A dislexia é uma perturbação da aprendizagem específica, em que o indivíduo apresenta uma dificuldade significativa na aprendizagem da leitura. Caracteriza-se principalmente por dificuldades ao nível do reconhecimento preciso ou fluente de palavras escritas, da descodificação e da capacidade de soletrar.
O indivíduo disléxico, apesar de apresentar frequentes erros fonológicos e erros visuo-espaciais, não significa que tenha um problema visual ou auditivo, ainda que possa não conseguir discriminar os sons das letras. A dislexia também não é resultado de uma estimulação escolar deficitária, dificuldades cognitivas ou perturbações mentais, nem mesmo de falta de experiências socioculturais adequadas. A sua origem é multifatorial com destaque para os fatores os genéticos, neurológicos neuro-cognitivos. A dislexia compromete essencialmente as funções relacionadas com o processamento fonológico e à memória verbal, porém pode também afetar outras funções. Estando as aprendizagens escolares diretamente relacionadas com a leitura, esta perturbação pode comprometer seriamente o desempenho e aproveitamento escolar.
O processo de avaliação psicológica tem o seu início quando é pedida a resposta a uma questão ou um parecer profissional sobre um determinado caso ou indivíduo. Sendo a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção uma das mais prevalentes em crianças e adolescentes, uma correta e cuidada avaliação implica especificidades às quais o psicólogo deve atender.
Ao avaliar, é importante ter em consideração que as crianças e os adolescentes estão num processo de desenvolvimento e de mudança contínua muito mais acelerado que o dos adultos e que estão inseridos em contextos educativos, familiares e sociais extremamente determinantes do seu comportamento e com grande influência no seu desenvolvimento, pelo que não devem ser excluídos do processo de avaliação. No entanto, o sujeito em avaliação, em consequência da sua pouca idade, poderá também oferecer um conjunto de dificuldades intrínsecas ao próprio processo, como por exemplo, as suas capacidades de colaboração poderem ser limitadas em maior ou menor grau pelas suas características em termos de linguagem, temperamento, atividade motora, desenvolvimento cognitivo, etc.
Muitas das mudanças que tipicamente ocorrem durante a infância estão relacionadas com a maturação. As diferenças individuais aumentam à medida que a criança cresce e experiencia acontecimentos de vida não-normativos diferenciados e com impacto variável relativamente ao momento em que ocorrem. Dados empíricos evidenciam períodos críticos para certos tipos de desenvolvimento físico precoce, no entanto, para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial parece haver maior plasticidade. A avaliação psicológica atende a vários domínios e níveis específicos. Em termos de domínios, são de referir o cognitivo, o emocional, o comportamental, o interpessoal/comunicação e o domínio do desenvolvimento. Quanto aos níveis, podemos considerar o individual, a díade (ex. relação mãe/pai-filho/a), a família nuclear, a família alargada, a comunidade e a cultura da criança/adolescente.
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é a condição psiquiátrica mais frequentemente diagnosticada em crianças e caracteriza-se pela manifestação de um padrão persistente de falta de atenção e/ou impulsividade-hiperatividade, com uma intensidade que é mais frequente e grave que o observado habitualmente nos sujeitos com um nível semelhante de desenvolvimento. Esta perturbação é particularmente grave, porque os jovens tendem a desenvolver uma vasta gama de problemas escolares e de relacionamentos sociais potencialmente desadaptativos. Se não for tratada, esta perturbação pode conduzir a uma extrema frustração, alienação, insucesso escolar, comportamento antissocial ou até mesmo levar ao consumo de substâncias psicoativas. A impulsividade e agressividade podem originar dificuldades na aquisição e manutenção de relacionamentos saudáveis assim como dificultar o envolvimento no grupo de pares.
Para um diagnóstico de PHDA é necessário que sejam identificados na criança/adolescente alguns critérios, e que estes se manifestem com frequência, com intensidade desadaptativa e que persistam pelo menos durante seis meses. Como critérios exemplificativos descrevem-se o não prestar atenção suficiente aos pormenores ou cometer erros por descuido nas tarefas escolares ou outras atividades; ter dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades; parecer não ouvir quando se lhe fala diretamente; evitar ou estar relutante em envolver-se em tarefas que requeiram um esforço mental mantido; distrair-se facilmente com estímulos irrelevantes; precipitar as respostas antes que as perguntas tenham acabado; falar em excesso; interromper ou interferir nas atividades dos outros; ter dificuldade em organizar tarefas ou atividades; correr ou saltar em situações em que é inadequado fazê-lo (em adolescentes pode limitar-se a sentimentos subjetivos de impaciência), entre outros critérios igualmente relevantes.
