A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do desenvolvimento cerebral caracterizada por 3 sintomas principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Ouvimos muitas vezes dizer que hoje em dia há muitas crianças hiperativas ou com défice de atenção, e que muitas delas estão medicadas, o que por vezes causa grande preocupação e estranheza. No entanto, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma das patologias mais prevalentes na infância. Porém por vezes, pode não estar bem diagnosticada, ou seja, podemos hipervalorizar alguns comportamentos das crianças ou pelo contrário, desvalorizar outros tantos, como que se estivéssemos em negação do problema. Os profissionais de saúde qualificados para avaliar este tipo de patologias são os psiquiatras e os psicólogos. Para apoiar numa correta avaliação, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) definiu no seu Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V), os vários critérios a levar em consideração numa correta avaliação da PHDA.
A avaliação psicológica desenvolveu-se através de diferentes quadros teóricos e modelos, com metas e objetivos distintos e complementares. Os modelos mais relevantes para a avaliação em psicologia são o traço, o médico, o cognitivo, o comportamental, o psicodinâmico e o construtivista (Fernández-Ballesteros, 2004).
O modelo traço tem por base as características individuais da pessoa. É uma abordagem que tem como objetivo primário descobrir o verdadeiro valor de uma característica específica e relacionar a sua verdadeira posição com um grupo normativo. É um modelo que utiliza várias técnicas psicométricas de recolha de informação e que tem como finalidade fazer a previsão de comportamentos futuros, ao mesmo tempo que ajuda os psicólogos na classificação e na descrição do indivíduo avaliado.
O modelo médico parte do pressuposto de que a explicação de um comportamento tem por base variáveis internas ou endógenas. Tem como foco a descrição de critérios e a classificação das perturbações mentais, tendo levado ao desenvolvimento de sistemas específicos de classificação, como é o caso do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V) da Associação Americana de Psiquiatria. Este modelo utiliza um sistema de classificação que tem como finalidade oferecer descrições claras dos critérios de diagnóstico das respetivas perturbações.
O modelo cognitivo tem como objeto as estruturas e os processos mentais, e como objetivo a descrição, a predição, a explicação e a avaliação dos mesmos. É uma abordagem focada no estudo dos processos cognitivos e na sua influência e determinação sobre os comportamentos do indivíduo. A avaliação à luz deste modelo centra-se particularmente no desempenho dos sujeitos em tarefas cognitivas (Fernández-Ballesteros, 2004). Ao avaliar-se um indivíduo com base neste modelo, o psicólogo foca-se no que ocorre quando o indivíduo adquire informação nova e em como a elabora e imite, ou seja, como esta se manifesta no seu comportamento.
O modelo comportamental tem como objetivo a descrição, a predição, a explicação funcional, isto é a necessidade de intervenção, bem como a avaliação dos resultados da mesma. Esta abordagem sustenta-se através da premissa de que o comportamento humano pode ser explicado pela interação do indivíduo com o contexto, diferenciando 3 sistemas (motor, cognitivo, e psicofisiológico) e postulando que os problemas psicológicos advêm de múltiplas causas, principalmente ambientais. Assim, a avaliação comportamental pressupõe uma análise de múltiplos métodos, em que a avaliação das condições comportamentais, ambientais e interações adjacentes a estas, são efetuadas através da observação, do autorrelato e de técnicas psicofisiológicas.
Quanto ao modelo psicodinâmico, este centra-se essencialmente nos processos mentais inconscientes e na sua dinâmica por vezes conflituante, geradora de ansiedade. Foca-se também nos mecanismos de defesa do indivíduo e nos seus padrões interpessoais, regidos pelas suas experiências ao longo do desenvolvimento. Esta abordagem teórica explica aspetos estruturais e dinâmicos da personalidade, enfatizando os processos inconscientes do indivíduo. Como instrumentos de diagnóstico diferencial pode recorrer a técnicas projetivas, sendo estas facilitadoras das respostas livres. Este tipo de provas/testes procura obter respostas com um conteúdo rico em detalhes e centra-se na interpretação do mesmo.
Por último, o modelo construtivista, que tem como alvo o estudo dos sistemas de constructo pessoais e as narrativas do indivíduo. Ao contrário dos modelos anteriormente referidos, o modelo construtivista segue uma linha teórica que dita que cada indivíduo constrói a sua própria perceção da realidade. O principal objetivo deste modelo de avaliação é perceber a essência do indivíduo, focando-se na singularidade e unicidade de cada pessoa, bem como no modo como ela se vê a si mesmo e ao contexto onde está inserida. A avaliação do indivíduo é um processo de construção que emerge da interação entre o avaliador e o avaliado.
A avaliação psicológica é uma área amplamente desenvolvida e multimodal, uma vez que encerra em si diferentes quadros teóricos, cada um com as suas especificidades e objetivos. A diversidade de modelos permite ao psicólogo, assumir uma atitude integrativa e eclética, utilizando as múltiplas técnicas e instrumentos de avaliação que os vários modelos colocam à sua disposição.
Fonte:
Fernández-Ballesteros, R. (2004). Assement and Evaluation, Overview. In Spielberger, C. (Ed.). Encyclopedia of Applied Psychology (Vol. 2, p. 163-176). Oxford, UK: Elsevier.
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é uma doença do foro psiquiátrico que se caracteriza pela presença de obsessões, isto é, pensamentos, impulsos ou imagens mentais recorrentes e desagradáveis, e/ou compulsões, que são comportamentos repetitivos ou atos mentais que a pessoa se sente na obrigação de realizar em resposta às obsessões.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência da POC em Portugal é de cerca de 4%. Esta organização introduziu a POC na lista das dez condições mais debilitantes em todo o mundo, salientando-se deste modo a importância de um diagnóstico precoce e do entendimento da forma como a patologia se caracteriza clinicamente. Em termos de diagnóstico, os critérios estabelecidos pela American Psychiatric Association (APA) foram definido pela presença de dois dos principais componentes da POC, sendo estes a presença de obsessões e compulsões, que embora possam ser independentes, estão fortemente associados.
É sabido que a depressão tem uma expressão significativa na prevalência das perturbações do foro mental. Porém, nem tudo o que parece é. Há que avaliar cuidadosamente cada critério, cada conjunto de sintomas, uma vez que alguns podem ser comuns a mais do que uma perturbação.
A distimia é uma perturbação depressiva caracterizada pela presença de humor depressivo durante a maior parte do dia, manifesto durante pelo menos dois anos no adulto (em crianças) em mais de metade dos dias. O seu diagnóstico assenta no relato subjetivo (ou por observação dos outros) de pelo menos dois ou mais dos seguintes sintomas: aumento ou diminuição do apetite; dificuldades de sono (ex. insónia); cansaço e/ou falta de energia; baixa autoestima; dificuldades de concentração; dificuldade na tomada de decisões e sentimentos de desesperança. No indivíduo com distimia, estes sintomas podem causar mal-estar clinicamente significativo e/ou défice social, ocupacional ou em qualquer outra área do seu funcionamento.