Psicologia e Desenvolvimento Pessoal: uma Perspetiva Científica

A psicologia tem desempenhado um papel crucial no entendimento e na promoção do desenvolvimento pessoal, oferecendo ferramentas e abordagens baseadas na evidência para facilitar o crescimento individual. O desenvolvimento pessoal refere-se ao processo contínuo de autoaperfeiçoamento em várias áreas da vida, incluindo o desenvolvimento de competências emocionais, cognitivas e sociais. Este processo é frequentemente mediado por fatores psicológicos, como a motivação, a autorreflexão e a resiliência.

De acordo com Ryan e Deci (2000), a Teoria da Autodeterminação sugere que o crescimento pessoal está intrinsecamente ligado à satisfação de três necessidades psicológicas básicas: autonomia, competência e relação. A autonomia refere-se à capacidade de tomar decisões alinhadas com os valores e objetivos do indivíduo; a competência, relaciona-se com a sensação de eficácia ao realizar tarefas; e a relação tem a ver com o estabelecimento de conexões significativas com os outros. Quando essas três necessidades são atendidas, as pessoas tendem a experimentar maior bem-estar e motivação intrínseca para crescerem.

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Compreendendo a Perturbação da Personalidade Borderline

A Perturbação da Personalidade Borderline (PPB) é uma perturbação psicológica complexa e grave, caracterizada por padrões persistentes de instabilidade emocional, relacionamentos interpessoais conturbados, comportamentos marcadamente impulsivos e uma autoimagem distorcida.

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Perturbação de Asperger também é Autismo?

A Perturbação de Asperger é considerada uma Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) com uma expressão mais ligeira. Na última revisão do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V), a designação Síndrome de Asperger desapareceu do enquadramento das perturbações do neurodesenvolvimento, no entanto, o conceito continua a ser utilizado.

As crianças com Perturbação de Asperger apresentam dificuldades nas áreas da comunicação, da interação social e do comportamento que caracterizam as PEA. Porém não apresentam atraso significativo na linguagem e mostram um desempenho cognitivo normativo ou mesmo acima da média em algumas dimensões. Esta perturbação é bastante mais frequente do que o autismo clássico e mais prevalente no género masculino. De acordo com a Associação Portuguesa da Síndrome de Asperger (APSA), estima-se que, em Portugal, existam cerca de 40.000 indivíduos com esta condição.

Embora as causas da Perturbação de Asperger sejam desconhecidas, reconhecem-se alguns fatores de risco inespecíficos como a idade parental avançada, baixo peso á nascença, exposição fetal ao Valproato e ainda os fatores genéticos, já presentes à nascença, como acontece nas PEA em geral. Os genes que têm vindo a ser identificados, estão envolvidos no desenvolvimento cerebral, influenciando a neuro transmissão e a forma como é processada e descodificada a informação, não sendo ainda possível a prevenção destas perturbações.

Tipicamente, as manifestações mais frequentes são a dificuldade em manter um contacto visual natural e descontraído, utilizado de forma dinâmica em conjugação com outras formas de comunicação. Também a dificuldade em descodificar mensagens para além do conteúdo verbal explícito, e a sua relação com o tom de voz, a ironia, o humor, a expressão facial e corporal, pode estar presente nestes indivíduos, sendo estes sinais pistas de extrema importância no que diz respeito á inferência sobre o pensamento, as emoções e as intenções do outro.

Os indivíduos com Perturbação de Asperger, também referida como Perturbação do Autismo de Alta Funcionalidade, podem apresentar pouca iniciativa para a comunicação, ou ter uma comunicação muito focada nos seus tópicos de interesse e nos seus pontos de vista, com pouca oportunidade de participação de outras pessoas, pela dificuldade do indivíduo em avaliar o real interesse do outro no tema da conversa, que se pode tornar extensa e aborrecida para o interlocutor, pelos pormenores que podem não interessar à maioria das pessoas. Ao longo do tempo, os desafios das crianças e jovens com Perturbação de Asperger podem interferir no relacionamento e interação com o grupo de pares, no desenvolvimento e manutenção de amizades e posteriormente na sua integração em contexto de trabalho.

