Desafios da Parentalidade na Era Digital

Enquanto psicóloga, tenho recebido com frequência pais que procuram ajuda por sentirem que perderam o controlo sobre os hábitos digitais dos seus filhos adolescentes. Jogos online, redes sociais, horas a fio em frente ao telemóvel ou computador… São queixas recorrentes. Muitos destes pais chegam esgotados, angustiados, com um sentimento de impotência e, não raras vezes, com a esperança de que a psicóloga tenha “a solução”. “Ele não me ouve, talvez ouça alguém de fora”, “Já tentei tudo, diga-lhe a senhora o que fazer”, “Ela só vive para o telemóvel, já não sei o que fazer”. Estas frases não são apenas desabafos, são gritos silenciosos de pais que estão em sofrimento, por vezes confusos sobre o seu papel e profundamente preocupados com o futuro dos seus filhos.

É importante, antes de mais, reconhecer este sofrimento. A parentalidade na era digital coloca desafios para os quais poucos adultos estavam preparados. A velocidade com que a tecnologia evolui, aliada à crescente complexidade das relações online, pode criar um verdadeiro fosso geracional. Muitos pais sentem que perderam a autoridade ou a capacidade de comunicar com os filhos de forma eficaz. Neste cenário, não é de estranhar que depositem na figura do psicólogo uma série de expectativas, por vezes irrealistas, na esperança de encontrar respostas rápidas e eficazes.

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Relações tóxicas

A complexidade das relações humanas, onde a busca por amor, amizade e conexão por vezes se enreda em grandes desafios, há infelizmente casos, em que a linha entre o saudável e o tóxico se funde, e o vínculo que se quer como fonte de suporte e de crescimento, pode por vezes transformar-se numa fonte de solidão e sofrimento. 

A procura e o desejo de construirmos relações significativas é uma constante, sendo fundamental compreender quando num relacionamento, as atitudes e os comportamentos ultrapassam os limites saudáveis. A crítica constante, o controlo excessivo, a manipulação, a chantagem emocional, são indícios de uma dinâmica relacional disfuncional e perigosa. Lamentavelmente, embora os sinais sejam muitas vezes evidentes, algumas pessoas “escolhem” não os ver, consciente ou inconscientemente, umas vezes por medo da solidão, outras por não se sentirem capazes para o confronto, outras ainda por consideraram normativas, tais atitudes e comportamentos.

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Bem-Estar e Saúde Psicológica

Organização Mundial de Saúde (OMS) define Saúde Psicológica como um estado de bem-estar que permite que a pessoa realize as suas capacidades e o seu potencial, que lide com o stresse normal do dia-a-dia e que trabalhe produtivamente e contribua ativamente para a sua comunidade.

A Saúde Psicológica é parte integrante da Saúde do ser humano, considerando-se que não há Saúde sem Saúde Psicológica. Relaciona-se com a capacidade de utilizarmos as nossas competências e capacidades para gerir os desafios do quotidiano, nos diferentes contextos em que vivemos (ex. familiar, escolar ou profissional). A Saúde Psicológica está associada também com o modo como pensamos, sentimos, avaliamos as situações, nos relacionamos com os outros e tomamos decisões. Quando estamos psicologicamente saudáveis, sentimo-nos confiantes e capazes de lidar com a nossa vida e de nos relacionarmos com os outros.

A felicidade e o bem-estar são frequentemente utilizados como sinónimos de Saúde Psicológica. A forma como avaliamos positivamente os acontecimentos de vida, em termos de experiências agradáveis e emoções positivas (ex. amor, alegria, tranquilidade, gratidão, esperança…), vai influenciar a nossa Saúde Psicológica. Quando nos sentimos felizes e de bem com a vida e conosco mesmos, enérgicos e disponíveis para os outros, podemos dizer que temos uma boa Saúde Psicológica e que esta contribui para a nossa satisfação com a vida.

