
Sendo as perturbações de ansiedade das mais prevalentes no universo infantojuvenil, a fobia social é um tipo de perturbação com grande expressão na adolescência, quer pelas suas especificidades, quer pelas características do desenvolvimento típicas desta faixa etária.
A ansiedade social caracteriza-se por um medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais e de desempenho, nas quais o jovem está exposto a pessoas com as quais não tem proximidade nem à-vontade. Nessas situações, o jovem sente-se observado e avaliado e teme ser humilhado, envergonhado ou criticado. Nas situações em que tem que se expor, o adolescente sente-se muito ansioso embora possa reconhecer que tal sentimento é irracional e excessivo. Em alguns casos, o facto de ter que se expor, por exemplo perante a turma para a apresentação oral de um trabalho, o jovem pode mesmo ver escalar a sua ansiedade para um ataque de pânico. O medo da avaliação dos outros é normativo na adolescência, contudo quando esse medo impede a funcionalidade do jovem e lhe causa sofrimento, deverá ser alvo de avaliação e intervenção.

Sempre que um adolescente experimenta este tipo de medo e isto não está relacionado com outras patologias como por exemplo esquizofrenia, perturbação do abuso de substâncias ou uma perturbação do desenvolvimento, poder-se-á dizer que sofre de ansiedade social. Um adolescente com ansiedade social clinicamente significativa tende a evitar ou a antecipar com mal-estar as situações sociais ou de desempenho, o que pode interferir consideravelmente com as suas rotinas diárias. Em termos cognitivos, os sentimentos de embaraço, humilhação, de avaliação negativa ou de rejeição, podem ser extremamente perturbadores e inibidores da funcionalidade do jovem. Este tipo de sentimentos conduzem habitualmente ao aparecimento de sintomatologia ansiosa, que em alguns casos pode escalar para um ataque de pânico.

Os adolescentes com este tipo de perturbação tendem ter pensamentos de ineficácia e incompetência para lidarem com situações sociais, bem como expectativas negativas e padrões excessivamente elevados para o desempenho social, que se refletem em pensamentos como “tenho que parecer sempre inteligente e interessante” ou “se perceberem como eu sou realmente vão rejeitar-me”. Tendem assim a antecipar de forma negativa qualquer contacto social, focando-se no fracasso e na magnificação das consequências negativas da sua avaliação pelos outros.

A ansiedade social gerada pelos pensamentos negativos traduz-se em sintomas somáticos, sendo os mais frequentes as palpitações, os tremores, a tensão muscular, sensação de aperto no peito, a falta de ar, o rubor, a sudação excessiva ou as dores de cabeça. Sendo alguns destes sintomas claramente visíveis, muitos jovens vêm os seus níveis de ansiedade aumentados pela preocupação de que os outros se apercebam do seu estado, gerando um círculo vicioso que potencia a escalada dos sintomas. Das situações mais frequentemente temidas pelos jovens ansiosos destacam-se o ler em voz alta em frente da turma, ir ao quadro, realizar performances musicais ou desportivas, falar com adultos, juntar-se a uma conversa, fazer testes (orais ou escritos), responder a perguntas do professor na aula ou participar em festas ou atividades, entre outras.

Os adolescentes com ansiedade social evitam os encontros familiares mais alargados, evitam atender o telefone ou ir à porta, assim como evitam também ir fazer recados ou fazer pedidos em restaurantes. Podem apresentar algumas dificuldades em concretizar desafios normativos da idade como por exemplo iniciar um namoro. Os défices que apresentam nas competências sociais levam por vezes ao isolamento e a um sentimento de solidão. Os adultos tendem a descreve-los como sossegados e tímidos. Estes jovens tentam não atrair sobre si as atenções, falam pouco e rápido e evitam manter o contacto visual.

A ansiedade social pode comprometer seriamente o desempenho académico dos jovens, dificultar os seus relacionamentos interpessoais e ter igualmente um impacto negativo na sua autoestima e qualidade de vida. O sofrimento psicológico destes jovens é intenso e experimentem grande desconforto sempre que têm que se expor perante os outros, quer em situações de avaliação, quer em acontecimentos sociais ou de convívio. O ensino e treino de competências sociais é um recurso que os poderá beneficiar, diminuir o seu sofrimento emocional e aumentar a sua satisfação com a vida. O psicólogo dispõe de um conjunto de “ferramentas” que ensina e treina com o adolescente, em ambiente controlado e com monitorização. Aos poucos, o jovem vai aprendendo a utilizar essas “ferramentas”, específicas para cada contexto/situação problemática. No final da intervenção espera-se que o adolescente tenha adquirido um conjunto de competências que lhe permitem expor-se, ser avaliado, conviver e vivenciar uma fase de descoberta e de interações tão importante para a formação da sua personalidade – a adolescência.