Estes indivíduos gostam de rotinas e lidam mal com alterações às mesmas, podendo demonstrar ansiedade e instabilidade comportamental. A sensibilidade é outro aspeto relevante nos indivíduos com Perturbação de Asperger, pois podem apresentar hipersensibilidade a sons que não afetam a maioria das pessoas. É também frequente algum grau de descoordenação motora que afeta a destreza e o envolvimento em algumas atividades. Parece haver também para estes indivíduos, uma maior prevalência de outras patologias do neurodesenvolvimento, como é o caso do Défice de Atenção, Perturbação de Ansiedade ou Depressão, entre outras.

O diagnóstico da Perturbação de Asperger é clínico, ou seja, é baseado na história e observação do comportamento do indivíduo, com recurso a avaliações de desenvolvimento e entrevistas estruturadas. Esta avaliação pode ser complexa e deverá ser cuidadosamente realizada por profissionais com experiência nesta área, para não haver o risco de se diagnosticar indivíduos cujo temperamento ou traços comportamentais possam induzir em erro, não cumprindo os critérios suficientes para o diagnóstico.

Em termos de intervenção psicológica na Perturbação de Asperger, esta deverá apoiar o indivíduo e a família a conseguirem um melhor ajustamento socio emocional, através do ensino e treino de competências sociais, da identificação e compreensão das suas próprias emoções e das dos outros e da promoção de interesses mais diversificados, de forma a melhorar o modo como o indivíduo lida com a mudança e o imprevisto, tendo em vista uma melhor gestão da ansiedade e comportamentos mais adaptativos. Existindo outras condições associadas, como por exemplo o Défice de Atenção, poderá ser recomendada a terapêutica medicamentosa específica, tanto para melhorar o controlo dos sintomas, como para potenciar o sucesso da intervenção psicoterapêutica.

Fontes:

 DSM-V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (Quinta edição) de American Pshychiatric Association.

Loureiro, A.P.S. (2011). Síndrome de Asperger: Estudo de caso 2010/2011. Projeto de Investigação. Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti.

Moreira, R.C.P. (2011). Representações dos docentes do 1º ciclo do ensino básico face a crianças com síndrome de asperger. Tese de Mestrado. Escola Superior de Educação Almeida Garrett.

Adolescência: regulação emocional e relacional

O desenvolvimento de competências sociais resulta da aprendizagem comportamental e relacional positiva. A adolescência, é um período da vida em que o relacionamento interpessoal sofre grandes alterações, em que se estabelecem novos relacionamentos e em que as relações com o grupo de pares assumem uma maior relevância.

Atualmente, a intervenção precoce na área da saúde mental juvenil, por meio de estratégias de prevenção e promoção da saúde e de estilos de vida saudáveis, assume cada vez mais importância. As normas internacionais orientam para uma maior preocupação com este assunto. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2001) determinadas perturbações mentais como a ansiedade ou a depressão, podem derivar da dificuldade de alguns jovens em lidarem com o stresse gerado pelas relações sociais. Assim, torna-se fundamental o desenvolvimento de competências socio emocionais.

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O psicólogo educacional

A psicologia da educação é o estudo científico dos processos psicológicos em contexto educacional. O psicólogo educacional desempenha um papel de extrema importância em contexto escolar ou académico, tendo em conta os inúmeros desafios que os tempos atuais oferecem.

A psicologia educacional é uma ciência aplicada com o rigoroso conhecimento dos métodos de investigação e avaliação em psicologia, e das formas de os utilizar na prática do dia-a-dia, em diferentes situações e de intervir e regular essa intervenção. Assim, a psicologia da educação serve para ajudar a alcançar objetivos em melhores condições, permitindo uma maior qualidade, eficácia, segurança, controlo, planeamento, flexibilidade, adaptabilidade e previsibilidade dos processos educacionais.

