Saúde mental no masculino

A doença mental no masculino é um tema particularmente importante, na medida em que o estigma que ainda hoje está associado a estas questões, pode fazer com que muitos homens evitem ou adiem a procura de ajuda, com consequências potencialmente graves na sua funcionalidade e na sua satisfação com a vida.

Felizmente, cada vez mais o estigma relacionado com as perturbações do foro psicológico ou psiquiátrico, tem vindo a ser desconstruído, no sentido de “normalizar” a avaliação e o acompanhamento psicológico, aos homens que possam enfrentar dificuldades, nesta área da saúde em geral, mas também por desafios específicos do género. Contudo, estas dificuldades, que por vezes são banalizadas ou ignoradas, levam a que a tomada de consciência e a procura de ajuda sejam adiadas ou até mesmo evitadas. As expectativas sociais, estigmas culturais e atitudes em relação à vulnerabilidade e à procura de apoio psicológico por parte dos homens, constituem-se como uma “barreira” por vezes difícil de transpor.

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“Donas de casa” e saúde mental

São muitas as variáveis que podem afetar a saúde mental das mulheres. Há especificidades biológicas e, principalmente, perspetivas sociais que orientam para uma inegável diferença de género, no que diz respeito à incidência e prevalência das perturbações psiquiátricas.

Hoje em dia, exercer a atividade de ”dona de casa”, ou seja, a mulher dedicar-se à casa e à família em exclusividade, sem desempenhar uma atividade profissional e remunerada, pode coloca-la numa situação de vulnerabilidade, por diversas ordens de razão. Podem haver fatores de risco para o desenvolvimento de psicopatologia, decorrentes da multiplicidade de papéis desempenhados e das inúmeras situações ansiogéneas às quais estas mulheres, nesta condição, poderão estar mais propensas. Estas vulnerabilidades relacionais, associadas aos processos biológicos (Ex. menarca, gravidez e menopausa) e potencialmente agravadas por questões sociais e económicas, como por exemplo a cítica, o isolamento social, a incompreensão, a violência doméstica, a dependência financeira ou a pobreza, podem comprometer a saúde mental destas donas de casa.

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Perturbação Dissociativa da Personalidade

A Perturbação Dissociativa da Identidade (PDP) surge recentemente na literatura e envolve uma controvérsia associada principalmente à dificuldade na definição do termo dissociação. Entre outras formas, a dissociação pode ser descrita como uma falha na integração de dois ou mais diferentes sistemas de ideias e funções que constituem a personalidade.

O fenómeno dissociativo movimenta-se num espectro que vai desde a dissociação não patológica (ex. sonhar acordado ou estar intensamente focado numa tarefa) até à Perturbação Dissociativa da Personalidade, esta sim uma patologia do foro mental, habitualmente associada a experiências traumáticas. O processo dissociativo implica a alteração de um estado de consciência que não é organicamente induzida. Ou seja, envolve uma alteração temporária ou a separação de processos mentais que em situação normal estariam integrados. Segundo Bultler (2004), a natureza dos processos dissociativos normativos cinge-se a uma intensa concentração e envolvimento cognitivo em alguns aspetos da consciência, em detrimento de outros componentes. O grau de dissociação oscila num continuum desde os processos normativos e transitórios, decorrentes do dia-a-dia, até aos processos de dissociação patológicos, classificados como crónicos e severos.

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Depressão depois dos 65

Podemos definir a “depressão tardia” como o aparecimento de sintomatologia depressiva, clinicamente significativa, depois dos 65 anos de idade. Este estado depressivo está muitas vezes associado à presença de doença física ou neurológica, mas também às mudanças decorrentes da situação de reforma.

As queixas somáticas mais frequentes nos doentes mais velhos são as dores de cabeça, dores reumatológicas ou músculo-esqueléticas, bem como a sintomatologia gastrointestinal. Feito o despiste de doença fisiológica que explique a referida sintomatologia, a persistência dos sintomas pode ser explicado pela depressão, se combinada com outros sintomas típicos desta doença. Estes sintomas incluem a tristeza prolongada e profunda, sentimentos de vazio, dificuldade em retirar prazer de atividades anteriormente prazerosas, falta de energia, dificuldades de sono, alterações do apetite, choro recorrente, sentimentos de culpa ou de inutilidade, entre outros.

Os fatores de risco para a depressão no idoso prendem-se com questões de género, sendo mais prevalente nas mulheres do que nos homens. No entanto, outros fatores de risco para o desenvolvimento de patologia depressiva podem estar relacionados com o sistema endócrino ou o sistema vascular. O diagnóstico de doenças médicas não psiquiátricas, nomeadamente doença oncológica, demência, doenças cardiovasculares, hipotiroidismo ou artrite, entre outras, constitui-se também como um fator de risco relevante para o desenvolvimento da depressão. O tipo de personalidade do indivíduo pode também influenciar a propensão para estados depressivos, bem como as experiências de vida e o stresse crónico a que está ou esteve sujeito (familiar, social ou económico).

