Nos dias de hoje, a adolescência apresenta-se como uma fase do desenvolvimento particularmente desafiadora, não apenas pelas transformações fisiológicas e emocionais, mas também pelas novas exigências sociais e tecnológicas que moldam a forma como os jovens comunicam entre si. Apesar de estarem permanentemente ligados através de redes sociais e dispositivos móveis, muitos adolescentes revelam uma acentuada dificuldade em estabelecer relações interpessoais saudáveis e eficazes com os seus pares. Este fenómeno, frequentemente observado por educadores, pais e psicólogos, levanta preocupações relativamente ao desenvolvimento de competências relacionais fundamentais para a saúde mental e bem-estar ao longo da vida.
A adolescência é uma fase crítica para o desenvolvimento das competências sociais. É nesta etapa que os jovens experimentam, constroem e consolidam a sua identidade social, explorando papéis e procurando a aceitação no grupo de pares. No entanto, o contexto atual, fortemente influenciado pela digitalização da comunicação, alterou profundamente os modos de interação entre os adolescentes. O contacto cara-a-cara, essencial para a aquisição de competências relacionais como a empatia, a escuta ativa e a leitura da linguagem não verbal, tem vindo a ser progressivamente substituído por interações mediadas por écrans, principalmente mensagens escritas (Twenge, 2017).

Este afastamento da comunicação presencial, pode ter efeitos muito negativos no desenvolvimento emocional e social dos jovens. Alguns estudos concluem que os adolescentes que passam mais tempo em interações digitais, em detrimento das relações interpessoais reais, tendem a relatar níveis mais elevados de solidão, ansiedade social e dificuldades na resolução de conflitos (Orben & Przybylski, 2019). As competências relacionais como a assertividade, a gestão emocional e a regulação do comportamento em contextos sociais, são, por isso, áreas frequentemente fragilizadas.

A abordagem cognitivo-comportamental integrativa considera o comportamento humano como resultado da interação entre processos cognitivos, emocionais, comportamentais e contextuais. No caso das dificuldades de comunicação nos adolescentes, esta perspetiva permite compreender como as crenças disfuncionais, os défices de competências sociais e os padrões comportamentais evitantes, podem interagir para manter ou agravar o problema. Por exemplo, um adolescente que acredita que será rejeitado se expressar abertamente as suas opiniões num grupo, pode adotar comportamentos de retraimento ou submissão, o que, por sua vez, limita as suas oportunidades de reforço positivo e de aprendizagem social. Esta espiral de evitamento reforça a ansiedade social e contribui para a perpetuação do isolamento (Beck, 2011).

As intervenções baseadas na terapia cognitivo-comportamental (TCC) e em modelos integrativos, procuram interromper este ciclo através da utilização de estratégias como:
- Reestruturação cognitiva: identificar e desafiar os pensamentos automáticos negativos, relacionados com a autoimagem e a perceção dos outros (Beck, 2011);
- Treino de competências sociais: ensinar, modelar e treinar comportamentos como, iniciar uma conversa, fazer e receber críticas, expressar emoções e lidar com a rejeição;
- Exposição gradual a situações sociais temidas, permitindo ao jovem ganhar confiança e “desconfirmar” crenças disfuncionais;
- Integração de técnicas de regulação emocional e mindfulness, que promovem uma maior consciência e controlo dos estados internos (emoções).
Embora a intervenção individual seja eficaz e importante, os contextos familiar e escolar, não podem ser desconsiderados. A ausência de modelos positivos de comunicação em casa, estilos parentais autoritários ou negligentes, bem como ambientes escolares pouco inclusivos ou marcados pelo bullying, são fatores que podem contribuir significativamente para o desenvolvimento ou agravamento das dificuldades de comunicação (Pereira et al., 2021). É, por isso fundamental envolver os pais, cuidadores e educadores/professores, na promoção de ambientes que valorizem a escuta, o respeito mútuo e a expressão emocional saudável. Alguns programas de promoção de competências socioemocionais nas escolas, dinamizados pelos psicólogos escolares, têm mostrado eficácia na prevenção de problemas de saúde mental, bem como na melhoria do clima relacional entre os alunos (Pereira et al., 2021).

Podemos assim concluir que as dificuldades de comunicação entre os adolescentes, são um fenómeno complexo e multifatorial, que requer uma abordagem abrangente e contextualizada. A psicologia cognitivo-comportamental integrativa oferece um enquadramento eficaz para compreender e intervir nestas dificuldades, promovendo o desenvolvimento de competências relacionais fundamentais para uma vida adulta saudável e bem-sucedida. Numa era em que a conexão digital parece substituir a proximidade humana, é imperativo redobrar esforços para educar os jovens para a empatia, para o diálogo e para a verdadeira presença relacional.
Referências Bibliográficas:
Beck, J. S. (2011). Cognitive behavior therapy: Basics and beyond (2nd ed.). Guilford Press.
Orben, A., & Przybylski, A. K. (2019). The association between adolescent well-being and digital technology use. Nature Human Behaviour, 3(2), 173–182. https://doi.org/10.1038/s41562-018-0506-1
Pereira, A. I., Barros, L., & Almeida, I. (2021). Competências sociais e ajustamento em adolescentes portugueses: O papel da comunicação familiar. Análise Psicológica, 39(3), 343–356. https://doi.org/10.14417/ap.1845
Twenge, J. M. (2017). iGen: Why today’s super-connected kids are growing up less rebellious, more tolerant, less happy—and completely unprepared for adulthood. Atria Books.