Os estilos de vida saudáveis, o autocuidado, o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida familiar e as relações positivas e de qualidade, são fatores determinantes para a nossa Saúde Psicológica. Adotar uma alimentação racional e a prática de exercício físico, pode ser o primeiro passo para nos tornarmos mais saudáveis, através do benefício que estas duas práticas têm para a saúde física e consequentemente para a Saúde Psicológica. Por outro lado, não nos podemos esquecer de nos mimar. Realizar atividades que nos dão prazer ou dedicarmos algum do nosso tempo a passatempos que nos são agradáveis, como por exemplo a leitura, a escrita, a música, passeios ao ar livre, realizar ações de voluntariado, etc., também contribui para o bem-estar pessoal.

A socialização é fundamental para que nos sintamos bem e permite uma série de interações prazerosas que irão contribuir para o aumento da nossa satisfação com a vida. Relações positivas e saudáveis, ajudam por meio da partilha, da diversão e do apoio que nos podem trazer, a sentirmo-nos bem e a atribuirmos á nossa existência positividade, alegria e até um propósito. A família e os amigos têm um papel essencial na nossa Saúde Psicológica. O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional consegue-se muitas vezes, com a ajuda dos que connosco partilham histórias, experiencias e preferências.

Reveja a sua vida e faça um balanço de como a está a gerir. Procure introduzir momentos de autocuidado para que se consiga reequilibrar e recentrar. Não descure a sua Saúde Psicológica pois sem ela não poderá ser feliz!

Terapia de casal

A intervenção psicológica em situação de casal, foca-se no casal e não na relação em si. O importante é avaliar cada elemento do casal e intervir no sentido de melhorar a sua saúde emocional. Pessoas emocionalmente estáveis tendem a ter relações mais saudáveis e satisfatórias.

Os fatores de base para a manutenção de uma relação de casal satisfatória são o amor e a vontade de continuarem juntos. Quando surgem dificuldades ao nível relacional, os erros mais comum são a procura tardia de ajuda, a cedência “por arrasto” de um dos elementos do casal para comparecer às sessões terapêuticas, ou seja a falta de sintonia no processo de mudança, quer por não reconhecer que há um problema na relação, quer por, embora reconhecendo a existência de dificuldades, não esteja preparado para dar início ao processo de mudança. Ainda que reconhecendo problemas relacionais e estando preparados para mudar, podem haver fatores que impeçam ou dificultem o empreendimento de ações de mudança.

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O que é ser assertivo?

A palavra assertividade tem origem no termo asserção. Fazer asserções significa afirmar, deriva do latim afirmare, ou seja, tornar firme, consolidar, confirmar  ou declarar com firmeza. A assertividade é mais do que um estilo de comunicação, é uma filosofia de vida!

Uma comunicação assertiva pressupõe uma comunicação criativa e transparente, através da qual os indivíduos expressam os seus desejos e necessidades, pensamentos e sentimentos, de forma direta e honesta, respeitando o ponto de vista e o direito dos outros. É um estilo de comunicação que permite a manifestação da vontade do emissor, a afirmação do seu eu, sem agredir nem ignorar o recetor. Uma atitude assertiva permite-nos ocupar o nosso espaço sem invadir o espaço do outro, uma virtude, uma vez que está no meio de dois extremos inadequados: o estilo agressivo e o estilo passivo.

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Adolescência, relações entre pares e o papel dos pais

Ao longo da infância, as relações sociais, nomeadamente com outras crianças, desempenham um papel importante no desenvolvimento infantil. Contudo, é na adolescência que a relação com os pares se torna mais relevante, tanto na aprendizagem de competências sociais como na expressão emocional ou até na construção da personalidade.

As relações de amizade e de igualdade que se estabelecem entre os adolescentes, a grande quantidade de tempo que partilham, bem como as atividades conjuntas, aproximam colegas e amigos, fazendo com que estes tenham uns nos outros um espaço privilegiado de cooperação, intimidade, confidencialidade, interajuda e até de “porto seguro”, apesar da competitividade que por vezes está presente. Ao integrar-se num grupo, ou seja, ser aceite pelos pares, o adolescente sente-se reconhecido pelo grupo e passa a participar e a contribuir para a existência desse mesmo grupo, desenvolvendo em si o sentimento de pertença, tão importante para as suas vivências dessa fase da vida.