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Escola, brincar e aprender

A escola é parte integrante da vida da criança, e é em contexto escolar que ela passa muitas das horas do seu dia, em interações múltiplas, repletas de oportunidades de aprendizagem, socialização e crescimento.

A escolaridade obrigatória é um direito e um dever para todos os cidadãos com idades entre os 6 e os 18 anos. O Estado Português defende que os 12 anos de escolaridade são relevantes para o progresso social, económico e cultural da população e do país. Dentro da sala de aula, a criança aprende de forma estruturada as atividades e os conteúdos programáticos correspondentes ao ano que frequenta, no entanto, fora da sala de aula (e não menos importante), a criança experimenta diversas atividades e tem a possibilidade aprender através do brincar. Esta aprendizagem informal é de extrema importância a vários níveis, nomeadamente ao nível da socialização e desenvolvimento de competências relacionais.

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Escola, desempenho, socialização e (des)motivação

A Psicologia tem dado ao longo dos tempos um forte contributo para a melhoria do ensino e da aprendizagem em sala de aula. Sabe-se que o bem-estar emocional influencia positivamente o desempenho escolar, a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças e dos jovens.

O ensino e a aprendizagem estão intrinsecamente relacionados com fatores sociais e comportamentais do desenvolvimento, incluindo a cognição, a motivação, a interação social e a comunicação. Uma avaliação da saúde psicológica poderá ser de grande importância, não só em termos de prevenção, como no desenvolvimento de estratégias de intervenção, no sentido de melhorar o desempenho escolar e académico, as relações familiares e com os pares, e, consequentemente, a satisfação dos jovens com a vida. Promover o bem-estar emocional de crianças e jovens, irá certamente potenciar o sucesso da sua funcionalidade diária, bem como o sucesso do seu desempenho, tanto em sala de aula, como no restante ambiente escolar e não só…

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Praticar a empatia

As relações pessoais são essenciais ao ser humano. Com elas podem vir as maiores alegrias, aprendizagens e partilhas. No entanto, muitas vezes são também fonte de discórdia, tensão, mágoas ou sentimentos de incompreensão. A empatia permite-nos colocar no lugar do outro e melhorar significativamente as relações, as interações e a nossa própria satisfação com os outros e com a vida.

A empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, de “calçar os seus sapatos” e o perceber emocionalmente, com o objetivo de estabelecer uma ligação profunda e verdadeira. É a capacidade de nos identificarmos com alguém e partilhar os seus sentimentos e motivações. Só consegue ser empático aquele que desenvolveu a sua inteligência emocional e que, por isso, tem a capacidade de identificar, reconhecer e lidar com os seus sentimentos e com os dos outros.

Nem todas as pessoas conseguem ser espontaneamente empáticas, porém, se quiserem podem aprender a desenvolver essa competência. Há um conjunto de características que definem uma pessoa empática, como por exemplo ser curiosa, observadora, sensível, disponível, saber escutar, ser recetiva às emoções dos outros e ter uma boa capacidade de reflexão. Algumas pessoas são naturalmente mais empáticas que outras mas esta é uma competência que se pode aprender e desenvolver ao longo da vida.

Os três principais passos para o desenvolvimento da empatia são: saber praticar a escuta ativa, evitar “frases feitas” que servem para qualquer situação e tentar pensar e sentir como a outra pessoa. O primeiro passo é sem dívida saber ouvir. Focar-se na conversa sem distrações, adotar uma postura corporal que expresse o seu interesse no outro, evitando por exemplo, cruzar os braços, não interromper o discurso da outra pessoa, fazer apenas perguntas pertinentes, clarificar o que possa não ter entendido bem e ter um interesse real no que a pessoa lhe está a dizer.

