Psicologia, solidariedade e apoio social

Nesta fase tão conturbada de conflito armado e com o número de refugiados de guerra na Europa a aumentar diariamente, torna-se pertinente falar de solidariedade e apoio social. A psicologia social estuda os processos inerentes ao apoio social e explica as diversas formas e fatores com ele relacionados, bem como os seus benefícios.

O relacionamento com os outros está omnipresente na vida e no quotidiano dos indivíduos. Ao conjunto de pessoas com quem temos uma relação significativa podemos chamar rede de apoio social. Em psicologia, as redes de apoio social mais estudadas são as redes egocêntricas, isto é, as redes centradas numa pessoa específica que é alvo de interesse. Existem várias formas para definir apoio social, uma delas é dizermos que corresponde à quantidade e coesão das relações sociais que rodeiam de um modo dinâmico um indivíduo (Vaz Serra, 1999). É um processo interativo que visa o bem-estar físico e psicológico. O contacto social promove a saúde e o bem-estar e tem provavelmente uma função de regulação da resposta emocional perante os vários fatores causadores de stresse (Coan, J. A., Schaefer, H. S., & Davidson, R. J., 2006).

De acordo com os referidos autores, o apoio social pode ter várias funções: apoio informativo, apoio emocional, apoio de pertença e apoio tangível, desempenhando assim um importantíssimo papel na vida do indivíduo, manifestando-se na sua saúde física e psicológica. Parece haver evidência científica de que o apoio social poderá mesmo exercer influência sobre a mortalidade, uma vez que a sua presença parece estar relacionada com um melhor funcionamento dos sistemas cardiovascular, endócrino e imunitário. Segundo investigadores nesta área, o principal benefício de se receber apoio social é a proteção do indivíduo face às consequências negativas do stresse, quer comportamentais, quer psicológicas. Teoricamente, o apoio social pode diminuir a perceção e a avaliação de stresse do indivíduo perante um determinado acontecimento negativo. Isto poderá também influenciar processos psicológicos como estados de humor negativos, baixa autoestima, baixo autocontrolo e auto-eficácia. Estes processos psicológicos, por sua vez, podem alterar o funcionamento dos sistemas cardiovascular, endócrino e imunitário, com implicações relevantes ao nível da saúde física.

O apoio social promove também a motivação para comportamentos mais saudáveis, como é o caso da prática de exercício físico, de uma boa alimentação ou o aumento de cuidados consigo mesmo, que vão influenciar de forma positiva os processos psicológicos e a saúde geral. O apoio social vai interferir com determinados padrões biológicos, como a regulação da tensão arterial e o funcionamento do sistema endócrino, que influenciam diretamente o sistema cardiovascular, assim como promovem a melhoria da resposta imunitária que se pode traduzir numa menor suscetibilidade a algumas infeções virais, principalmente no caso dos idosos. Interessa também referir a importância da qualidade do apoio social no que diz respeito à garantia de que vai funcionar de uma forma positiva, isto é, nem todas as relações sociais são benéficas. As relações com os outros podem ser conflituosas ou instáveis e deste modo o seu efeito poderá ser mesmo o contrário. Por outro lado, uma rede social muito alargada, implica muitas obrigações por parte do indivíduo o que pode aumentar ainda mais os seus níveis de stresse.

O suporte social, em conjunto com as abordagens médicas convencionais, será de grande interesse na prevenção e tratamento de algumas doenças, no sentido de utilizarem de forma terapêutica as relações sociais e os efeitos psicológicos benéficos provenientes das interações com os outros. Parece claro que o apoio social promove o bem-estar não só emocional mas também físico. Deste modo, se o indivíduo estiver inserido num contexto onde se sinta efetivamente apoiado por um conjunto de pessoas com as quais mantém um relacionamento equilibrado, será certamente uma vantagem em temos de saúde geral. Parece ser consensual que o que é realmente importante para o indivíduo, não são as relações pessoais em termos quantitativos mas sim em termos qualitativos, particularmente no que se refere aos que lhe estão mais próximos. Uma relação de qualidade certamente irá oferecer apoio de qualidade.

Não menos importante é a relação entre apoio recebido e apoio percebido, isto é, o individuo acreditar que se for necessário tem alguém disponível para o apoiar, vai proporcionar uma maior sensação de segurança, de tranquilidade e uma melhor adaptação ao stresse e à adversidade. Assim, podemos dizer que o apoio social tem um papel fundamental na qualidade de vida, e que esforços no sentido de o promover serão cada vez mais necessários, numa sociedade cada vez mais fechada em si, em que os indivíduos por vezes se isolam, outros se distanciam e outros ainda optam por um uso cada vez mais excessivo de redes sociais virtuais, em prejuízo do contacto real e pessoal tão necessário ao equilíbrio do ser humano. Nesta fase especialmente exigente do ponto de vista da solidariedade e do apoio a refugiados, é importante sensibilizar para a importância que podemos ter, tanto na saúde psicológica como na saúde física dos outros, com quem escolhemos ou com quem nos aconteceu estar em relação.

Fontes:

Coan, J. A., Schaefer, H. S., & Davidson, R. J. (2006). Lending a hand: Social regulation of the neural response to threat. Psychological Science, 17, 1032-1039.

Serra, A. V. (1999). O Stress na vida de todos os dias. Edição de Autor: Coimbra. Distribuidora Dinapress.

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