A doença mental no masculino é um tema particularmente importante, na medida em que o estigma que ainda hoje está associado a estas questões, pode fazer com que muitos homens evitem ou adiem a procura de ajuda, com consequências potencialmente graves na sua funcionalidade e na sua satisfação com a vida.
Felizmente, cada vez mais o estigma relacionado com as perturbações do foro psicológico ou psiquiátrico, tem vindo a ser desconstruído, no sentido de “normalizar” a avaliação e o acompanhamento psicológico, aos homens que possam enfrentar dificuldades, nesta área da saúde em geral, mas também por desafios específicos do género. Contudo, estas dificuldades, que por vezes são banalizadas ou ignoradas, levam a que a tomada de consciência e a procura de ajuda sejam adiadas ou até mesmo evitadas. As expectativas sociais, estigmas culturais e atitudes em relação à vulnerabilidade e à procura de apoio psicológico por parte dos homens, constituem-se como uma “barreira” por vezes difícil de transpor.

No que diz respeito aos fatores que podem contribuir para esse evitamento, estes têm a ver com a forma como a sociedade ainda exige aos homens que sejam fortes, bravos, que não mostrem as suas dificuldades, vulnerabilidades, que não chorem, que não falem das suas emoções mais profundas, enfim, preconceitos que reprimem a vivência e a expressão emocional, e que atrasam ou inibem a procura de apoio psicológico, prolongando e agravando o sofrimento, e por vezes afetando seriamente a funcionalidade do homem.

Em termos sociais, os papéis de género colocam frequentemente aos homens, uma pressão para que estes sejam os protetores e provedores principais, por exemplo, em contexto familiar. Esta pressão pode fazer aumentar os níveis de stresse, podendo conduzir a situações de ansiedade difíceis de controlar. Por outro lado, qualquer “falha” a esse nível, pode levar a sentimentos de inadequação e depressão. Parece haver evidência de que os homens apresentam maior resistência à procura de apoio psicológico, quando sentem dificuldades ao nível da saúde mental. O medo do julgamento, a culpabilização, a vergonha e o sentimento de ineficácia, são alguns dos fatores que levam a que muitas vezes alguns homens tenham muita dificuldade em enfrentar o problema e agir no sentido de o procurar resolver.

Estatisticamente, sabe-se que os homens são mais suscetíveis de se envolverem em comportamentos de risco, como por exemplo o uso abusivo de substâncias psicoativas, comportamentos aditivos (com ou sem substâncias) e comportamentos agressivos, como forma de lidar com a desregulação emocional. Isto leva ao agravamento do estado de saúde mental podendo potenciar o desenvolvimento de comorbilidades, e, no limite, à ideação suicida ou a comportamentos suicidários, cuja taxa de prevalência é mais elevada para o género masculino.

A sua saúde mental é tão importante quanto a sua saúde física, sendo que ambas se influenciam mutuamente. Se quando tem sintomas, por exemplo, respiratórios ou gastrointestinais vai ao médico, porque não ir ao psicólogo quando tem sintomas de ansiedade ou depressão? Vamos lá “deitar abaixo” o estigma, desafiar mentalidades e encarar de frente os problemas relacionados com a saúde mental, no sentido de aumentar a qualidade de vida e os índices de felicidade e bem-estar!