Embora a criança possa apresentar critérios tanto de falta de atenção como de hiperatividade, em alguns casos predomina claramente um dos padrões. A PHDA pode ser do tipo misto, do tipo predominante desatento ou do tipo predominante hiperativo-impulsivo. Assim, para o correto diagnóstico deve tomar-se em consideração qual o padrão sintomático predominante nos últimos 3 meses. Para além das manifestações principais de PHDA, há crianças/adolescentes que apresentam outras perturbações, tais como perturbações de comportamento, perturbações emocionais, dificuldades nas aquisições escolares, perturbações da linguagem ou da motricidade. Há situações de comorbilidade com a PHDA, como por exemplo as perturbações de aprendizagem, a perturbação de oposição e desafio, as perturbações do comportamento, a perturbação de ansiedade, a perturbação de Asperger ou as perturbações de tiques.
A avaliação da PHDA deve incluir uma entrevista semiestruturada (pais e criança), de modo a que sejam recolhidos dados relevantes, respeitando as singularidades de cada criança/adolescente. É através desta entrevista que se inicia o estabelecimento da relação terapêutica e a motivação para o processo de avaliação e possível futura intervenção. Também os professores podem ter um papel muito importante no processo de avaliação, nos casos em que as situações problemáticas ocorrem principalmente em sala de aula. A observação, laboratorial ou naturalista (em contexto escolar ou familiar) pode ser outro método avaliativo a considerar, no sentido de se poder verificar a frequência, intensidade e o grau com que os comportamentos se manifestam. É muito útil e informativa na avaliação da relação do avaliado com os pais, irmãos, outros familiares, professores e o grupo de pares. Serve também para se identificar em que ambientes se mantêm, agravam ou diminuem os comportamentos desadaptativos.
Outro método de grande utilidade na avaliação da PHDA são os questionários ou inventários de auto e hétero-relato. Estes destinam-se à recolha estruturada e detalhada de informação complementar à fornecida pelas entrevistas e observação, permitindo uma visão mais aprofundada e completa das problemáticas apresentadas pela criança/adolescente. Quando os resultados das técnicas anteriormente descritas se revelam inconclusivos, poder-se-á recorrer à avaliação das funções executivas, na tentativa de clarificar a direção que os seus resultados nos indicam. As funções executivas referem-se à capacidade de um indivíduo em se focar em comportamentos orientados para objetivos, realizar ações voluntárias de forma independente, auto-organizada e direcionada a um fim específico.
Para isso poderá ser necessário o recurso a instrumentos de avaliação psicológica como o Teste de Stroop, que avalia a atenção seletiva; os Testes de Memória de Trabalho Auditiva e de Memória de Trabalho Visual ou o Teste de Fluência Verbal. Estes instrumentos podem ser informatizados e por isso oferecerem vantagens na análise de medidas temporais, como tempos de reação e duração da resposta, permitindo um registo preciso do tempo, aumentando a sensibilidade dos testes. Para além disso, a informatização promove a padronização das condições de apresentação de estímulos e a recolha das respostas, permitindo maior rigor no controlo das condições de avaliação. Estes instrumentos avaliam as funções executivas e têm revelado evidências de validade na sensibilidade a alguns aspetos da PHDA, reconhecendo a hipótese de que as funções executivas devem ser consideradas nos seus diversos componentes, como a atenção seletiva, o planeamento, o controlo inibitório, a memória de trabalho e a flexibilidade.
Posteriormente, o psicólogo deverá devolver ao cliente os resultados da avaliação, tendo o cuidado em integrar os vários resultados e fornecer a informação o mais clara e completa possível, de modo a permitir uma compreensão do caso, revelando respeito e compreensão pela questão em avaliação e pela criança avaliada. A discussão do relatório deverá ser feita com o cliente numa tentativa de analisar até que ponto as circunstâncias preocupantes iniciais se mantem, cessaram ou se agravaram, tendo em vista o possível encaminhamento para uma intervenção. As perturbações do neurodesenvolvimento devem ser levadas em consideração e tratadas para evitar consequências futuras certamente mais difíceis de gerir e de tratar em idade adulta.
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À medida que as férias se aproximam do fim, os pais começam a pensar no regresso às aulas e a iniciar os preparativos necessários para tal, como a compra dos materiais e manuais escolares, bem como a adequação de horários e rotinas inerentes ao período escolar.
