As crianças que apresentam comportamentos muito difíceis, cujos pais desesperam e vivem na angústia de não conseguirem lidar tranquilamente com os seus filhos, podem ter melhorias significativas se procurarem ajuda psicológica. Não é necessário que a criança tenha dificuldades ao nível de uma perturbação neuropsiquiátrica, para que possa ou deva ser alvo de intervenção psicológica.
O processo de desenvolvimento infantil é caracterizado por marcos ou etapas, nas quais determinados comportamentos são esperados, a partir de uma certa idade. Na maioria das vezes, o que hoje é uma comportamento complicado de uma criança, amanhã já não o será. O tempo faz com que tudo possa mudar. Aqui, tempo refere-se à mudança da criança de uma etapa do desenvolvimento para outra, em que adquire novas competências, que a vão ajudar a entender, colaborar e autorregular-se. Deste modo, o psicólogo que trabalha em contexto pediátrico deve assumir sempre uma posição desenvolvimentista.
Não obstante, o apoio psicológico durante a infância pode ser uma necessidade ou apenas um aliado, que irá facilitar a por vezes complexa tarefa de criar um filho, conforme os pais estejam mais ou menos preparados para o fazerem. Compete assim ao psicólogo, a função de ensinar aos pais o que esperar acerca dos comportamentos da infância, sobre como as crianças aprendem, sobre como podem os pais e educadores/cuidadores, encorajar a criança a ter e manter comportamentos consistentes e cooperativos, de acordo com a fase do desenvolvimento em que esta se encontra. Crianças cujos comportamentos estão na maioria das vezes em conformidade com o que é esperado para a sua faixa etária, terão certamente maior facilidade na aquisição das competências e no desenvolvimento das habilidades necessárias para virem a ser adultos adaptados e felizes.
Uma criança que apresenta frequentemente comportamentos de oposição, se estes não forem modificados, tenderá mais tarde a ter dificuldades de adaptação à sua entrada para a escola. Os comportamentos perturbadores, para além de terem um impacto negativo no processo de socialização, podem levar à colagem de rótulos que fazem com que a criança possa ser vista como diferente, o que não é de todo recomendável para uma boa integração. Este tipo de crianças que apresentam comportamentos disruptivos deverão ser alvo de uma avaliação cuidada no que diz respeito ao seu funcionamento global, não esquecendo o funcionamento do contexto familiar. O psicólogo/a tem ao seu dispor um leque de técnicas e estratégias eficazes para a gestão dos comportamentos desadaptativos das crianças. O treino parental é um pilar importante para a abordagem de comportamentos negativos e de desobediência.
Os pais geralmente são ensinados, tanto a prestarem atenção aos comportamentos positivos dos seus filhos, como a fornecerem à criança instruções eficazes, na estruturação de um sistema de consequências, que vai incentivar ao comportamento cooperativo e adequado. Os sistemas de economia de fichas são utilizados com frequência e sucesso na promoção dos comportamentos desejados relativos ao funcionamento geral, bem como no desempenho relacionado com a gestão de uma condição pediátrica (e. g. enurese). As crianças mais velhas, podem beneficiar da intervenção cognitivo-comportamental que ensina e treina, por exemplo, estratégias de resolução de problemas. Por fim, a evidência suporta a terapia familiar estruturada, como uma boa opção para ajudar a melhorar o comportamento da criança, apoiar os pais e tornar a vivência familiar mais tranquila e feliz.