POC! Será esse o meu problema?

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é uma doença do foro psiquiátrico que se caracteriza pela presença de obsessões, isto é, pensamentos, impulsos ou imagens mentais recorrentes e desagradáveis, e/ou compulsões, que são comportamentos repetitivos ou atos mentais que a pessoa se sente na obrigação de realizar em resposta às obsessões.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência da POC em Portugal é de cerca de 4%. Esta organização introduziu a POC na lista das dez condições mais debilitantes em todo o mundo, salientando-se deste modo a importância de um diagnóstico precoce e do entendimento da forma como a patologia se caracteriza clinicamente. Em termos de diagnóstico, os critérios estabelecidos pela American Psychiatric Association (APA) foram definido pela presença de dois dos principais componentes da POC, sendo estes a presença de obsessões e compulsões, que embora possam ser independentes, estão fortemente associados.

As obsessões definem-se como pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes, experienciados como intrusivos ou indesejados, que provocam ansiedade ou mal-estar marcados. O conteúdo das obsessões pode ser distinto, sendo as obsessões mais comuns as que orientam para a contaminação, dúvida ou verificação, preocupações com a saúde, com a ordem/simetria, preocupações relacionadas com agressividade/violência, conteúdos sexuais ou conteúdos religiosos. O indivíduo com POC procura ignorar ou neutralizar estas obsessões recorrendo normalmente a outro pensamento ou comportamento, ou seja, através de compulsões.

As compulsões podem definir-se como comportamentos repetitivos (ex. lavar as mãos, verificar, ordenar) ou atos mentais (ex. contar, repetir palavras ou frases) que o indivíduo se sente na obrigação de realizar em resposta a uma obsessão, ou como uma regra que é rígida. As compulsões têm como finalidade prevenir ou aliviar a ansiedade, ou prevenir situações temidas (ex. se não contar até três algo de terrível pode acontecer a um familiar). No entanto, estes comportamentos ou atos mentais não estão associados de forma realista com o que se pretende prevenir e são claramente excessivos. Para além disso, este alívio da ansiedade é apenas temporário, gerando assim uma falsa sensação de alívio e a necessidade de repetir as compulsões, perpetuando um círculo vicioso de manutenção da perturbação.

Para se efetuar um diagnóstico de POC, as obsessões e/ou compulsões têm que consumir tempo (levar mais de 1h por dia) e causar mal-estar clinicamente significativo, interferindo na funcionalidade do individuo no que diz respeito às suas rotinas de vida. O seu quotidiano terá que estar prejudicado em termos relacionais, sociais ou ocupacionais, para que cumpra critérios de POC e não se trate “apenas” de comportamentos repetitivos ocasionais.

Quanto a fatores de risco para o desenvolvimento de POC, as causas parecem ser multifatoriais. O temperamento pode estar associado a um aumento do risco de vir a desenvolver a doença, uma vez que a tendência para uma personalidade marcada por traços de afetividade negativa, controlo, perfecionismo e inibição comportamental, podem estar na origem do problema. História prévia (infância/adolescência) de perturbação de tiques, parece também aumentar o risco de desenvolvimento de POC. Histórias de vida marcadas por abuso físico e/ou sexual na infância (ou outros acontecimentos de vida traumáticos), estão associados a um aumento do risco no desenvolvimento desta perturbação. Um estilo parental, caracterizado por reduzida expressão emocional e grandes níveis de exigência e moralidade, pode também contribuir para o aumento do risco. Ainda de referir os fatores genéticos, em que a evidência mostra que familiares de primeiro grau de indivíduos com POC apresentam uma maior probabilidade de desenvolver a doença.

A POC é uma perturbação mental bastante heterogénea, cujo início ocorre tendencialmente no período da adolescência, revelando um desenvolvimento gradual da sintomatologia ao longo da vida adulta. Em alguns casos, poderá ter início durante a infância, sendo este um fator de mau prognóstico, devido à tendência para o não reconhecimento da irracionalidade dos sintomas. O início precoce parece ser mais comum no género masculino, enquanto na idade adulta o género feminino é ligeiramente mais afetado. O início da perturbação após os 35 anos é pouco frequentemente.

Em termos de especificidades da POC, é frequente que os indivíduos apresentem crenças disfuncionais, marcadas por um sentido de responsabilidade exagerada e/ou tendência para sobrestimar a ameaça. Revelam muitas vezes traços marcados de perfecionismo, necessidade de controlo e uma grande intolerância à incerteza ou dúvida. Indivíduos com POC tendem também a dar uma importância excessiva aos pensamentos que surgem, como por exemplo, acreditar que ter um mau pensamento faz de si uma má pessoa. Esta é uma condição clínica ego distónica, ou seja, entra em conflito com o autoconceito e com o sistema de crenças do indivíduo. Com frequência este reconhece que o conteúdo das suas obsessões e que as compulsões que realiza são bizarras, desagradáveis e sem sentido. Porem, geram resistência e dificuldades no seu controlo, o que potencia estados de enorme ansiedade e acentuado sofrimento emocional.

Muitas pessoas com POC utilizam estratégias de evitamento de determinados locais ou interações, por receio de estes poderem desencadear as obsessões e compulsões, o que pode perturbar ainda mais a sua funcionalidade ou potenciar o isolamento social. Cientificamente estudada, esta perturbação é ainda alvo de um forte estigma, levando a que por vezes a procura de ajuda e o diagnóstico sejam tardios, devido a sentimentos de vergonha e inadequação social. Não sendo tratada, a POC tende a tornar-se crónica, com períodos de oscilação entre melhoria e agravamento dos sintomas, assim como mudanças no conteúdo das obsessões.

O tratamento da POC pode ser combinado e incluir terapia farmacológica (antidepressivos e antipsicóticos) e psicoterapia, dependendo da intensidade do problema e do grau em que afeta o indivíduo. Vários estudos têm revelado a eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental, particularmente a abordagem da Terapia de Exposição e Prevenção de Resposta. Quanto mais precocemente for efetuado o diagnóstico e iniciada a intervenção, mais favorável será o prognóstico. Salienta-se a importância do controlo dos sintomas, a compreensão das causas do problema tendo por base a história de vida pessoal e ainda o desenvolvimento de estratégias que permitam uma gestão adaptativa da POC.

Como vê a POC é relativamente comum. Se se identificou com o texto que acaba de ler, saiba que não está sozinho. Procure ajuda, a Sua Psicóloga, em “parceria” consigo, poderá contribuir para o aumento do seu bem-estar e qualidade de vida!

Fonte:

DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.

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