Ao perspetivarem o “regresso às aulas”, os pais começam a preocupar-se com o que vai ser o ano letivo e o percurso escolar ou académico dos seus filhos. Como vai a criança reagir à entrada para o primeiro ciclo, como vai o adolescente adaptar-se à nova escola e ao novo ciclo de estudos, a entrada para a faculdade do filho mais velho e a autonomia ou a falta dela que este revela, etc. etc. etc. Muitas são as preocupações dos pais e não são menos as expetativas que cada um constrói para com os seus. Serem felizes e terem sucesso nas várias dimensões das suas vidas, nomeadamente, a vida escolar e o bom aproveitamento. Sendo o passado um bom preditor do futuro, se a criança é boa aluna, os pais parecem levar esta fase do ano com maior tranquilidade mas se pelo contrário, a criança tem dificuldades escolares ou comportamentais, por exemplo, cresce nos pais uma preocupação que por vezes pode ser muito perturbadora da sua tranquilidade e da harmonia familiar. Continue a ler “Regresso às aulas”→
A dislexia é uma perturbação da aprendizagem específica que se caracteriza por um desempenho na leitura substancialmente abaixo do esperado, no que diz respeito à exactidão, velocidade ou compreensão, tendo em conta a idade, as capacidades cognitivas e o nível de escolaridade do aluno. Traduz-se assim numa dificuldade na correcção e fluência na leitura de palavras.
Muitos professores, vêm-se frequentemente a braços com a dificuldade de terem uma ou mais crianças disléxicas entre os seus alunos. Este facto pode constituir um grande desafio, sobretudo para os professores menos experientes. No sentido de ajudar não só o professor a lidar com essa situação mas também para promover a aprendizagem das crianças com essa condição, aqui ficam algumas dicas, que podem ser úteis não apenas para alunos com dislexia como também para crianças com défice de atenção, problemas de concentração ou hiperactividade. Continue a ler “Tenho um aluno disléxico, e agora?”→
Após avaliação neuropsicológica, quando os pais se deparam com um resultado abaixo da média esperada para a faixa etária do seu filho, ou seja, quando a criança apresenta um desempenho intelectual de nível inferior, a reacção habitualmente é de preocupação.
Uma grande parte dos pedidos de avaliação neuropsicológica surgem por parte de pais ou professores de crianças, cujo desempenho escolar se revela baixo. Dificuldades na escrita e leitura, no cálculo e raciocínio matemático e até desajustes nas relações com os pares podem ser as razões apontadas para o pedido de avaliação cognitiva. A criança é orientada para um psicólogo, que após uma avaliação funcional nos seus diversos contextos de vida, complementa a sua avaliação, habitualmente através da aplicação de uma bateria de provas de avaliação cognitiva, adaptadas, validadas e aferidas para a população na qual essa criança se insere. Continue a ler “Desempenho intelectual de nível inferior”→
A violência está infelizmente muito presente na vida das crianças, sob várias formas e proveniente de origens diversas. Não é tarefa fácil eliminar todas as fontes de violência que possam dar às nossas crianças, exemplos de acções e reacções agressivas. Mas o que é afinal a violência e de que forma pode ela entrar na vida de uma criança?
A violência pode ser descrita como a utilização da agressividade, de forma intencional e excessiva, para ameaçar ou cometer uma acção que possa causar dano físico, emocional ou psicológico. A violência chega às crianças através das suas relações familiares, escolares e sociais. Muitas vezes os agressores estão dentro da própria família, mas as crianças também podem vivenciar situações violentas por observação de interacções entre vizinhos, pela televisão ou até mesmo pelos jogos ou livros de histórias infantis. Continue a ler “Crianças expostas à violência”→
A dislexia é uma dificuldade significativa na escrita e na leitura (descodificação das palavras) e que tem na sua génese um défice a nível do sistema fonológico.
O Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM-V) classifica a dislexia como uma Perturbação da Aprendizagem Específica com défice na leitura e caracteriza-a por um padrão de leitura em que se verifica fundamentalmente, desde as primeiras fases de aprendizagem, uma grande dificuldade na identificação das palavras escritas.
Podemos ser disléxicos independentemente da nossa capacidade intelectual, no entanto, as crianças com baixas capacidades cognitivas, défices sensoriais, ou perturbações emocionais, para além de também poderem ter dislexia, terão nestes casos o seu problema intensificado, em consequência dos referidos défices. Continue a ler “Dislexia”→
Desde que nascemos que aprendemos. Aprendemos a andar, a falar, a comportar-mo-nos. Vamos para a escola e aprendemos, aprendemos… a própria vida é uma aprendizagem constante. Mas como é que aprendemos? E qual será a melhor forma de se aprender?
Ouvem-se muitas vezes os jovens dizerem que lhes basta estarem com atenção na aula para aprenderem. Será mesmo assim? Será esse método eficaz em todas as etapas da escolaridade? E ao longo da vida? Há muitas coisas que temos que aprender e que não nos são ensinadas em sala de aula… Todos nós somos diferentes e temos um funcionamento cognitivo próprio, de modo que, cada um de nós tem a sua percepção sobre o modo como aprende melhor, mas nem sempre. Existem efectivamente muitas formas de aprender e coisas diferentes também se aprendem de formas diferentes.
