
A complexidade das relações humanas, onde a busca por amor, amizade e conexão por vezes se enreda em grandes desafios, há infelizmente casos, em que a linha entre o saudável e o tóxico se funde, e o vínculo que se quer como fonte de suporte e de crescimento, pode por vezes transformar-se numa fonte de solidão e sofrimento.
A procura e o desejo de construirmos relações significativas é uma constante, sendo fundamental compreender quando num relacionamento, as atitudes e os comportamentos ultrapassam os limites saudáveis. A crítica constante, o controlo excessivo, a manipulação, a chantagem emocional, são indícios de uma dinâmica relacional disfuncional e perigosa. Lamentavelmente, embora os sinais sejam muitas vezes evidentes, algumas pessoas “escolhem” não os ver, consciente ou inconscientemente, umas vezes por medo da solidão, outras por não se sentirem capazes para o confronto, outras ainda por consideraram normativas, tais atitudes e comportamentos.

Os comportamentos abusivos podem ocorrer em diversos contextos e não estão restritos apenas ao contexto familiar ou ás relações de casal. É necessária uma tomada de consciência para aquilo que são os padrões prejudiciais, de modo a que possamos estar atentos ás subtilezas e aos sinais inequívocos dos relacionamentos abusivos. Tanto nas relações amorosas, como na família alargada, no trabalho ou até mesmo nas relações de amizade, pode emergir um conjunto complexo de comportamentos que podem ir desde o controlo excessivo até a manipulação emocional.

Nas relações de casal, tipicamente, as manifestações de abuso ultrapassam o observável, abrangendo o controlo excessivo, o isolamento da vítima (ou vítimas) e a violência física ou psicológica. Essas dinâmicas podem criar ciclos de trauma e afetar profundamente a saúde mental dos envolvidos, criando um ambiente toxico, onde não cabe a verdadeira conceção do amor. Essas práticas causam dano não só na integridade individual, mas também nos laços, que deveriam ser uma base segura de apoio e desenvolvimento, deixando marcas duradouras nas relações e nas pessoas. Nas relações de parentalidade, o abuso pode assumir diversas formas, desde a negligência ao controlo excessivo, passando pela violência física e/ou verbal. Estas dinâmicas não prejudicam apenas a infância e adolescência, mas também têm impacto no desenvolvimento emocional e relacional ao longo da vida.

A identificação de um relacionamento tóxico, reside na capacidade por vezes disfarçada, que esses padrões têm de se instalar nas interações do dia-a-dia. A manipulação emocional, muitas vezes subtil e disfarçada de atenção e preocupação excessiva, pode minar gradualmente a autoestima e autonomia da vítima, aprisionando-a e impedindo a sua liberdade para tomar decisões e fazer escolhas, tão fundamental para o desenvolvimento individual. A crítica reiterada, utilizada por vezes como um “reparo construtivo”, pode levar a sentimentos de inadequação por parte da vítima, corroendo lenta e silenciosamente a sua autoestima, com o risco acrescido de poder levar á normalização do comportamento abusivo e dificultar o reconhecimento da situação.

O contexto profissional pode ser igualmente tóxico, tornando-se por vezes num terreno fértil para o abuso, incluindo o uso indevido do poder, o assédio moral, sexual ou a discriminação. Esses comportamentos abusivos não prejudicam apenas o bem-estar das vítimas, mas concorrem igualmente para dissolução da integridade da cultura da empresa ou organização. A relação com figuras hierarquicamente superiores, pode ser comprometida por comportamentos inadequados e abusos de poder. Essas dinâmicas desiguais podem gerar ambientes de trabalho desgastantes, doentios – tóxicos, com sérias implicações na saúde emocional, física e até económica das vítimas.

Em contexto escolar podem também existir relações consideradas tóxicas. O Bullying entre pares, será provavelmente a mais mencionada, no entanto, algumas dinâmicas entre professores (ou auxiliares) e alunos, podem ser igualmente disfuncionais e traumáticas. Essas condutas desequilibradas podem prejudicar seriamente o bem-estar psicológico mas também o desempenho das vítimas, deixando marcas persistentes e por vezes permanentes. As relações de amizade, fundamentais ao longo do ciclo de vida, também não estão a salvo da toxicidade. Podem surgir comportamentos negativos como manipulação, ou sentimentos desadaptativos como a inveja, o ciúme, a deslealdade ou o desrespeito. Essas relações abusivas podem afetar a tranquilidade, as interações sociais, a autoestima e criar um ambiente tóxico, onde a confiança pode ser quebrada de maneira irreversível.

É fundamental que a vítima, ao identificar uma relação abusiva, priorize a sua segurança e bem-estar. É crucial que reconheça a situação logo desde o início dos comportamentos abusivos, e que aja em sua defesa, pois o risco de entrar em negação pode prolongar o ciclo do abuso, tornando-se mais difícil quebra-lo. Procurar apoio junto a familiares, amigos ou profissionais qualificados (ou mesmo as forças de autoridade e segurança) vai permitir encontrar o suporte instrumental e emocional de que necessita. Optar pelo acompanhamento psicológico pode fornecer não só o apoio que precisa, mas também ferramentas para poder lidar de uma forma mais adaptativa com as suas dificuldades e emoções negativas, e ainda ajudar nas tomadas de decisão informadas e conscientes.

Peça ajuda, viva livre, saudável e feliz!