
A ansiedade é uma reação comum e até certo ponto funcional, na vida de qualquer indivíduo, podendo manifestar-se por comportamentos de fuga ou evitamento. É normal que cada um de nós, em vários momentos da nossa existência, experienciemos o sentimento de ansiedade, sempre que avaliamos cognitivamente uma situação ou um acontecimento que consideramos importante.
O regresso às aulas é para a maioria crianças e jovens, um momento aguardado com alguma ansiedade. Corresponde ao reinício de rotinas e tarefas, interrompidas pelo período de férias. Principalmente as crianças do primeiro ciclo, tendem a revelar uma grande vontade de recomeçar a escola e de rever colegas e professores, o que de um modo geral, nem sempre é vivido com o mesmo entusiasmo por parte dos adolescentes. De qualquer modo, o momento de se confrontarem com novos professores, distribuição de turmas e horários, bem como novas disciplinas e novas matérias, pode ser sempre acompanhado de alguma ansiedade e outras emoções intensas.

Embora a ansiedade experienciada no regresso às aulas seja normal e funcional, há casos em que se pode tornar patológica, principalmente se se prolongar no tempo e se causa um sofrimento emocional na criança ou no jovem que interfira com o seu funcionamento quotidiano. Alguns dos sinais de alarme a que os pais e educadores devem ficar atentos são a inquietação, fadiga, irritabilidade, tensão muscular, tristeza, dificuldades de concentração e atenção e dificuldades relacionadas com o sono. Há que dar atenção ao modo como a criança/adolescente se preocupa com os trabalhos ou atividades escolares e com a qualidade do seu desempenho.

A situação pandémica que vivemos nos últimos dois anos levou a que as crianças e jovens se vissem confrontados com novas exigências e contingências, com as quais nem sempre foi muito fácil lidar e adaptarem-se. Porém, o tempo passou e espera-se que neste ano letivo que se avizinha, a normalidade volte à escola e ás nossas vidas, o mais possível. De qualquer forma com ou sem pandemia ou restrições, a ansiedade é uma reação natural e há que saber controlá-la. Ensine a sua criança a identificar os primeiros sinais que a sua ansiedade lhe dá. Habitualmente as queixas são dores de barriga ou de cabeça, insónias, pesadelos, perturbações do apetite, aceleração do ritmo cardíaco, sensação de aperto no peito, falta de ar, entre outras.

Quando a criança/jovem consegue identificar os sinais iniciais é mais fácil poder controla-los e evitar que escalem para uma situação de pânico. Ensine-lhe a respirar pausada e profundamente para que possa reduzir os níveis de ansiedade e não perder a sua funcionalidade. Fale com a sua criança e mostre-lhe que está disponível para a ajudar se algo não estiver a correr bem. Converse diariamente com a criança, perguntando-lhe como foi o seu dia e o que teve de melhor. Faça perguntas abertas para que a criança/jovem tenha a possibilidade de se expressar livremente.

O desempenho escolar e os objetivos esperados devem ser razoáveis e realistas. Mesmo quando os resultados não correspondem às espectativas, devemos sempre elogiar os esforços e demonstrar confiança para que as crianças/adolescentes possam acreditar no seu próprio potencial e não se desmotivem. Em conjunto, pais, professores e o psicólogo escolar, podem ser grandes aliados na discussão de problemas ou preocupações e na resolução de problemas e busca de soluções.

Para reduzir a ansiedade, o regresso à escola deve ser preparado com antecedência. Devemos preparar os mais pequenos para os novos desafios que terão pela frente (ex. Entrada para o primeiro ciclo, mudança professor ou de escola, etc.), de forma descontraída, sem dramatizar nem gerar inseguranças ou dúvidas. A compra e preparação dos materiais escolares, pode ser um momento vivido em família e que pode ser muito motivador e entusiasmante para as crianças, principalmente as mais novas. Inclua-as na escolha dos cadernos, lápis, estojo e mochilas, de modo a encorajar a sua boa utilização.

Procure estar atento, sem contudo transmitir a sua própria ansiedade e inseguranças. As crianças “aprendem” facilmente a ficar ansiosas. Estar alerta para com os sinais de alarme significa dar espaço de diálogo para que a criança/adolescente se sinta confortável para expor as suas preocupações e dificuldades. Por fim, o reestabelecimento das rotinas e das regras/limites é também muito estruturante para os mais novos. Elas fazem falta e definem os seus dias e o modo como eles vão decorrer, reduzindo a imprevisibilidade, com a qual muitas crianças e jovens têm dificuldade em lidar. Preencher horários, fazer listas de materiais/tarefas, escolher as atividades extracurriculares ou preparar os lanches para levar para a escola são muito importantes na organização do dia-a-dia mas também na estabilidade dos alunos e das suas famílias.

A escola é o local privilegiado para novas aprendizagens e aquisição de competências. No entanto, convém não esquecer que estas não acontecem apenas dentro da sala de aulas. O recreio, as brincadeiras e as interações com os pares, são momentos de grande importância em termos de desenvolvimento infantil, nomeadamente de aquisição de competências socio-emocionais. Ao final do dia, não pergunte só como correram as aulas, pergunte também a que brincou nos intervalos ou como ocupou o seu tempo de recreio. O nosso interesse pelas atividades no exterior da sala de aula, pode ainda ajudar a prevenir ou a resolver situações de abuso ou bullying, antes que elas se tornem realmente perturbadoras e impeditivas de uma escolaridade tranquila e bem-sucedida.

Desejo a todos um feliz e bem-sucedido ano letivo de 2022/2023!