A dislexia é uma dificuldade significativa na escrita e na leitura (descodificação das palavras) e que tem na sua génese um défice a nível do sistema fonológico.
O Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM-V) classifica a dislexia como uma Perturbação da Aprendizagem Específica com défice na leitura e caracteriza-a por um padrão de leitura em que se verifica fundamentalmente, desde as primeiras fases de aprendizagem, uma grande dificuldade na identificação das palavras escritas.
Podemos ser disléxicos independentemente da nossa capacidade intelectual, no entanto, as crianças com baixas capacidades cognitivas, défices sensoriais, ou perturbações emocionais, para além de também poderem ter dislexia, terão nestes casos o seu problema intensificado, em consequência dos referidos défices.
As causas da dislexia, bem como o próprio reconhecimento desta perturbação, têm suscitado, ao longo do tempo, inúmeras controvérsias. A investigação mais recente, com recurso á imagiologia, tem sido consensual, quer em relação à origem genética e neurobiológica da perturbação, quer em relação aos processos cognitivos que lhe estão associados. Estudos nesta área têm dado origem a diversas teorias explicativas. A Teoria do Défice Fonológico é a teoria com maior aceitação por parte da comunidade científica. Segundo esta teoria, a dislexia é causada por uma disrupção no sistema neurológico cerebral ao nível do processamento fonológico. (Bradley et al, 2000). Este défice fonológico dificulta a discriminação e processamento dos sons da linguagem, ou seja, a consciência de que a linguagem é formada por palavras, as palavras por sílabas, as sílabas por fonemas e o conhecimento de que as letras do alfabeto são a representação gráfica desses fonemas. (Shaywitz, S. 2003).
A leitura integra dois processos cognitivos distintos e indissociáveis: a descodificação e a compreensão da mensagem escrita. A compreensão de um texto só é possível após a sua descodificação, isto é, após a transformação pelo leitor, dos símbolos gráficos em fonemas, sílabas, palavras e frases com sentido. O défice fonológico afecta unicamente a descodificação e todas as competências cognitivas superiores necessárias à compreensão (inteligência geral, vocabulário, discurso, raciocínio e a formação de conceitos) se mantêm intactas.
Uma vez que as competências de leitura e escrita são essenciais para a aprendizagem e para um desempenho escolar bem-sucedido, é necessário que o diagnóstico seja realizado atempadamente, no sentido de se poderem desenvolver estratégias educativas adequadas, e serem introduzidas de forma sistemática e permanente, permitindo aos alunos disléxicos uma maior facilidade na aquisição das aprendizagens da leitura e da escrita e consequentemente um melhor desempenho.
A dislexia parece ter causas múltiplas. Actualmente considera-se que é uma perturbação de origem neurobiológica, cognitiva e modelada por factores comportamentais e ambientais (Teles, 2004). Uma vez que a dislexia se caracteriza por uma dificuldade no processamento da informação de carácter fonológico, são critérios de diagnóstico os seguintes padrões: alterações precoces na linguagem em termos de articulação (que não incluem a compreensão), leitura e escrita muitas vezes incompreensíveis, apreensão ou medo de ler em voz alta, trocas de letras com diferente orientação espacial (ex. b e d), dificuldade com rimas, troca de fonemas surdos com fonemas sonoros ou vice-versa, fragmentação incorrecta das frases, dificuldade em soletrar, capacidade superior de aprendizagem contrastante com a escrita deficiente, leitura lenta e frequentes manifestações de ansiedade na realização de provas ou testes (Rief & Stern, 2010).
Sendo a dislexia uma perturbação que afecta a aprendizagem, principalmente em contexto escolar e educativo, torna-se necessária a intervenção adequada de modo a minimizar os seus efeitos no percurso e desenvolvimento académico da criança. Assim, vários autores referem que na intervenção com estas crianças é essencial a utilização de técnicas multi-sensoriais, nas quais a criança pode aprender pelo recurso a vários sentidos. Estas técnicas propõem-se trabalhar a relação entre a fala e os símbolos visuais, combinando a visão, a audição e o tacto para ajudar a criança a ler e a soletrar correctamente as palavras (Ribeiro & Baptista, 2006). Rimas e cantigas, por exemplo, facilitam a memorização ao mesmo tempo que, pelas suas características, são motivadoras facilitam uma boa adesão por parte dos mais novos, para a aprendizagem do alfabeto.
Outros investigadores nesta área, referem a importância do treino psicomotor, percetivo-motor e psicolinguístico (Torres & Fernández, 2001). Técnicas como a leitura partilhada ou o recurso à tutoria pelos pares ou alunos mais velhos podem permitir à criança com dislexia, através da interacção em sala de aula, aprendizagens mais consolidadas. Foram vários os autores que desenvolveram métodos com eficácia comprovada que permitem à criança disléxica criar um sistema próprio de leitura, através de um conjunto de ferramentas e exercícios simples adequados à superação das dificuldades de leitura e escrita.
Atendendo aos seus efeitos prejudiciais na aquisição das aprendizagens escolares, parece evidente a necessidade de uma boa avaliação da criança que apresenta dificuldades que possam indicar a presença de dislexia. A intervenção, deverá fazer-se precocemente, no sentido de capacitar a criança disléxica de estratégias e técnicas que lhe permitam desenvolver as suas competências o melhor possível, o que poderá fazer toda a diferença para o seu sucesso escolar.