Solidão

Em tempos como os que vivemos desde há aproximadamente um ano e meio, o conceito de solidão tem estado muito presente na vida de muitos de nós. Uma das faixas etárias que mais terá sofrido as consequências do afastamento social é a dos idosos, uma população já de si mais vulnerável, por várias ordens de razão.

O conceito de solidão tem vindo a ser estudado por diversas áreas da ciência e do conhecimento, como a psicologia e a sociologia. A perceção de solidão é algo subjetiva, uma vez que, algumas pessoas convivem tranquilamente com o facto de estarem sós e outras se sentem sós e infelizes mesmo quando estão rodeadas de outras pessoas. Cada indivíduo sente a solidão à sua maneira e daí a dificuldade de se chegar a uma definição única e abrangente. As representações sociais da solidão incluem uma enorme heterogeneidade de significados, caindo em especificidades que dificultam a sua interpretação e entendimento. Em psicologia, o conceito de solidão pode ser caracterizado pela ausência afetiva do outro e com a sensação de se estar só. Ainda que próximo do ponto de vista geográfico, pode não haver aproximação psicológica devido à falta de interação e comunicação emocional entre os indivíduos.

A questão fundamental relacionada com a solidão é sem dúvida a insatisfação que a pessoa sente com as suas relações sociais. Esta insatisfação advém da discrepância entre as relações sociais que cada um consegue ter e aquelas que desejava ter. Essa insatisfação leva a um sofrimento emocional, mais ou menos intenso, mas que pode ser muito doloroso e desencadear outros sentimentos como o abandono, a baixa autoestima, a angústia ou o desalento. Os idosos, são à partida pessoas com maior vulnerabilidade à solidão, devido a uma multiplicidade de fatores condicionantes. Ao longo da vida vão-se somando perdas e muitos idosos ficam efetivamente com uma rede de suporte social mais reduzida, uma vez que vêm morrer amigos, vizinhos ou familiares, tornando-se sobreviventes, cujas interações pessoais ficam inevitavelmente empobrecidas. As próprias perdas decorrentes de uma menor funcionalidade física e/ou cognitiva, próprias do avançar da idade, conduzem por vezes ao isolamento e consequentemente a sentimentos de solidão com aumento do sofrimento psicológico e redução da qualidade de vida.

A independência e autonomia dos filhos e o consequente afastamento, a par da dificuldade de adaptação dos mais velhos a esse facto, pode determinar o aparecimento de sentimentos de tristeza e solidão. Por outro lado, a reforma e a ausência de atividade laboral e das respetivas interações sociais, pode também concorrer para o aparecimento ou a intensificação desses sentimentos. As perdas ao nível da saúde e de algumas capacidades que uma idade mais avançada pode prever, podem traduzir-se em perdas funcionais que levem a estados de dependência física. Estes são sem dúvida fatores muito relevantes para esta temática. A perda do/a companheiro/a por viuvez, é também exemplo de um fator determinante para o aparecimento do sentimento de solidão. Contudo, nem sempre tem que ser assim. As pessoas mais velhas também têm oportunidades de ação, no sentido de prevenir a solidão e os seus efeitos nefastos.

Começando pela prevenção torna-se imperativo falar de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença. É assim necessário motivar e capacitar as pessoas para o aumento da sua preocupação, não só com a promoção da saúde, como com a prevenção da doença, no sentido de dar mais vida aos anos e não apenas de dar mais anos à vida. Deste modo, cabe-nos enquanto sociedade facultar aos mais velhos um conjunto diversificado de ações, centradas no indivíduo ou no ambiente, conducentes à melhoria da saúde e ao bem-estar. Felizmente, muitas pessoas com 65 anos ou mais, conservam boas capacidades intelectuais e físicas, maior nível de instrução e conhecimentos, bem como interesse em permanecerem ativos. Para estas pessoas é importante que hajam estruturas que os possam apoiar, no sentido de garantir a manutenção dos seus papéis sociais, e, consequentemente, do seu bem-estar e qualidade de vida. Familiares, profissionais especializados, e os próprios idosos, podem unir esforços de modo a que estes possam vivenciar um envelhecimento de forma bem-sucedida. Para isso há que quebrar barreiras e estereótipos, de que os mais velhos são incapazes, frágeis e pouco disponíveis, devendo pelo contrário, tirar partido da sua sabedoria, capacidade de envolvimento e disponibilidade para interagir com os outros.

Cabe a profissionais como os psicólogos, fazer uma avaliação cuidada da situação do idoso, desenhar uma intervenção que pode ser individual ou grupal e que vá ao encontro das suas necessidades, gostos e capacidades. O bem-estar dos mais velhos passa não só pela sua própria capacidade de interação, mas também pelas oportunidades que lhes são oferecidas. Com as anteriormente referidas perdas, é natural que a rede de apoio social dos idosos fique mais pequena e fragilizada. Para isso há que ajuda-los a integrar novos grupos, em que sejam desenvolvidas atividades como a prática de exercício físico, a sensibilização para a alimentação saudável e a estimulação cognitiva, entre outras. O convívio e a expressão emocional, bem como a partilha de experiências e conhecimentos, tem uma função primordial no funcionamento cognitivo do idoso e no seu sentimento de autoeficácia, valorizando mais a vida. Para isso é fundamental a manutenção das relações de amizade mas também a criação de novos relacionamentos interpessoais, nomeadamente com os mais novos, no sentido de promover a troca de perspetivas, de experiências e de conhecimentos.

Envelhecer é inevitável, procure fazê-lo de forma ativa e feliz!

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