Ainda que sejam ditas com a melhor das intenções e para tranquilizar a outra pessoa, frases “cliché” como “não te preocupes”, “vai correr tudo bem” ou “isso resolve-se”, não só não ajudam, como podem criar uma barreira na comunicação impedindo que a pessoa desabafe e expresse os seus sentimentos. Do mesmo modo, os conselhos, em determinados momentos não são recomendados uma vez que podem ser entendidos como um sermão ou uma verdade absoluta. Quando não sabemos o que dizer, o melhor mesmo é não dizer nada, nunca esquecendo que saber ouvir pode ser a melhor ajuda a dar naquele momento.

Pensar e sentir como a outra pessoa, é o terceiro passo para a empatia mas sem dúvida o mais difícil e desafiante. Colocarmo-nos no lugar do outro, perceber a sua perspetiva e procurar compreender e aceitar os seus sentimentos e emoções, pode exigir um enorme esforço da nossa parte. Tendemos a tirar conclusões ou fazer julgamentos sobre o que está a ser dito ou sobre o que está a acontecer, com base no nosso sistema de crenças, história de vida e expectativas. Porém, para sermos empáticos, é fundamental que deixemos de acreditar que os outros devem viver como nós e agir como achamos conveniente, aceitando a diferença, e, se possível, aprendendo com ela.

Regresso às aulas: uma ansiedade natural

A ansiedade é uma reação comum e até certo ponto funcional, na vida de qualquer indivíduo, podendo manifestar-se por comportamentos de fuga ou evitamento. É normal que cada um de nós, em vários momentos da nossa existência, experienciemos o sentimento de ansiedade, sempre que avaliamos cognitivamente uma situação ou um acontecimento que consideramos importante.

O regresso às aulas é para a maioria crianças e jovens, um momento aguardado com alguma ansiedade.  Corresponde ao reinício de rotinas e tarefas, interrompidas pelo período de férias. Principalmente as crianças do primeiro ciclo, tendem a revelar uma grande vontade de recomeçar a escola e de rever colegas e professores, o que de um modo geral, nem sempre é vivido com o mesmo entusiasmo por parte dos adolescentes. De qualquer modo, o momento de se confrontarem com novos professores, distribuição de turmas e horários, bem como novas disciplinas e novas matérias, pode ser sempre acompanhado de alguma ansiedade e outras emoções intensas.

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O trabalhador do século XXI

A psicologia do desenvolvimento e gestão de carreiras em contexto organizacional, tem como objeto de estudo a relação entre o individuo e a organização onde trabalha. Os interesses, a produtividade e o proveito mútuo, são tópicos relevantes a ter em conta, de modo a sustentar o desenvolvimento dos indivíduos, dar resposta às necessidades das organizações e procurar um compromisso entre a estratégia organizacional e as aspirações de cada trabalhador.

Do trabalhador do século XXI espera-se que reúna um conjunto de características potenciadoras de uma carreira bem-sucedida. Em primeiro lugar deverá ter flexibilidade cognitiva e emocional, necessária para a mudança do seu campo de atuação e adaptação às necessidades do mercado. A criatividade, ou seja, a forma como o individuo lida com a informação obtida, de forma inovadora e “fora da caixa”, pode ser mais valorizada do que os seus conhecimentos propriamente ditos, uma vez que o que parece ser mais significativo no tratamento da informação é a originalidade, a imaginação e a capacidade de “pensar diferente”. Outra característica importante é a capacidade para fazer formação ao longo da vida. A evolução da tecnologia e o aumento de informação, obrigam a constantes atualizações, de modo a que se possam abraçar novos desafios. O individuo deve também promover o autoconhecimento, de forma a poder direcionar a sua ação no sentido da realização pessoal e da competência profissional, adequando as suas características individuais ao mercado de trabalho, ao longo do curso de vida. A cultura geral e o conhecimento eclético são fundamentais para o processo de construção da identidade e adaptação aos diversos ambientes e formas de trabalho.

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