos, exercendo uma descarga motora sobre o seu próprio corpo de forma a mitigar os sentimentos de angústia, frustração, desespero ou conflito.
É frequente o sentimento de incompreensão e solidão nos jovens que cometem este tipo de comportamentos, assim como é também frequente associar-se a auto lesão à dificuldade do adolescente para comunicar e para expressar de um modo adequado e convencional, o que sente e o que lhe causa sofrimento. Por vezes é um grito de alerta, um pedido de auxílio, nem sempre entendido como tal e muitas vezes sentido como devastador. A auto lesão pode servir dois propósitos: aliviar a dor emocional ou, por outro lado, gerar dor física quando o entorpecimento emocional já não permite que sinta nada.
Fique atento aos sinais! Monitorize os seus filhos, seja sensível à sua expressão emocional, ou à falta dela. Foque-se na comunicação e tente adequa-la à idade dos seus filhos de modo a evitar o conflito ou uma comunicação muito tensa que possa escalar para um tom de agressividade que perturbe o vosso relacionamento. Em caso de dúvida, procure ajuda profissional!
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