
Terminadas as férias de verão, o regresso ás aulas pode ser algo tão desejado como temido. Se para muitas crianças e adolescentes este momento é esperado com entusiasmo, para muitos outros é vivido com enorme ansiedade. Os pais também podem sentir apreensão ou mesmo receio, no momento de levarem os seus filhos de regresso á escola.
O regresso às aulas é para a maioria crianças e jovens um momento aguardado com alguma ansiedade, embora nem sempre pelas mesmas razões. As crianças mais pequenas tendem a aguardar com entusiasmo o momento de regressar á escola, de rever colegas e professores e de retomar as suas rotinas, atividades e brincadeiras. A escola para além das aprendizagens em sala de aula é também um lugar de diversão e partilha, para o qual as crianças mais novas habitualmente anseiam regressar no final do verão. No entanto, e principalmente em anos de mudança de ciclo ou de escola, a ansiedade pode ter um papel importante na forma como crianças e pais avaliam esse momento, o que é perfeitamente normal, principalmente se o contexto escolar no qual a criança vai ingressar for novo e desconhecido.

No que diz respeito aos adolescentes, a situação pode ser um pouco diferente. Nota-se hoje em dia, alguma (para não dizer muita!) desmotivação dos jovens com a escola, o que leva a que o entusiasmo do regresso às aulas seja por vezes substituído por sentimentos de aborrecimento e desânimo. Por terem maior autonomia, comparativamente aos mais pequenos, os adolescentes mantêm mais facilmente o contacto com os colegas e amigos durante as férias, tanto pessoalmente como online, sendo o reencontro habitualmente menos ansiado. A ansiedade destes alunos mais crescidos pode estar mais relacionada com o momento de se confrontarem novamente com a rotina, com novos professores, colegas e diferentes horários, bem como com novas disciplinas e matérias mais exigentes. De referir ainda, os casos em que o contexto escolar pode ser bastante ansiogénio, tanto para as crianças mais novas como para os adolescentes, se estes tiverem sido vítimas de bullying ou se tiverem, por exemplo, uma perturbação de ansiedade de separação ou de ansiedade social.

Quanto aos pais, é natural que possam experimentar alguma ansiedade, principalmente quando a criança vai para a escola pela primeira vez, podendo preocupar-se com o seu bem-estar, segurança, comportamento e desempenho. Aos pais de adolescentes, acresce a preocupação com a possibilidade de os seus filhos poderem experimentar comportamentos de risco, uma vez que o grupo de pares tem nesta fase do desenvolvimento, uma influência importante no que diz respeito á integração dos jovens e ao sentimento de pertença ao grupo.

Os sinais de ansiedade mais comuns são as dores de barriga ou de cabeça, as perturbações do sono (e. g. insónias, pesadelos), alterações do apetite, aceleração do ritmo cardíaco, sensação de aperto no peito ou de falta de ar, choro, isolamento ou mesmo recusa em ir á escola. A ansiedade é um mecanismo de defesa protetor, que ocorre por antecipação de um estímulo ou situação desagradável ou de perigo. A ansiedade passa a ser patológica, quando um estímulo neutro ou inofensivo (a escola) é avaliado pela criança/adolescente (ou pelos pais) como potencialmente perigoso.

Alguns dos sinais a que os pais e educadores devem ficar atentos são, para além das anteriormente referidas, a inquietação excessiva, fadiga, irritabilidade, tristeza, dificuldades de concentração e atenção e as dificuldades relacionadas com o sono. Há que dar também atenção ao modo como a criança/adolescente se preocupa com os trabalhos/atividades escolares e com a qualidade dos mesmos. As manifestações de ansiedade podem tornar-se patológicas, principalmente se se prolongarem no tempo e se causarem um sofrimento emocional na criança ou no jovem, que interfira com a sua funcionalidade, bem-estar e desempenho.

Uma vez que a ansiedade é uma reação natural e que faz parte do reportório emocional do ser humano, o importante é aprender controlá-la. Os pais devem ajudar a criança/jovem a identificar os primeiros sinais, para que seja mais fácil poder controla-los e evitar que escalem para uma situação de pânico. Este controlo pode ser feito através de técnicas comportamentais, como os exercícios de relaxamento, ou através de estratégias cognitivas, como por exemplo, a distração ou a racionalização. Os pais podem ensinar a criança a respirar pausada e profundamente, para que esta possa reduzir os níveis de ansiedade e não perder a sua funcionalidade.

É muito importante que os pais se mostrem disponíveis para ajudar a criança/adolescente se algo não estiver a correr bem. O diálogo diário, perguntando como foi o seu dia e o que teve de melhor, ajuda a salientar os aspetos positivos, permitindo que a criança tome consciência deles e os valorize. Aos pais mais ansiosos e com tendência a “disparar” um rol de perguntas quando a criança chega da escola, recomendam-se as perguntas abertas, para que a criança/jovem tenha a possibilidade de se expressar livremente. O desempenho escolar e os objetivos esperados devem ser razoáveis e realistas. Mesmo quando os resultados não correspondem às espectativas, os pais devem sempre elogiar os esforços e demonstrar confiança, para que a criança/adolescente possa acreditar no seu potencial e evite a ansiedade de desempenho.

Para reduzir a ansiedade, o regresso à escola deve ser preparado com antecedência. Os mais pequenos devem ser preparados para os novos desafios que terão pela frente (ex. entrada para o primeiro ciclo, mudança de professor ou de escola, etc.), de forma descontraída, sem dramatizar nem gerar inseguranças ou dúvidas. A compra e preparação dos materiais escolares pode ser um momento vivido em família, muito motivador e entusiasmante para a criança. Inclua-a na escolha dos cadernos, lápis, estojo e mochilas, de modo a encorajar a sua boa utilização. Os pais devem estar atentos, sem contudo transmitir a sua própria ansiedade e inseguranças. As crianças “aprendem” facilmente a ficar ansiosas. Estar alerta para com os sinais de alarme significa dar espaço de diálogo para que a criança/adolescente se sinta confortável para expor as suas preocupações e dificuldades.

O reestabelecimento das rotinas e das regras/limites é também muito estruturante para os mais novos. Elas fazem falta e definem os seus dias e o modo como eles vão decorrer, reduzindo a imprevisibilidade, com a qual muitas crianças e jovens mais ansiosos podem ter maior dificuldade em lidar. As crianças e adolescentes deverão ser informados de que os pais estarão contactáveis, e no caso dos mais crescidos pode mesmo ser definida uma rotina de contactos (ex. telefonar ou trocar uma mensagem ao meio do dia) que faça com que tanto os filhos como os pais possam ficar mais tranquilos. Contudo, estes contactos deverão ser moderados e se possível diminuírem no decorrer da adaptação da criança, no sentido de não criar uma dependência, quer para a criança, quer para os pais.

Por fim, é de salientar que a escola é o local privilegiado para novas aprendizagens e aquisição de competências. No entanto, convém não esquecer que estas não acontecem apenas dentro da sala de aulas. O recreio, as brincadeiras e as interações com os pares, são momentos de grande importância em termos de desenvolvimento infantil e juvenil, nomeadamente de aquisição de competências socio-emocionais. Ao final do dia, não pergunte só como correram as aulas, pergunte também a que brincou nos tempos de recreio ou como ocupou os intervalos. O interesse da família pelas
atividades no exterior da sala de aula, pode ainda ajudar a prevenir ou a resolver situações de abuso ou bullying, antes que elas se tornem realmente perturbadoras e impeditivas de uma escolaridade tranquila e bem-sucedida.

Um excelente início de ano letivo para todos e muito sucesso no vosso desempenho!