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Solidão

Em tempos como os que vivemos desde há aproximadamente um ano e meio, o conceito de solidão tem estado muito presente na vida de muitos de nós. Uma das faixas etárias que mais terá sofrido as consequências do afastamento social é a dos idosos, uma população já de si mais vulnerável, por várias ordens de razão.

O conceito de solidão tem vindo a ser estudado por diversas áreas da ciência e do conhecimento, como a psicologia e a sociologia. A perceção de solidão é algo subjetiva, uma vez que, algumas pessoas convivem tranquilamente com o facto de estarem sós e outras se sentem sós e infelizes mesmo quando estão rodeadas de outras pessoas. Cada indivíduo sente a solidão à sua maneira e daí a dificuldade de se chegar a uma definição única e abrangente. As representações sociais da solidão incluem uma enorme heterogeneidade de significados, caindo em especificidades que dificultam a sua interpretação e entendimento. Em psicologia, o conceito de solidão pode ser caracterizado pela ausência afetiva do outro e com a sensação de se estar só. Ainda que próximo do ponto de vista geográfico, pode não haver aproximação psicológica devido à falta de interação e comunicação emocional entre os indivíduos.

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Nós e os outros

O relacionamento com os outros está presente na vida e no quotidiano de todos nós. Ao conjunto de pessoas com quem temos uma relação significativa podemos chamar rede de apoio social. Em psicologia as redes de apoio social mais estudadas são as redes egocêntricas, isto é, as redes centradas numa pessoa específica que é alvo de interesse.

Existem várias formas para definir apoio social. Uma delas é dizermos que corresponde à quantidade e coesão das relações sociais que rodeiam de um modo dinâmico um indivíduo. O apoio social é um processo interativo que visa o bem-estar físico e psicológico. O contacto social promove a saúde e o bem-estar e tem provavelmente uma função de regulação da resposta emocional perante os vários fatores causadores de stresse. De acordo com alguns autores, o apoio social pode ter várias funções: apoio informativo, apoio emocional, apoio de pertença e apoio tangível, desempenhando assim um importantíssimo papel na vida do indivíduo, com impacto muito significativo na sua saúde física e psicológica. Este apoio poderá mesmo exercer influência sobre a mortalidade, uma vez que a sua presença parece estar associada a um melhor funcionamento dos sistemas cardiovascular, endócrino e imunitário, e com repercussões positivas na saúde física. O principal benefício de receber apoio social é a proteção do indivíduo face às consequências negativas do stresse, quer comportamentais, quer psicológicas. Teoricamente, o apoio social pode diminuir a perceção e a avaliação de stresse do indivíduo, perante um determinado acontecimento. Isto poderá também influenciar positivamente processos psicológicos como, estados de humor negativos, baixa autoestima e baixo autocontrolo e autoeficácia.

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Psicologia e negociação

Segundo Aristóteles, qualquer um pode zangar-se e isso é fácil. O que não é fácil é zangar-se com a pessoa certa, na justa medida no momento certo, pela razão certa e da maneira correta. Para ultrapassar a “zanga” nada como negociar…

Cada vez mais, nas sociedades modernas, é necessário desenvolver formas de diálogo com vista á redução de conflitos e ao evitamento de situações de escalada emocional, que podem levar a discordâncias e trocas de palavras e atos hostis. Os processos de negociação baseados na cognição social e na tomada de decisão, áreas de estudo da psicologia, visam a regulação socio-emocional e assumem uma grande importância na gestão da comunicação interpessoal em diversos contextos. A negociação pode potenciar a descoberta de soluções eficazes e adaptativas na resolução de litígios de diferentes domínios como por exemplo familiar, profissional ou político. Podemos definir negociação como um processo de resolução de um conflito entre duas ou mais partes em oposição de ideias ou convicções, mediante o qual ambas alteram as suas exigências, com o objetivo de alcançarem um compromisso aceitável por todas as partes envolvidas.

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