Arquitetura da memória

A memória tem uma importância fulcral nas nossas vidas, uma vez que fazemos uso dela em múltiplas situações, desde as mais simples às mais complexas. É a memória que nos permite saber quem somos e que dá sentido e significado às nossas vidas.

A aprendizagem e a memória envolvem três estádios: codificação, armazenamento e recuperação. De uma forma muito simplificada podemos dizer que os processos que ocorrem durante a apresentação da informação se designam por codificação e incluem os processos envolvidos na perceção (sentidos). Após a codificação, a informação é armazenada no complexo sistema de memória. Ao momento em que recordamos ou extraímos a informação armazenada, chamamos recuperação. Não é pois possível haver armazenamento sem codificação, nem recuperação sem os anteriores.

Podemos fazer uma distinção entre memória de curto prazo e memória de longo prazo. Estas diferem muito no que diz respeito às suas capacidades. A memória de curto prazo consegue apenas “guardar” um número limitado de itens, enquanto a memória de longo prazo, permite um armazenamento essencialmente ilimitado. As diferenças também se observam no que diz respeito á sua duração, ou seja, a memória de curto prazo tem a duração apenas de alguns segundos, enquanto a memória de longo prazo permite armazenar e posteriormente recuperar, décadas de informação.

Para garantir com êxito o armazenamento na nossa memória, das múltiplas informações a que somos expostos, é necessário um processo em que, numa primeira fase a informação é processada num registo de curto prazo, com uma capacidade muito limitada, e, se não houver repetição, esta informação será perdida. Caso contrário a informação passa para um registo de longo prazo, mais permanente. Aqui, na memória de longo praxo, existe um sistema de busca e recuperação da informação que utilizamos para cada tarefa específica. As memórias recentes são modificadas até que se transformam em memórias de longo prazo, estáveis. No entanto, com o passar dos tempo, vai havendo uma diminuição gradual da informação armazenada, assim como da capacidade para a recuperar.

Assim, ao nível funcional, a memória compreende quatro fases interligadas entre si: a memorização, a conservação, a recuperação e o reconhecimento. Ao nível da memorização voluntária, esta pode ser mecânica; quando se dá pela repetição da informação sem estabelecer relações entre os objetos e os fenómenos em si; a memorização de associação, quando há um vínculo entre a informação nova e a informação previamente armazenada na memória e finalmente a memorização lógica, quando o processo inclui a essência das relações entre os objetos e as ideias.

Descrevendo os vários tipos de memória podemos nomear a memória imediata, a memória explícita, a memória implícita, a memória deferida, a memória operativa e a memória declarativa. A memória imediata (memória a curto prazo, de trabalho ou funcional) associa-se ao registo sensorial, ou seja, corresponde á informação captada através dos sentidos, que permanece um curto espaço de tempo e é posteriormente processada, caso contrário, perde-se. A memória explícita codifica a informação autobiográfica e dos factos. A sua construção depende de processos como a avaliação, a comparação ou a inferência.

A memória implícita tem um caráter automático e inconsciente e forma-se através da repetição. É processada pelos sistemas sensoriais e motores, implicados nas aprendizagens das tarefas. A memória deferida ou de longo prazo, contém todo o conhecimento sob a forma verbal e visual, ou seja, tudo o que aprendemos se concentra neste tipo de memória, que depende da frequência e da contiguidade. A memória operativa está ligada ao controlo, regulação e manutenção da informação relevante nas tarefas das operações complexas.

Por fim, a memória declarativa, que corresponde à capacidade de representação de factos, acontecimentos e conhecimentos que, por sua vez, são recuperados de maneira consciente e expressos de forma explícita. Divide-se em dois subtipos: a memória episódica, que tem a função de conservar os acontecimentos tanto de forma temporal como espacial, e a memória semântica, que contém factos através da repetição e da categorização de conceitos, sem ter a necessidade de recordar quando foi a sua aquisição. É um tipo de memória independente de qualquer conhecimento específico ou cultural e pode apresentar-se sob a forma verbal, visual e auditiva.

Como se pode verificar, a memória pode ser descrita como um complexo conjunto de sistemas, que permitem o armazenamento, de forma temporária ou permanente, de informação e conhecimentos, que podem ser posteriormente recuperados e utilizados. Do mesmo modo consiste num depósito de comportamentos aprendidos, utilizados e reutilizados ao longo do curso de vida.

Fontes:

Casanova-Sotolongo, P., Casanova-Carrillo, P., & Casanova-Carrillo, C. (2004). Trastornos de la memoria asociados con la edad en la atención médica básica. Aspectos conceptuales y epidemiológicos. Revista de neurología, 38 (1), 57-61.

Kandel, E.R., Jessel T. M., Schwartz, J. H. (2001). Neurociencia y conduta. Madrid: Prentice Hall.

Ruiz-Contreras, A., & Cansino, S. (2005). Neurofisiología de la interacción entre la atención y la memoria episódica: revisión de estudios en modalidad visual. Revista de Neurología, 41 (12), 733-743.

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