A criança e o papel da escola na socialização

A socialização consiste num processo interativo essencial para o desenvolvimento humano. Através da socialização, a criança satisfaz as suas necessidades básicas e assimila os aspetos culturais do seu contexto, contribuindo assim para o desenvolvimento reciproco de si e da sociedade. O processo de socialização tem o seu início no nascimento e mantém-se ao longo de todo o ciclo de vida de um indivíduo.

As mudanças que têm vindo a ocorrer nas últimas décadas, como o desenvolvimento tecnológico, as alterações das constelações familiares, a quantidade de informação disponível e a facilidade de comunicação, entre outros aspetos, têm vindo a modificar o modo como o processo de socialização ocorre. Apesar de todas as modificações observadas na vida moderna, a escola continua a desempenhar um importante papel na socialização infantil, na medida em que contribui fortemente para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças, com grande impacto no seu futuro. É em contexto escolar que se adquirem os modelos de aprendizagem e é também neste contexto que se inicia a construção da identidade e do sentido de pertença ao grupo. É assim, entre a escola e a família que a criança se vai construindo enquanto indivíduo, à medida que adquire competências de linguagem, expressão afetiva e valores sociais, a par dos conteúdos programáticos adequados a cada fase do seu desenvolvimento.

Segundo alguns autores a socialização integra 3 processos: mental, afetivo e comportamental. O primeiro refere-se á aquisição da linguagem, dos valores, das normas, dos costumes e das aprendizagens escolares. O processo afetivo da socialização é a base mais sólida do desenvolvimento social da criança, sendo que a empatia, o afeto e o apego se constituem como a forma de união ao seu grupo social, sendo também os mediadores de todo o desenvolvimento socio emocional. O processo comportamental refere-se à aprendizagem dos comportamentos socialmente desejáveis e ao evitamento dos comportamentos considerados antissociais, através do desenvolvimento da moral e do raciocínio. Assim, o processo de socialização tem implícita a aquisição de competências sociais, aprendidas não só em contexto familiar mas principalmente em contexto escolar, onde são experienciadas as relações entre pares e entre hierarquias.

O desenvolvimento moral é conseguido por meio da construção e da interiorização dos valores que regem a sociedade em que a criança está inserida, de modo a que os seus comportamentos sejam concordantes com esses valores sociais. Para isso a criança tem que aprender a autorregular-se para que possa agir de acordo com o esperado. Segundo Piaget, é por volta dos 6 ou 7 anos que a criança atinge a sua autonomia moral e assim, a obediência á autoridade, o cumprimento das regras e dos deveres passa para uma fase de reciprocidade, em que o contrato e a negociação ganham força. O cumprimento das regras deixa de ter a ver com a autoridade externa e passa a estar relacionado com convenções acordadas entre indivíduos, podendo assim ser modificadas.

A entrada para a escola traz á criança um acumular de experiencias ricas e diversificadas ao relacionar-se com múltiplas pessoas com diferentes graus de conhecimento (ex. pares, professores). Estabelecem-se assim relacionamentos igualmente diversificados, á medida que a criança vai sendo imersa num contexto com regras próprias, em parte alheias ao contexto familiar de onde esta deriva. A escola constitui-se como meio privilegiado de socialização, fornecendo á criança não só o conhecimento científico mas também a possibilidade de estabelecer relações afetivas, de participar em situações sociais e de desenvolver competências comunicacionais, essenciais para o desenvolvimento da sua identidade social.

No processo de socialização, os agentes sociais têm a seu cargo a integração da criança no grupo, bem como a satisfação das suas necessidades. De entre esses agentes sociais destacam-se os pais, outros familiares, professores e colegas. Deste modo, o processo de socialização depende não só da qualidade dessas interações, mas também das características individuais de cada criança. Assim, e tendo em conta que é através do desenvolvimento das relações com os outros e com o meio que se aprendem e desenvolvem as competências sociais, necessárias ao saudável crescimento de qualquer ser humano, é através do contacto com os outros que a criança aprende a refletir sobre as práticas que deve adotar e sobre aquelas que deve melhorar, sendo isto fundamental para uma boa adaptação à vida em sociedade.

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