Podemos aprender pela prática ao executarmos uma determinada tarefa ou aprender por rotina quando repetimos o mesmo comportamento e ele se torna automático, como é o caso de andar de bicicleta ou da condução de um automóvel. Outra forma de aprendermos é por imitação, Vemos fazer, imitamos o modelo e adquirimos uma determinada competência. Este tipo de aprendizagem é muito comum em contexto de família ou de grupo de pares. Podemos também aprender por aproximação sucessiva, ou por tentativa e erro. De cada vez que tentamos executar algo e erramos, voltamos a tentar de forma diferente até conseguirmos atingir o nosso objectivo. Também podemos aprender por associação pois temos tendência a associar mentalmente algo de novo a algo que já conhecemos. Por exemplo, se acabo de conhecer uma pessoa chamada Celeste e tenho uma tia com esse nome poderei associar a pessoa que acabei de conhecer, à minha tia, e assim lembrar-me-ei do seu nome.
Aprendemos por memorização, decorando algo como a letra de uma canção ou a tabuada, porque lemos, ouvimos ou repetimos muitas vezes, mas esta forma de aprender não garante a compreensão do conteúdo – cuidado! Outra forma de aprendizagem é a resolução de um problema. Deparando-nos com uma determinada situação, há que resolvê-la. O modo como o fazemos traz-nos um ensinamento. Assim como também se aprende por análise de um texto, de uma equação ou de um acontecimento. Analisando o que lemos ou vemos ou que nos é relatado, retiramos conclusões que nos ensinam alguma coisa. E depois existem os mapas mentais ou esquemas. Ao construirmos um mapa mental, por exemplo do caminho que nos conduz a um determinado lugar, podemos conserva-lo e utiliza-lo da próxima vez que lá tivermos que voltar.
E podemos aprender a aprender! Quando um aluno em dificuldades por ver o seu rendimento escolar a baixar, procura a ajuda de um Psicólogo, este vai ensinar-lhe diferentes métodos de estudo e monitorizar a eficácia de cada um deles. Em conjunto, vão chegar à conclusão de que uns funcionam melhor do que outros ou mesmo de que uns métodos funcionam bem com certas matérias ou disciplinas e outros métodos funcionam melhor com outras. Está a aprender a aprender!
Parecem ser cada vez mais frequentes as queixas dos pais em relação à desmotivação dos filhos para o estudo. Deparo-me muitas vezes na minha prática clínica com casos de adolescentes e até algumas crianças mais novas, que revelam grande desinteresse pela escola, ou seja, pelas aulas e pelas matérias.
Palavras como é uma seca, não tenho paciência, não preciso de saber aquilo para nada, etc., são ouvidas amiúde e causam grande preocupação a pais, professores e outros profissionais, como é o caso dos psicólogos. As causas deste desinteresse e falta de empenho de alguns jovens na vida escolar são multifactoriais e algumas delas difíceis de contornar mas os efeitos que esta desmotivação tem nos nossos miúdos é sem dúvida nefasto. Torna-se imperativo ajudar estes jovens, quer através de uma intervenção que promova o aumento da sua motivação e autoeficácia, quer no treino de estratégias de aprendizagem e monitorização das mesmas.
Em contexto de intervenção/acompanhamento psicológico, após a avaliação psicológica do jovem, torna-se necessária a avaliação da sua disponibilidade para mudar, isto é, do seu envolvimento num plano de mudança. Estará a criança/adolescente disposta a deixar-se ajudar? Estará disposta a mudar algo em si, na sua forma de pensar e de se comportar no sentido de aumentar a sua motivação e melhorar o seu desempenho? Continue a ler “Alunos desmotivados”→
Os comportamentos de higiene do sono são elementos do estilo de vida que influenciam de forma positiva ou negativa a qualidade do sono (LeBourgeois et al., 2005), ou seja, são essencialmente comportamentos que podem contribuir em benefício ou em prejuízo do sono.
Uma higiene de sono adequada inclui uma rotina na hora de deitar, dormir num ambiente confortável, sossegado e não poluído e a diminuição de comportamentos inibidores do sono, como é o caso do consumo de tabaco, cafeína e álcool antes de deitar. Faz ainda parte de uma boa higiene do sono, evitar envolver-se em actividades física, psicológica ou emocionalmente estimulantes, cerca de uma hora antes de deitar (Wolfson, 2002). Continue a ler “Higiene do sono e qualidade do sono”→