Alguns fatores psicológicos podem também constituir um risco acrescido de depressão. A não-aceitação do envelhecimento, a dificuldade em lidar com a imagem corporal, a redução da atividade ou dos interesses, o apego excessivo aos bens materiais, a incapacidade em lidar com a morte dos entres queridos (que pode levar a processos de luto patológico), a dificuldade em enfrentar a reforma e a consequente redução da exposição social e por vezes até mesmo o isolamento, são fatores de risco muito significativos para o desenvolvimento de sintomatologia depressiva grave.

Associada aos múltiplos fatores de risco anteriormente mencionados, junta-se a frequente dificuldade que alguns mais velhos têm em fazer um balanço de vida positivo, em aceitar as alterações das relações com alguns familiares muito significativos (ex. filhos e netos por vezes distantes) e a dificuldade em lidar com expectativas de reciprocidade ou dependência económica, desses mesmos familiares, que por vezes podem ficar muito aquém do idealizado.

As pessoas mais velhas tendem a dar relevância às adversidades (maiores ou menores) que as preocupam, focando-se mais no que perderam do que naquilo que ainda têm e podem conseguir. A depressão nesta faixa etária parece estar frequentemente sub-diagnosticada e sub-tratada, principalmente ao nível dos cuidados de saúde primários. À semelhança das outras faixas etárias, a depressão no idoso pode ter vários níveis de gravidade, podendo ser ligeira, moderada ou grave (depressão major). De um modo geral, a depressão ligeira pode ser tratada com sucesso apenas com o recurso à psicoterapia, no entanto, a depressão moderada ou grave, necessita muitas vezes da combinação de psicoterapia com medicação (antidepressivos) como forma de intervenção. A terapia cognitivo-comportamental, combinada ou não com a medicação, tem-se revelado muito eficaz no tratamento da depressão tanto no idoso como em qualquer outra faixa etária.

A depressão não é uma consequência natural do envelhecimento. Os idosos saudáveis, independentes e principalmente ativos, apresentam uma taxa de prevalência de depressão muito inferior à da população em geral. Porém, juntamente com outras problemáticas que possam existir, a depressão reduz consideravelmente a qualidade de vida da pessoa idosa pode aumentar de forma significativa o risco de suicídio. Deste modo torna-se fundamental ficar atento aos sinais e agir de forma precoce. Uma boa e atempada avaliação psicológica e uma adequada intervenção, pode evitar consequências funestas e tratamentos mais complexos e prolongados.

Volte a sorrir, procure apoio! Procure a Sua Psicóloga!

A senhora salvou-me a vida…

A Paula é uma mulher de 35 anos que está em acompanhamento psicológico há cerca de um ano. O diagnóstico inicial foi uma depressão major, com encaminhamento para psiquiatria, tendo sido imediatamente medicada, ao mesmo tempo que iniciou intervenção psicológica cognitivo-comportamental. A Paula tinha uma ideação suicida muito forte, tendo já havido uma tentativa prévia. Não conseguia trabalhar, não conseguia cuidar da sua filha de 3 anos…

A Paula tem sido muito cooperante e estabeleceu uma forte relação terapêutica. Não falha uma consulta e faz todos os “trabalhos de casa”. A melhoria é significativa, embora haja ainda um caminho a percorrer. Há dias, em sessão, verbalizou: “Não sei o que seria de mim sem a Dra., a senhora salvou-me a vida“…

O mérito é todo dela!

Não deixe que o preconceito ou os estereótipos a/o impeçam de pedir ajuda. Não deixe que um impulso a/o ponha em risco. Cuide de si!

Violência conjugal

Algumas pessoas, tipicamente mulheres, permanecem numa relação conjugal violenta em que são vítimas, sem que muitas vezes tenham a consciência dessa sua condição. Deste modo, acabam por não recorrer aos organismos destinados a intervir e a fazer cessar os abusos, mantendo o sofrimento e correndo riscos relacionados com a sua integridade física e moral ou até com a própria vida.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência conjugal afeta entre 15% a 70% da população mundial, na grande maioria mulheres, tendo os homens como agressores. Em Portugal, muitas mulheres são também elas vitimas deste tipo de violência, e, segundo dados da Associação Portuguesa de Apoio á Vítima (APAV), cerca de 76% dos crimes referenciados em 2021, são de violência doméstica, nos quais a violência conjugal se insere, tendo sido registados perto de 20 mil casos, entre eles 30 homicídios consumados. Segundo o relatório anual desta associação, no ano passado houve uma média diária de 37 vítimas, das quais 25 foram mulheres. O perfil da mulher vítima de violência conjugal corresponde a uma média de idade de 40 anos, é transversal a todos os níveis de ensino e os abusos são perpetrados na sua maioria pelo cônjuge ou companheiro.

