
Numa altura em que a palavra de ordem é isolamento, no sentido de mantermos distanciamento pessoal dos outros, importa entender o isolamento na adolescência. Muitos jovens, ao longo da difícil tarefa de crescer e se tornarem adultos, passam por momentos mais ou menos dolorosos em que por vezes se isolam, tornando esses momentos um tanto ou quanto perturbadores para os que com eles coabitam.
Comum no período da adolescência, o isolamento dos jovens geralmente ocorre em relação aos seus familiares mais diretos (pais) mas por vezes também em relação ao seu grupo de pares e à vida social em geral. A razão pelas quais o adolescente se isola pode ser de várias ordens. Por um lado, pode haver uma necessidade de se diferenciar em relação aos outros e de quebrar barreiras de autoridade que sente em relação a pais e professores. Mais do que isolamento, trata-se de um afastamento, por vezes marcado pela rebeldia, em que o jovem procura ter novas experiências, quebrar regras e testar limites. Por vontade própria relacionada com traços de personalidade, pressão dos pares ou por necessidade de se sentir parte integrante de um determinado grupo, o adolescente tende a afastar-se das ideias, opiniões e recomendações dos adultos significativos e fecha-se no seu mundo, passando a viver centrado em si em busca do auto-conhecimento e da autonomia.

Esta atitude por parte dos jovens é habitualmente muito perturbadora para os pais, que vêm muitas vezes este isolamento do seu filho como falta de amor e de respeito, o que pode causar graves dificuldades na comunicação entre os vários elementos da família e um enorme sofrimento emocional. No entanto, este é um processo normativo do desenvolvimento e que deverá ser vivido com tolerância e atenção, de parte a parte. Dentro de uma determinada proporção, em que o funcionamento individual do jovem e da família não sofrem alterações significativas, o tempo poderá ser a solução. Todas as fases são passageiras e manter uma comunicação adequada com o adolescente pode ser o mais indicado. Mostrar interesse pelas atividades e escolhas dos filhos poderá também ser uma boa estratégia para os pais lidarem com esta situação e não permitirem que se forme uma barreira entre ambos. Por outro lado, os pais deverão manter-se atentos a quaisquer manifestações ou comportamentos desviantes, ao mesmo tempo que deverão manter o equilíbrio entre o estabelecimento de regras e limites e a aquisição de autonomia por parte dos filhos.

O adolescente, com a sua ambivalência tão característica, para adquirir autonomia pode sentir necessidade desse isolamento em relação às suas figuras de referência. Porem, esse afastamento pode levar a um certo sentimento de culpa e ao questionamento do amor parental. É aqui que a compreensão deste fenómeno por parte dos pais assume extrema importância. Se por um lado deverão “deixar voar” por outro lado, deverão garantir que o jovem sabe que eles estão lá fisicamente, como “porto de abrigo”, para quando o adolescente necessitar de apoio. Mais tarde, o jovem irá entender que a autonomia é perfeitamente compatível com o afeto parental e que esse, nunca esteve em causa. Para isso, deverão os pais deixar sempre bem claro que os motivos de discórdia e aquilo de que não gostam são as escolhas ou os comportamentos dos filhos, e nunca eles mesmos.

Assim sendo, este isolamento pode ser bastante adaptativo e benéfico na vida dos jovens mas com conta, peso e medida. Como em tudo na vida, também o isolamento, se excessivo, e alargado a todos os grupos nos quais o jovem se insere, poderá ser muito prejudicial e levar a situações de depressão, solidão, dificuldades nas relações interpessoais e de adaptação à sociedade e ao mundo real. Para evitar situações extremas e de mais difícil resolução, os pais deverão manter-se atentos às mudanças bruscas no humor, comportamento e quotidiano dos seus filhos, no sentido de identificarem as dificuldades para as quais deverão agir. Se não se sentirem aptos ou com as ferramentas necessárias para lidarem com a situação de isolamento do seu filho adolescente, os pais deverão procurar ajuda especializada, no sentido de prevenirem a disfunção familiar e o sofrimento emocional.
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