Parecem ser cada vez mais frequentes as queixas dos pais em relação à desmotivação dos filhos para o estudo. Deparo-me muitas vezes na minha prática clínica com casos de adolescentes e até algumas crianças mais novas, que revelam grande desinteresse pela escola, ou seja, pelas aulas e pelas matérias.
Palavras como é uma seca, não tenho paciência, não preciso de saber aquilo para nada, etc., são ouvidas amiúde e causam grande preocupação a pais, professores e outros profissionais, como é o caso dos psicólogos. As causas deste desinteresse e falta de empenho de alguns jovens na vida escolar são multifactoriais e algumas delas difíceis de contornar mas os efeitos que esta desmotivação tem nos nossos miúdos é sem dúvida nefasto. Torna-se imperativo ajudar estes jovens, quer através de uma intervenção que promova o aumento da sua motivação e autoeficácia, quer no treino de estratégias de aprendizagem e monitorização das mesmas.
Em contexto de intervenção/acompanhamento psicológico, após a avaliação psicológica do jovem, torna-se necessária a avaliação da sua disponibilidade para mudar, isto é, do seu envolvimento num plano de mudança. Estará a criança/adolescente disposta a deixar-se ajudar? Estará disposta a mudar algo em si, na sua forma de pensar e de se comportar no sentido de aumentar a sua motivação e melhorar o seu desempenho?
Parece-me importante começar por lhes explicar o papel da escola como parte integrante das suas vidas e falar sobre a razão de haver uma escolaridade obrigatória mostrando-lhe a sua importância no progresso social, económico e até mesmo cultural de um povo. Mostrar que a escola oferece também possibilidades ao nível do desporto ou outras actividades extracurriculares e que estas podem ser exploradas a favor da motivação do aluno. O exercício físico, por exemplo, permite a manutenção da boa forma física, lutar contra a obesidade, controlar a ansiedade e melhorar a sua saúde geral. Tudo isto tem repercussões positivas no rendimento escolar dos jovens. Além disso, também ensinam uma série de hábitos e valores, na medida em que as crianças aprendem a trabalhar em equipa, a superar-se, a aceitar as derrotas e a lidar com a frustração. As várias práticas que podem encontrar ligadas ao contexto educativo servem ainda para fomentar relações de amizade e companheirismo ao mesmo tempo que ensinam regras e o respeito pelos outros.
O papel da família não pode ficar esquecido no processo de motivação do aluno e os pais/cuidadores devem também ser envolvidos. É importante explicar aos pais que as crianças, à medida que se tornam adolescentes vão-se afastando da dependência do meio familiar. A família deve acolher e ser contentora no processo de crescimento do adolescente, deve ser o seu porto seguro. Enquanto instituição que preserva e transmite valores, referências, códigos morais e éticos, contribui para a formação da identidade do adolescente. Se por um lado a busca da sua identidade implica o rompimento com valores e ideais familiares até então aceites pelo jovem, por outro lado, saber que estão lá quando é preciso, confere ao jovem uma segurança de que necessita para se aventurar no seu processo de autonomia, tão cheio de inseguranças e ambiguidades. A família deverá permitir proximidade, afecto, diálogo, compreensão. Estar sempre por perto e ficar atento mas dar espaço para que o jovem faça o seu percurso.
As regras! São sem dúvida muito importantes pois estabelecem limites e oferecem segurança. A disciplina e as regras servem para que as crianças/adolescentes conduzam os seus próprios comportamentos. Ajudam a perceber as consequências das acções, sendo uma ferramenta útil para a convivência social de qualquer tipo e em qualquer momento da vida. Além disso ajudam na autorregulação do adolescente. A disciplina é formativa, deve ser considerada como uma educação positiva e não necessariamente impositiva, mas consciente e reflectida, de modo a permitir o equilíbrio e a estabilidade.
Os pais referem com frequência que o seu filho era um excelente aluno no ensino básico, não dava preocupações, e que agora não estuda, as notas estão a descer, enfim, não entendem o que se está a passar. Muitas coisas mudam desde que a criança entra para a escola aos 6 anos até começar a ter essas manifestações de desinteresse e pouco empenho. Para começar, à medida que se vão aproximando da adolescência os jovens vão mudando não só fisicamente mas também no seu modo de pensar e de se comportar, tornando-se por vezes mais rebeldes e com mais dificuldade em controlar os seus impulsos. Por vezes continuam com os mesmos métodos de estudo ou com a ausência deles. Ora se o grau de exigência aumenta a cada ano, é-lhes exigida mais responsabilidade, aumentando também a dificuldade em gerir o tempo e o stresse. Por outro lado, por vezes têm que mudar de escola com as possíveis dificuldades de adaptação a um novo contexto escolar, novos professores, colegas, etc.
Há ainda outra razão que pode ajudar a explicar alguma desmotivação que se prende com o facto de serem nativos digitais e a escola manter ainda um modelo de ensino antigo. E depois, à medida que crescem, os jovens têm mais e maiores desafios e solicitações e têm dificuldade em gerir o tempo e as tarefas. Começa também a haver necessidade de reflectirem sobre o trabalho realizado e essa reflexão dá trabalho, custa tempo e actividades mais interessantes chamam por eles…
É importante que os alunos entendam que estudar é aplicar a inteligência para aprender e que aprender serve para se crescer enquanto pessoa e se ser mais respeitado mas também para poder aproveitar melhores oportunidades de futuro. O conhecimento é algo tão precioso que nos é útil em tudo que realizamos, além disso, é garantido para sempre e não nos pode ser tirado. Importa ainda lembrar que enquanto aprendemos fazemos com que o nosso cérebro seja estimulado e isso mantém-no em forma!
Mas é preciso verem-se resultados, e bons resultados levam à satisfação dos próprios e dos pais. Estes devem reforçar não só os sucessos dos filhos mas também o esforço que estes fizeram mesmo quando não conseguiram alcançar logo à primeira o seu objectivo maior. E para que se vejam resultados há que intervir, ensinar e treinar estratégias de estudo, fundamentais para que os jovens possam lidar com as dificuldades decorrentes de matérias mais complexas e trabalhos escolares mais exigentes.
Uma vez que há diversas formas de se aprender, os jovens devem aprender várias técnicas e experimentar quais as mais eficazes para cada um. Todas as crianças e adolescentes têm as suas particularidades e o que resulta bem com um pode não ter os mesmos resultados com outros. As estratégias de estudo devem ser implementadas e monitorizadas da sua eficácia, tanto no ponto de vista do aluno, do modo como ele percepciona o seu sucesso, como através das avaliações escolares, que deverão ver reflectidos os efeitos da intervenção. A par destas estratégias, dicas e conselhos práticos para aumentar a atenção e a concentração também podem ser trabalhados para potenciar as aprendizagens. O sono é também uma área de extrema importância com reflexo directo no desempenho escolar e académico. O ensino e a adequação de práticas de boa higiene de sono não deve ser esquecido.
Uma intervenção tendo como objectivo a melhoria do desempenho escolar passa sem dúvida pela motivação e aumento da auto-eficácia. O aluno não deverá duvidar das suas capacidades, ter sempre a melhor expectativa e acreditar que vai conseguir ultrapassar os obstáculos.
Uma criança/adolescente é um ser em construção, em desenvolvimento. Aquilo que num momento lhe pode parecer difícil, se for persistente conseguirá alcançar!