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Os comportamentos autolesivos na adolescência

Chamamos comportamentos autolesivos a todos os comportamentos diretos que causem lesões físicas ligeiras a moderadas, feitas sem intenção suicida consciente, e que acontecem na ausência de um estado de psicose ou de incapacidade intelectual organicamente determinada.

A adolescência é caracterizada por ser uma fase de inúmeros desafios. Desde a adaptação a um novo corpo e uma nova aparência, ás espectativas de novas experiências e relacionamentos, o adolescente vive esta fase da sua vida numa ambiguidade, entre o medo e o desejo de crescer. Muitas vezes, esta etapa do desenvolvimento humano trás consigo angustia e sofrimento emocional. As variações do humor e os sentimentos características desta fase de descoberta mas também de dúvida e insegurança, podem conduzir os jovens a momentos de rigidez do pensamento e de razão absoluta, intercalados com outros de insegurança e infelicidade extrema.

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Adolescência e suicídio

Parece haver evidência científica de que o suicídio na adolescência tem vindo a aumentar nos últimos anos, sendo esta a segunda causa de morte entre os jovens nos países ocidentais a seguir aos acidentes rodoviários. Quer o acto suicida, quer a ideação suicida, são sinais de psicopatologia grave e não devem ser desvalorizados.

Os pensamentos de morte constituem-se como um fator de risco para o suicídio, no entanto, nem sempre existe ideação suicida anterior ao acto de suicídio. O suicídio pode ocorrer num ato impulsivo sem que tenha havido um planeamento anterior. Por outro lado, os comportamentos de risco como por exemplo o conduzir embriagado, podem estar associados á ideação suicida. A dolorosa luta interna entre a vontade de morrer e o desejo de permanecer vivo causa um imenso sofrimento psicológico ao individuo, que num impulso poderá deitar tudo a perder. As tentativas de suicídio na adolescência têm maior prevalência em jovens entre os 14 e os 17 anos (Novick, Cibula & Sutphen, 2003) e os rapazes parecem ser os mais vulneráveis. Felizmente, em cada 10 a 20 tentativas de suicídio, apenas uma acaba em morte, no entanto, os danos que causam no jovem e na sua família, podem ser muito perturbadores.

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Adolescentes e comportamentos auto lesivos: porquê?

Adolescência

Designam-se por comportamentos auto lesivos todos os comportamentos diretos que causam lesão física ligeira a moderada, feita sem intenção suicida consciente, e que acontece na ausência de psicose ou incapacidade intelectual organicamente determinada.

Se cada cabeça é um mundo, no caso dos adolescentes, podem mesmo ser vários mundos. As variações do humor e dos sentimentos, características desta fase de ambiguidades e descobertas, podem fazer com que os jovens se sintam ora os “donos do mundo”, cheios de razão e de verdades absolutas, ora os seres mais infelizes na face da terra, cheios de dúvidas e de incertezas. Estas oscilações podem ter um impacto significativo no bem-estar emocional dos jovens ou na perturbação do mesmo. Continue a ler “Adolescentes e comportamentos auto lesivos: porquê?”

Perturbações mentais comuns: o perigo da banalização

Ansiedade

Quando falamos de Perturbações Mentais Comuns referimo-nos a duas categorias principais de diagnóstico: as perturbações de Ansiedade e as perturbações Depressivas. Designá-las como comuns prende-se com o facto de serem as perturbações do foro mental com maior expressividade na população em geral. A sua elevada prevalência apresenta um grande impacto no funcionamento dos indivíduos por elas afetados, sendo que a gravidade e duração dos sintomas é variável, indo de ligeiros a graves e de se manterem por meses ou anos, podendo em muitos casos atingir a cronicidade.

Quer as perturbações depressivas, quer as perturbações de ansiedade representam condições de saúde diagnosticáveis e diferenciam-se dos sentimentos de tristeza, tensão ou medo que qualquer pessoa pode experimentar de forma normativa, algumas vezes ao longo da vida. Destes dois tipos de perturbação, a depressão parece ser por muitos a mais temida e incapacitante ao nível da funcionalidade do indivíduo, estimando-se uma prevalência de mais de 4% ao nível da população mundial e de cerca de 8% na população portuguesa em 2014. No entanto, as perturbações de ansiedade apresentam uma maior prevalência a nível nacional (cerca de 17% em 2014). Voltando às perturbações depressivas, embora estas possam afetar indivíduos de todas as faixas etárias e de vários níveis socioeconómicos, a pobreza, o isolamento, o desemprego, uma situação de doença física, uma separação ou a morte de um ente querido, são exemplos de fatores de risco para a depressão.
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